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Estado de Minas ENTRE LINHAS

CPI da COVID quebra sigilos telefônico e telemático de dois ex-ministros

Enquanto isso, Bolsonaro oferecendo hidroxicloroquina para uma ema é um gol de placa do merchandising para os laboratórios Apsen Farmacêutica e EMS


11/06/2021 04:00 - atualizado 11/06/2021 07:36

Bolsonaro insiste em fazer propaganda da cloroquina contra COVID, mesmo sem comprovação científica(foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Bolsonaro insiste em fazer propaganda da cloroquina contra COVID, mesmo sem comprovação científica (foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
A palavra inglesa merchandise significa mercadoria (substantivo) ou também pode ser um verbo que indica o ato de fazer negócio, ou seja, comprar e vender alguma coisa. Como conceito econômico, merchandising é o conjunto de atividades e técnicas mercadológicas que dizem respeito à colocação de um produto no mercado em condições competitivas, adequadas e atraentes para o consumidor.

Traduzido para o marketing, é a citação ou aparição de determinada marca, produto ou serviço, sem as características explícitas de anúncio publicitário, em programa de televisão ou de rádio, espetáculo teatral ou cinematográfico etc.

Um “case” de merchandising bem-sucedido é a cena de Pelé amarrando as chuteiras na Copa de 1970.  No dia 14 de junho, com a famosa camisa 10 do Brasil, o craque do futebol agachou-se no círculo central do gramado do estádio Jalisco, em Guadalajara, no México, e amarrou pacientemente sua chuteira. A cena foi registrada pelas câmeras de tevê e retransmitida mundo afora. A Copa de 1970 foi a primeira a ser transmitida ao vivo. Em pleno regime militar, no auge do milagre econômico e da repressão á oposição, o Brasil parou para ver na telinha a nossa seleção ser tricampeão de futebol.

Ao amarrar sua chuteira Puma King, Pelé ajudou a colocar a Puma em evidência, abrindo caminho para que a empresa se tornasse ainda mais conhecida, e viesse a assinar contratos com jogadores como Johan Cruyff, Diego Maradona, entre outros, uma revolução no futebol profissional. A principal concorrente da Puma era a Adidas, criada pelos irmãos Adolf (Adi) e Rudolf Dassler , em Herzogenaurach, na Alemanha. Entretanto, por causa da guerra, houve um rompimento entre eles e Adolfo criou a Puma.

Na Copa de 1970, Adolf e Rudolf não estavam mais à frente das empresas, que eram administradas pelos filhos de ambos, Horst e Armin, respectivamente. Horst, um visionário que colocou a Adidas no meio das federações esportivas, conseguiu fechar um contrato de exclusividade com a Fifa, com direito a ser parceiro oficial da entidade e ao lançamento da Tango, bola oficial da Copa. Mas o jornalista espanhol de ascendência alemã Hans Henningsen contratou Pelé para que ele calçasse as chuteiras Puma no Mundial e pelos próximos quatro anos, por U$S 125 mil (equivalentes a aproximadamente R$ 4,5 milhões nos dias atuais, corrigidos pela inflação).

As cenas do presidente Jair Bolsonaro oferecendo hidroxicloroquina para uma ema nos jardins do Palácio do Alvorada, tomando café da manhã ao lado de uma caixa do mesmo produto ou os vídeos nas lives nas quais recomendou o tratamento precoce exibindo o produto foram compartilhadas por centenas de milhares de seguidores nas redes sociais e exibidas pelos meios de comunicação de massa. É um gol de placa do merchandising para os laboratórios Apsen Farmacêutica e EMS, que fabricam esses produtos.

Quebras de sigilo

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da COVID aprovou ontem uma série de requerimentos que pediam a transferência do sigilo telefônico e telemático de alvos da investigação. Também foram aprovadas as transferências de sigilo bancário e fiscal de empresas de publicidade. A transferência do sigilo telefônico inclui o registro e a duração de todas as ligações feitas e recebidas conforme período delimitado pelos senadores. Já a transferência do sigilo telemático solicita o envio de uma série de informações, entre elas, cópias do conteúdo armazenado, lista de contatos, cópia de e-mails e localizações de acesso à conta.

Estão entre as autoridades cujas atividades serão devassadas o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo, o empresário bilionário Carlos Wizard, a coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Francieli Fontana Fantinato, e o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Figueiredo Marques, apontado como autor de uma nota falsa sobre a quantidade de óbitos por Covid-19.

A captura de políticas públicas por grandes interesses privados não é novidade, mas o poderoso lobby organizado a partir do Palácio do Planalto e Ministério da Saúde em favor da cesta de medicamentos do chamado “tratamento precoce” da COVID-19, com a complacência do Conselho Federal de Medicina (CFM), salta aos olhos. Contraria as recomendações de epidemiologistas, virologistas, sanitaristas e cientistas, que considera os medicamentos ineficazes. Por isso, é alvo das investigações da CPI da COVID no Senado. Todo crime tem uma motivação e deixa um rastro. No caso da COVID-19, o rastro financeiro da cloroquina tem potencial de virar o maior escândalo de saúde pública da nossa História, responsável por dezenas de milhares de mortes que poderiam ser evitadas na pandemia.

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