Enquanto Morato denunciou a falta de autonomia dos profissionais, a exigência da prescrição de remédios ineficazes e o envolvimento da empresa em um "pacto" com o chamado "gabinete paralelo" do Palácio do Planalto, Luciano Hang fez de seu depoimento um case de marketing político e comercial, ao confrontar a CPI, porque sustentou as posições negacionistas do presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores, e ainda aproveitou para fazer propaganda de sua cadeia de lojas de departamentos.
A grande contradição de seu depoimento foi o fato de que não ter questionado o atestado de óbito de sua mãe, que morreu de Covid-19, quando estava sob os cuidados da Prevent Sênior: a informação não consta como causa mortis no documento. O empresário admitiu que autorizou a utilização do chamado Kit Covid durante o tratamento, por&ea cute;m, atribuiu a subnotificação a um erro do plantonista e não à intenção de omitir o fato da opinião pública.
Outras prioridades
A maior utilidade do depoimento foi revelar que a atuação de empresários bolsonaristas na pandemia, a estratégia adotada pela Prevent Senior e a política de Pazuello no Ministério da Saúde estavam em linha com o propósito do presidente Jair Bolsonaro de manter a economia funcionando a qualquer custo, mesmo que o preço a pagar fosse o alto número de óbitos, como acabou acontecendo.
É um fenômeno contemporâneo, que vem sendo estudado há mais de 50 anos, cuja característica principal é a transformação das relações entre as pessoas em imagens e espetáculo, como acontece nas redes sociais. Não existe mais um limite entre a realidade e o espetáculo.
Talvez seja a hora de os integrantes da CPI priorizarem a elaboração de um relatório robusto, no qual os responsáveis pela tragédia humanitária em que se converteu a pandemia sejam apontados com rigor, bem como os crimes cometidos, devidamente tipificados e comprovados. Ou seja, é preciso partir para os “finalmentes”.