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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Políticas ambiental e de direitos humanos regridem sob gestão de Bolsonaro

Enquanto o ministro Ricardo Salles propõe fazer hotel de luxo no Jardim Botânico do Rio, desmonte de avanços sociais só faz crescer desigualdades no país


08/12/2020 04:00 - atualizado 08/12/2020 07:34

Em sua primeira visita ao Jardim Botânico do Rio, o ministro Ricardo Salles propõs transformar museu em hotel butique(foto: Evaristo Sá/AFP - 10/8/20)
Em sua primeira visita ao Jardim Botânico do Rio, o ministro Ricardo Salles propõs transformar museu em hotel butique (foto: Evaristo Sá/AFP - 10/8/20)


Na sua primeira e única visita ao Jardim Botânico, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles — o homem que conduz a boiada do desmatamento, das queimadas e das demais agressões ao meio ambiente — anunciou a intenção de transformar o Museu do Meio Ambiente no Jardim Botânico do Rio de Janeiro num hotel-boutique, espécie de pousada de alto luxo, acessível apenas aos mais privilegiados. O cara tem uma mentalidade mais atrasada do que a de D. João VI, o rei português que fugiu de Napoleão Bonaparte para o Brasil e mandou criar a instituição, nos idos de 1808, ou seja, mais de 212 anos atrás, com objetivo de aclimatar e cultivar especiarias e árvores exóticas, entre as quais as palmeiras-imperiais, nogueiras, mangueiras, jaqueiras e cravos-da-índia, que vieram do Oriente, das Ilhas Maurício a Macau.  
 
Mal sabe o ministro: os cariocas têm apego àquele espaço privilegiado nas bordas da Lagoa Rodrigo de Freitas e ao pé da Serra do Mar, polo irradiador da cultura ecológica de suas crianças e adolescentes, parte integrante da memória afetiva da cidade; e da importância científica de suas pesquisas e do seu acervo, que preserva 7,5 mil espécies em pé, um herbário com 600 mil amostras e a maior biblioteca de botânica do país, com 32 mil volumes. Como a arrogância de Ricardo Salles não tem limites, ficamos imaginando até aonde vai essa sanha regressista em marcha forçada. O governo Bolsonaro se comporta como se estivesse no antigo regime militar (1964-1985) e não tivesse que dar satisfações a ninguém.  
 
A propósito, a postura de Salles não difere muito da adotada pelo ministro da Saúde, o general da ativa Eduardo Pazuello, que não presta contas à comunidade científica nem à sociedade, e cumpre as ordens do presidente da República sem pestanejar. Vamos ver o que vai acontecer em 25 de janeiro, quando o governo de São Paulo, segundo anunciou o governador João Doria (PSDB), pretende iniciar a vacinação em massa da população residente e de quem mais estiver por lá. A vacina ainda depende da aprovação da Anvisa, que hoje está sob absoluto controle de militares negacionistas como Bolsonaro, mas há controvérsias, porque a legislação é ambígua. Diz que as autoridades, no âmbito de sua competência, podem importar e distribuir medicamentos e outros materiais, equipamentos e insumos sem registro na Anvisa, desde que autorizados pela FDA, EMA ou entidade similar — a legislação nomeia – do Japão e da China.  

Direitos humanos 

Se ligamos uma coisa com a outra, veremos que o regresso está em marcha forçada em toda linha, como na educação, por exemplo. Ontem mesmo, um manifesto de pediatras pedia que as crianças voltassem às aulas; os prejuízos à sua formação já são traumáticos. A mesma coisa na área da segurança pública, onde a política do tipo compre uma arma e ser defenda sozinho é narrativa dos violentos, e deixa a população à mercê de traficantes, milicianos e policiais despreparados. Temos um governo que não está nem aí para os direitos humanos, que remontam à Revolução Francesa, um mix de direito liberal, moral cristã e política humanista. Bolsonaro despreza esses valores, embora faça apologia da liberdade individual.  
 
É falsa a ideia de que os direitos humanos perderam seu significado e limites com a globalização e a revolução digital. Direitos como atributos individuais, apenas, não podem combater a desigualdade, nem são sinônimos de Justiça. Direitos humanos são prescrições: as pessoas não são plenamente livres e iguais, porém, deveriam ser. O “direito à vida” não responde às perguntas sobre o aborto. Nem às necessidades da sobrevivência, como alimento, abrigo ou cuidados de saúde. Na maioria dos casos, a reivindicação de direitos humanos é o começo de um processo de avanço democrático e social, e não o fim. 
 
A Constituição brasileira de 1988 consagrou como direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a Previdência Social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados. Três emendas constitucionais, em 2000, 2010 e 2015, respectivamente, incluíram no artigo 6º da Carta Magna os direitos à moradia, à alimentação e ao transporte. Sempre houve muitas críticas ao texto constitucional, mas essa agenda corresponde às necessidades do nosso desenvolvimento social.   
 
O desmonte das políticas públicas voltadas para esses objetivos, porém, está em pleno curso e é uma contradição com as necessidades mais prementes da grande maioria da população. De certa forma, a pandemia do novo coronavírus desnudou o caráter regressivo da atuação do governo federal e a forma como aprofunda nossas desigualdades. Isso ficará mais evidente com o fim do auxílio emergencial, que mitigou os efeitos mais perversos desse desmonte.      

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