O país real, porém, foi tangenciado quando Bolsonaro falou do agronegócio e de infraestrutura, os dois setores do seu governo que, numa análise fria e não maniqueísta, vão bem, obrigado. Uma segunda bolha no horizonte, porém, pode formar uma tempestade perfeita: a crise de liquidez da Evergrande, uma das principais imobiliárias chinesas e a incorporadora mais endividada do mundo.
Uma crise na economia China é tudo o que o Brasil não precisa neste momento, pelo poder desarticulador que teria tanto nas nossas exportações de commodities agrícolas e de minérios quanto nos investimentos em infraestrutura.
Tem até um clube de futebol profissional: o Guangzhou Evergrande, no qual jogam os brasileiros Alan Carvalho, Aloísio, Elkeson, Fernando e Ricardo Goulart. Sediada em Shenzhen, a Evergrande tem dívidas no valor de mais de 300 bilhões de dólares (cerca de 1,61 trilhão de reais), equivalentes a 2% do PIB chinês. Credores exigem o pagamento até amanhã de 84 milhões de dólares (450 milhões de reais) de seus títulos offshore, e outros 47,5 milhões de dólares (cerca 255 milhões de reais) na próxima semana.
O índice Hang Seng Imobiliário caiu 7%, chegando aos piores patamares desde 2016. As perdas foram replicadas nos mercados europeu e norte-americano. A Bolsa brasileira fechou a segunda-feira em queda de 2,33% após operar o dia inteiro em baixa, mas ontem se acalmou. No fundo, há uma grande interrogação em relação grave: a economia chinesa, que deve crescer menos do que a Índia neste ano, 6,7% a 5,7%, respectivamente.
A interrogação sobre a Evergrande decorre de que o Banco Central chinês vem numa linha de restrição de créditos. Em contrapartida, a economia chinesa é muito robusta, o governo tem grande poder de intervenção na economia e, no ano passado, investidores estrangeiros injetaram mais de US$ 150 bilhões no mercado financeiro chinês.
Infraestrutura
Além de serem grandes consumidores de nossos minérios e produtos agrícolas, tem todo interesse em investir no Brasil, inclusive na infraestrutura.
O programa de US$ 100 bilhões em novos investimentos e os US$ 23 bilhões em outorgas, na área de infraestrutura, com a privatização de 34 aeroportos e 29 terminais portuários, além de investimentos privados da ordem de US$ 15 bilhões em ferrovias estão alavancados pela balança comercial com a China.
No Congresso, a agenda que está sendo implementada pelo Centrão não tem nenhum compromisso com o equilíbrio fiscal e com a seguran&cce dil;a jurídica. Cálculos de especialistas estimam uma explosão no deficit público, que pode chegar a R 1,5 trilhão em 10 anos.
Reforma do Imposto de Renda, PEC dos precatórios, vale-gás, Refis, desoneração da folha, subsídio ao diesel, fundo social de privatizações compõem a pauta bomba.