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Estado de Minas OPINIÃO

Bolsonaro levou a melhor no troca-troca de partidos

'Com sua filiação ao PL, a legenda saltou de 43 para 75 deputados; o PP, de 42 para 59; e o Republicanos, de 31 para 46''


03/04/2022 04:00 - atualizado 02/04/2022 20:10

Nesta foto de arquivo tirada em 15 de março de 2022, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro gesticula durante o lançamento do novo programa de financiamento para o agronegócio no Palácio do Planalto, em Brasília, em 15 de março de 2022
(foto: Evaristo Sá/AFP - 15/3/22)
O jurista Norberto Bobbio dizia que os governos, mesmo os “maus governos”, são a forma mais concentrada de poder, porque arrecadam, normatizam e coagem. Por isso, não se deve subestimar sua capacidade de agregação de forças políticas e sociais, atender aos interesses e cooptar apoios. Nas democracias, o “autogoverno do povo” é um mito, mesmo nas revoluções clássicas (Inglesa, Francesa, Americana e Russa). No Brasil, todas as “revoluções” vitoriosas foram golpes de Estado bem-sucedidos, mesmo a Revolução de 1930, que inaugurou a nossa “modernização conservadora”.

Entretanto, com a urna eletrônica e as eleições diretas para os cargos do Executivo – presidente da República, governadores e prefeitos –, o protagonismo popular é absoluto no momento do voto. Mesmo durante o regime militar, sem eleições diretas para presidente, governadores e prefeitos das capitais, o voto popular foi decisivo para a derrota daquela ditadura.

Vem daí o imponderável nas eleições brasileiras, que alterna o imprevisível (vitórias de Collor de Mello, em 1982; Fernando Henrique Cardoso, em 1994; Luís Inácio Lula da Silva, em 2002; e Jair Bolsonaro, em 2018) e o previsível (a reeleição de Fernando Henrique Cardoso, em 1998, e Luís Inácio Lula da Silva, em 2006). A eleição de Dilma Rousseff, em 2010, e sua reeleição, em 2014, estavam no terreno da previsibilidade.

Voltando à teoria dos governos de Bobbio, quem governa é sempre uma minoria ou alguns grupos minoritários em concorrência entre si, que tomam decisões que atingem todos. As classes políticas “se impõem” ou “se propõem”. Minorias organizadas e resolutas acabam controlando o poder e suas decisões. Hoje, vivemos uma contradição entre o chamado “espírito das leis”, ou seja, a ideia de que somos uma democracia ampliada regulada pela Constituição de 1988, e a forma como o presidente Jair Bolsonaro governa.  

De viés bonapartista, Bolsonaro nunca fez a menor questão de governar para toda a sociedade, governa para os seus, como a bíblica recomendação a Matheus. Os exemplos estão em toda parte, com destaque à educação, à cultura, ao meio ambiente e à segurança pública.

Quando desmobilizou sua tropa de assalto, a extrema-direita que embalou sua campanha eleitoral ancorou sua capacidade governança na forte presença de militares na administração e, para garantir a governabilidade, entregou o Orçamento da União e uma parte do governo aos políticos do Centrão. Aos trancos e barrancos, até agora isso deu certo. O único momento em que fracassou foi durante a pandemia de covid-19.

Quem ganhou  e quem perdeu

Entretanto, Bolsonaro foi obrigado a recuar de seus propósitos autoritários toda vez em que ameaçou atravessar a Praça dos Três Poderes, principalmente em direção ao Supremo Tribunal Federal (STF). Esbarrou na resistência dos ministros da corte, que sempre se uniram nesses casos, e na ampla mobilização da sociedade civil, que vai além dos partidos de oposição.

Existe uma distância entre as ideias autoritárias de Bolsonaro, reiteradas no último dia 31, ao defender o regime militar, e sua capacidade efetiva de pô-las em prática, imposta pela atuação das forças democráticas.

Mas isso não significa que tenha desistido. Seu projeto político é uma "democracia iliberal", sem programa de governo, a não ser a supremacia do Executivo e um mal desenhado “Brasil grande”, porque são ignorados os problemas reais e as prioridades do país. Esse projeto não será derrotado por antecipação.

O troca-troca de partidos durante a janela partidária mostra que Bolsonaro recuperou a expectativa de poder e plena viabilidade eleitoral. Com sua filiação ao PL, a legenda saltou de 43 para 75 deputados; o PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), de 42 para 59; o Republicanos, do deputado Marcos Pereira (SP), ligado ao bispo Edir Macedo, saltou de 31 para 46 deputados. Os partidos do Centrão podem até abandoná-lo, se perder a eleição; por ora, não é o caso.

Lula continua sendo o favorito nas pesquisas de opinião, mas a distância para Bolsonaro encurtou. Na federação que o apoia, a bancada do PT na Câmara passou de 53 a 55 deputados, a do PCdoB caiu de 8 para 7. O PSB, mesmo filiando Geraldo Alckmin, que será seu vice, passou de 30 para 21 deputados.

Os partidos da chamada “terceira via” também sofreram baixas: o PDT de Ciro Gomes encolheu de 25 para 19 deputados; o PSDB, de João Doria e Eduardo Leite, de 31 para 25, compensados pela federação com o Cidadania, cuja bancada caiu de 8 para 6 deputados. O Podemos teve a bancada reduzida de 11 para nove deputados, além de perder Sérgio Moro para a União Brasil, que teve as maiores perdas: dos 81 deputados da fusão entre PSL e DEM, restaram 45. Esses números refletem as dificuldades para romper a polarização Lula versus Bolsonaro.

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