Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Por que você deveria pensar em acessibilidade antes de envelhecer

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A verdade é que, seja ou não uma pessoa com deficiência, provavelmente vai precisar de acessibilidade ao longo da vida para ter qualidade durante os anos em que estiver neste planeta.

Você pode discordar, afinal, é comum que a acessibilidade seja uma pauta restrita a alguns grupos, como pessoas com deficiência e pessoas gordas. Além disso, quando somos jovens, sentimos que somos inabaláveis. Em certo sentido, o mundo está a nosso favor. No entanto, não será sempre assim... e caso nunca tenha parado para refletir sobre isso, desejo boas vindas a esta reflexão.





Acessibilidade e suas dimensões

De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146), acessibilidade pode ser entendida como "a possibilidade e a condição de alcançar, com segurança e autonomia, espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público".

Em resumo: acessibilidade é possibilitar acesso com equidade, ajustando os desequilíbrios sociais, para que todas as pessoas possam viver em sociedade de forma plena e inclusiva.

Vamos aos exemplos da vida real: muitas pessoas com deficiência não conseguem frequentar espaços públicos por falta de acessibilidade, como a ausência de rampas para facilitar a entrada de cadeirantes, ou a falta de piso tátil nas calçadas para pessoas com deficiência visual, entre outras situações semelhantes.





É comum entendermos a acessibilidade quando nos referimos ao espaço físico, mas ela não se restringe a isso. Existem várias dimensões da acessibilidade, e é por isso que é importante pensar sobre isso antes de chegar aos 80 anos.

As dimensões da acessibilidade podem ser:
  • atitudinal, referente ao comportamento e preconceito em relação às pessoas que necessitam de esforços para inclusão;
  • arquitetônica, relacionada ao espaço físico;
  • programática, que diz respeito a leis e políticas para acessibilidade;
  • metodológica, focada em tornar o ensino e a educação acessíveis;
  • instrumental, referente ao uso de ferramentas e recursos;
  • comunicacional, relacionada à língua e às formas de possibilitar relacionamentos interpessoais;
  • natural, que aborda as barreiras impostas pela própria natureza.

Viver com qualidade é conquistar acessibilidade

Assumir abertamente que em algum momento precisará de acessibilidade é aceitar a própria vulnerabilidade. Todos vamos morrer, esse é um fato. Mas o que acontece até lá?

Essa é uma reflexão profunda que me ocorreu ao ler o livro "A morte é um dia que vale a pena viver", escrito por Ana Cláudia Arantes, médica e ativista pelo cuidado. Outra pensadora que surge ao escrever este artigo é Brené Brown, do TEDx "O poder da vulnerabilidade" e do clássico de autoajuda "A coragem de ser imperfeito".





A expectativa de vida é um dado que frequentemente vemos nas notícias. Se fizer uma busca rápida na internet, verá que, no Brasil, a média é de aproximadamente 77 anos, e nos países mais desenvolvidos esse número pode chegar a pouco mais de 80 anos.

E, claro, isso é ótimo! Afinal, o que mais podemos desejar além de viver até os 80 anos? Ok, preciso ser honesta: existem várias coisas que eu gostaria mais do que viver oito décadas. No momento, a principal delas é viver com qualidade. Considerando que sou uma pessoa com deficiência (PCD), isso está intrinsecamente relacionado à acessibilidade.

Mesmo que em algum universo paralelo exista uma versão minha que não seja uma pessoa com deficiência, tenho certeza de que, nesse outro universo hipotético, continuo desejando acessibilidade para viver com qualidade.





Isso porque, aqui ou em outra linha espaço-temporal, posso ser uma mãe: grávida por nove meses, enfrentando transportes públicos inacessíveis, ou empurrando carrinhos por calçadas desniveladas que podem nos colocar em risco.

Também nesta ou em outra vida, posso chegar aos 80 anos. E os, ao me ver, jovens se perguntarão: por que os idosos insistem em sair de casa? Ou, ao chegar em um restaurante, atendentes podem se estressar por eu não saber como ler um QR Code e precisar solicitar um cardápio físico.

Talvez um dia eu venha a ter um cliente importante que se comunique apenas por LIBRAS, e minha falta de conhecimento em relação à inclusão faça com que eu perca muito dinheiro.
Estou falando de uma versão minha em outros universos, mas sem dúvidas esses exemplos são realidade de inúmeras pessoas exatamente neste momento. É por isso que nós precisamos fazer a pergunta que vem a seguir.





Como construir um mundo mais acessível a partir de agora?

O que posso fazer hoje, neste universo, para garantir mais acessibilidade em qualquer lugar e em qualquer linha espaço-temporal? A vida vai acontecendo de maneira imprevisível, e dentro desses cenários, inúmeras situações podem colocar você ou as pessoas que você ama em contato com a necessidade de um mundo mais acessível. Antes que esse momento chegue, ou mesmo que ele nunca chegue, existem várias formas de construir um mundo mais acessível.

Aqui vai uma lista:
  • Faça uma auto-reflexão: como posso ser mais acessível no meu trabalho? Independentemente da sua função, tenho certeza de que existem maneiras de melhorar a inclusão.
  • Busque intencionalmente pessoas que falem sobre essa pauta: podem ser pessoas políticas (como Andrea Warner), influenciadores (como Victor Di Marco) ou, melhor ainda, alguém do seu convívio.
  • Posicione-se nas esferas privadas e públicas: entrou em um espaço sem rampas? Percebeu que um site não descreve as imagens? Uma pessoa querida fez um comentário inadequado sobre pessoas com deficiência? Questione, reclame, busque mudanças.
Longe de mim achar que as causas sociais, construídas e ancoradas por estruturas, são resolvidas por meio de ações individuais. Contudo, nessa grande batalha pela acessibilidade, ainda é necessário que os indivíduos se percebam afetados (agora ou no futuro) por essa luta.