A reunião da Executiva do PSDB ontem produziu um consenso: o ex-governador João Doria deveria renunciar à candidatura e buscar uma alternativa honrosa para o partido, que tanto pode ser ressuscitar a candidatura do ex-governador gaúcho Eduardo Leite, no caso de uma solução prata da casa, quanto apoiar a candidatura da senadora Simone Tebet (MDB-MS), indicando o senador Tasso Jereissati (CE) para vice.
Com isso, a reunião da terceira via, marcada para hoje, na qual será apresentada uma pesquisa sobre a competitividade de Doria, não poderá tomar uma decisão definitiva, porque o presidente do PSDB, Bruno Araujo (PE), não foi credenciado para isso. As conversas continuarão, preferencialmente com a participação de Doria.
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Aécio é desafeto de Doria, mas defende uma candidatura própria da legenda e havia apoiado Eduardo Leite na disputa das prévias.
Entretanto, o maior algoz e interessado na desistência de Doria é mesmo o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que lhe sucedeu no cargo e, inclusive, foi levado ao PSDB pelas mãos do candidato tucano.
A discussão na reunião da Executiva do PSDB foi quente, mas o encerramento teve clima de velório.
Essa é a mais séria crise enfrentada pelo PSDB, que corre sério risco de não ter candidato a presidente da República pela primeira vez em sua história, o que também pode ser catastrófico para a legenda.
Tanto Rodrigo Garcia como Araújo articulam essa posição, defendendo o apoio a Simone Tebet, como deseja a maioria dos deputados paulistas da chamada “terceira via” em São Paulo.
Na avaliação deles, Doria seria um estorvo para a candidatura de Garcia, que está em quarto lugar nas pesquisas de intenções de votos, atrás de Fernando Haddad (PT), Márcio Fortes (PSB) e Tarcísio de Freitas (PR), o candid ato de Bolsonaro.
Defenestrar Doria seria uma maneira de evitar a deriva de prefeitos e candidatos da base de Garcia para a candidatura de Tarcísio de Freitas (PR), que tem forte penetração no interior paulista, principalmente na área do agronegócio, por causa de sua atuação como ministro da Infraestrutura e do apoio do presidente Jair Bolsonaro.
O deputado Baleia Rossi, presidente do MDB, e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), são os principais articuladores da aliança do atual governador paulista com Simone Tebet.
Nos bastidores, o ex-presidente Michel Temer se preserva, porque ainda pode ser um trunfo da legenda nas negociações com Doria e Garcia.
Chapa “Lularcia”
Quem acha que Garcia alavancará a campanha de Tebet em São Paulo, porém, pode estar muito enganado. O presidente do Solidariedade, Paulinho da Força, articulou uma aliança pirata com o governador paulista para apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A chapa “Lularcia” seria uma alternativa para os sindicalistas que apoiam Lula, mas não querem apoiar o petista Haddad.
Essa é uma velha prática do movimento sindical paulista, useiro e vezeiro em fazer isso, desde a eleição de Jânio Quadros, em 1960.
A chapa Jan-Jan garantiu a eleição do vice João Goulart, o Jango, companheiro de chapa do marechal Henrique Teixeira Lott. Naquela época, os votos para presidente da República e para vice eram separados.
Após a reunião de ontem, Doria foi convidado a comparecer ao encontro da “terceira via”, hoje, que reunirá os presidentes do PSDB, deputado Bruno Araujo; do Cidadania, ex-deputado Roberto Freire; e do MDB, Baleia Rossi.
Após a reunião, Araujo ressaltou que os entendimentos com o Cidadania e o MDB para encontrar uma candidatura única continuarão e que o próprio Doria deveria participar da construção de uma alternativa ao seu nome.
Entretanto, o pré-candidato tucano já recusou o convite, só pretende voltar a Brasília na próxima semana. Ex-presidente do PSDB, José Aníbal, um dos participantes da reunião, considera a candidatura do ex-governador paulista liquidada. Sua desistência será apenas uma questão de tempo.
Doria ameaçou judicializar a questão, mas isso não intimidou seus adversários internos. Na verdade, a maioria da bancada prefere não ter candidato, para obter mais recursos do fundo eleitoral e ter liberdade para apoiar o candidato a presidente da República que lhe for mais conveniente nas bases.