Durante seu encontro com o presidente do Peru, Pedro Castillo, ontem, em Rondônia, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que em 31 de março, aniversário do golpe que destituiu o presidente João Goulart em 1964, 11 ministros deixarão o governo para disputar as eleições. “Dia 31 de março, um grande dia, é um pacotão: 11 saem, 11 entram. Da minha parte, vocês só vão saber via ‘Diário Oficial da União’”, fez mistério. Nos bastidores, comenta-se que as pastas da chamada cota pessoal do presidente da República serão ocupadas por técnicos da confiança dos atuais titulares ou militares; as que já estão nas mãos dos políticos do Centrão, por correligionários cujo perfil garanta os acordos originais. Uma coisa é certa: o governo não será melhor do que era. Por isso, é muito pouco provável que a “reforma ministerial” melhore seus índices de aprovação, ainda mais com a legislação eleitoral proibindo o marketing oficial. O objetivo é outro, garantir os acordos eleitorais nos estados.
São dadas como certas as candidaturas do ministro da Justiça, Anderson Torres, ao cargo de deputado pelo Distrito Federal; do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, ao governo do Piauí; da ministra das Mulheres, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, a uma vaga no Senado, possivelmente pelo Espírito Santo; do ministro das Comunicações, Fábio Faria, ao governo no Rio Grande do Norte; da ministra-chefe da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, ao Senado, pelo Distrito Federal; do ministro do Turismo, Gilson Machado, ao Senado, por Pernambuco; do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a senador ou governador da Paraíba; do ministro dos Transportes, Tarcísio de Freitas, ao governo de São Paulo; da ministra da Agricultura, Teresa Cristina, ao Senado ou ao governo do Mato Grosso do Sul. O ministro Rogério Marinho, da Integração, deve concorrer a deputado federal ou ao Senado, n o rio Grande do Norte; e o ministro Ônix Lorenzonni, atual ministro do Trabalho, deve disputar o governo do Rio Grande do Sul. O vice-presidente Hamilton Mourão deve se candidatar ao Senado pelo Rio Grande do Sul.
Bolsonaro somente agora começa a desenhar sua campanha nos estados, ou seja, está muito atrasado em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vem se dedicando a isso há meses. É uma equação complicada, porque o bom relacionamento institucional com os governadores não se transforma em apoio eleitoral por gravidade, em razão da conjuntura local. Nesse aspecto, seu maior problema está no Nordeste, onde o centrão começa a dar sinais de que pode largar a mão do presidente da República tão logo comece a campanha eleitoral para valer. Por essa razão, em alguns estados, a melhor opção para Bolsonaro será indicar um ministro como seu candidato a governador, armando o palanque eleitoral local.
Pé frio
Voltando à viagem para Rondônia, de certa forma, Bolsonaro jogou uma boia de salvação para o presidente do Peru, Pedro Castillo, que veio ao Brasil com uma agenda bastante extensa (comércio e acesso a mercados, integração física, cooperação fronteiriça, cooperação em defesa e segurança, cooperação técnica e humanitária e combate à pandemia de COVID), mas em busca de apoio político. Castillo, de 52 anos, quatro meses apenas depois de tomar posse, pode se tornar o terceiro presidente a não concluir o mandato nos últimos três anos, caso o Congresso peruano aprove seu impeachment.
O encontro com Bolsonaro serve como sinalização para os setores conservadores da política peruana, cuja instabilidade é resultado de sucessivos escândalos, alguns envolvendo a Odebrecht. Entretanto, por causa da derrota de Donald Trump, nos Estados Unidos, e outros aliados, Bolsonaro está com fama de pé frio.
Não é mansa, não
Mais uma vez o presidente Jair Bolsonaro fez a aposta errada na pandemia de COVID-19. A taxa de ocupação de leitos de UTIs para tratamento da COVID-19 no Brasil, em razão do avanço da variante Ômicron do coronavírus, altamente transmissível, segundo pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), atingiu índices alarmante e se interiorizou. Oito estados e o Distrito Federal estão em situação crítica, principalmente em relação às internações (com taxa de ocupação de 80% ou mais): Amazonas (80%), Piauí (87%), Pernambuco (88%), Mato Grosso do Sul (103%), Mato Grosso (86%), Goiás (91%), Espírito Santo (83%), Rio Grande do Norte (86%) e Distrito Federal (97%). Também está havendo aumento da taxa de ocupação de UTIs no Amazonas (75% para 80%), Piauí (82% para 87%), Paraíba (28% para 41%), Pernambuco (81% para 88%), Alagoas (53% para 69%), Bahia (67% para 74%), Minas Gerais (28% para 37%), São Paulo (66% para 72%), Paraná (61% para 72%), Santa Catarina (53% para 76%), Mato Grosso do Sul (80% para 103%), Mato Grosso (78% para 86%) e Goiás (82% para 91%).