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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Discurso na ONU revela que Bolsonaro vive num país imaginário

O país real foi tangenciado quando presidente falou do agronegócio e de infraestrutura, os dois setores do seu governo, que, segundo ele, vão bem


22/09/2021 04:00 - atualizado 22/09/2021 07:12

Jair Bolsonaro fez um discurso na ONU que não surpreende ninguém no Brasil
Jair Bolsonaro fez um discurso na ONU que não surpreende ninguém no Brasil (foto: EDUARDO MUNOZ/POOL/AFP)
O discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou o que aqui já se sabia, embora tenha assombrado o mundo: nosso governante vive num país imaginário, que governa para uma bolha de eleitores que acreditam na sua ficção.

O país real, porém, foi tangenciado quando Bolsonaro falou do agronegócio e de infraestrutura, os dois setores do seu governo que, numa análise fria e não maniqueísta, vão bem, obrigado. Uma segunda bolha no horizonte, porém, pode formar uma tempestade perfeita: a crise de liquidez da Evergrande, uma das principais imobiliárias chinesas e a incorporadora mais endividada do mundo.

Uma crise na economia China é tudo o que o Brasil não precisa neste momento, pelo poder desarticulador que teria tanto nas nossas exportações de commodities agrícolas e de minérios quanto nos investimentos em infraestrutura.

A empresa é segunda maior do mercado chinês. Fundada em 1996, opera projetos de construção em 280 cidades, além de atuar no mercado de veículos elétricos, na mídia e no entretenimento.

Tem até um clube de futebol profissional: o Guangzhou Evergrande, no qual jogam os brasileiros Alan Carvalho, Aloísio, Elkeson, Fernando e Ricardo Goulart. Sediada em Shenzhen, a Evergrande tem dívidas no valor de mais de 300 bilhões de dólares (cerca de 1,61 trilhão de reais), equivalentes a 2% do PIB chinês. Credores exigem o pagamento até amanhã de 84 milhões de dólares (450 milhões de reais) de seus títulos offshore, e outros 47,5 milhões de dólares (cerca 255 milhões de reais) na próxima semana.

Na segunda-feira, houve certo pânico no mercado, embora fosse feriado na China. O preço das ações da empresa caiu 10% na Bolsa de Hong Kong.

O índice Hang Seng Imobiliário caiu 7%, chegando aos piores patamares desde 2016. As perdas foram replicadas nos mercados europeu e norte-americano. A Bolsa brasileira fechou a segunda-feira em queda de 2,33% após operar o dia inteiro em baixa, mas ontem se acalmou. No fundo, há uma grande interrogação em relação grave: a economia chinesa, que deve crescer menos do que a Índia neste ano, 6,7% a 5,7%, respectivamente.

A dívida total da China é mais de 300% de seu produto interno bruto. O presidente Xi Jinping desde 2017 tenta controlar a dívida do país. A China caminha para um novo modelo de crescimento baseado em serviços, consumo e no setor privado, menos dependente do Estado, mas ainda está longe disso.

A interrogação sobre a Evergrande decorre de que o Banco Central chinês vem numa linha de restrição de créditos. Em contrapartida, a economia chinesa é muito robusta, o governo tem grande poder de intervenção na economia e, no ano passado, investidores estrangeiros injetaram mais de US$ 150 bilhões no mercado financeiro chinês.

Infraestrutura

A China é o principal parceiro comercial da China. Isso tem um impacto enorme na nossa estrutura produtiva, cuja infraestrutura foi montada para o Atlântico e precisa ser redirecionada para o Pacífico.

Além de serem grandes consumidores de nossos minérios e produtos agrícolas, tem todo interesse em investir no Brasil, inclusive na infraestrutura.

O programa de US$ 100 bilhões em novos investimentos e os US$ 23 bilhões em outorgas, na área de infraestrutura, com a privatização de 34 aeroportos e 29 terminais portuários, além de investimentos privados da ordem de US$ 15 bilhões em ferrovias estão alavancados pela balança comercial com a China.

Uma crise chinesa agora seria muito ruim para o Brasil. Em primeiro lugar, aumentaria a cautela dos investidores de um modo geral; no nosso caso, agravada pela crise fiscal, que provoca elevação de juros e alta do dólar. Hoje, na reunião do Copom, segundo o mercado, os juros devem subir mais 1%.

No Congresso, a agenda que está sendo implementada pelo Centrão não tem nenhum compromisso com o equilíbrio fiscal e com a seguran&cce dil;a jurídica. Cálculos de especialistas estimam uma explosão no deficit público, que pode chegar a R 1,5 trilhão em 10 anos.

Reforma do Imposto de Renda, PEC dos precatórios, vale-gás, Refis, desoneração da folha, subsídio ao diesel, fundo social de privatizações compõem a pauta bomba.

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