Luiz Carlos Azedo
É possível fazer uma leitura racional dos debates a partir do conteúdo das respostas dos candidatos, mas existem fatores subjetivos que alteram completamente a percepção da imagem dos debatedores pelos eleitores. Tanto é assim que as pesquisas mostram uma divisão de opiniões sobre a atuação dos candidatos que mais ou menos gravita em torno dos índices de intenção de voto.
Quando o resultado destoa muito, aí sim, podemos afirmar que fulano ou beltrano venceu o debate. Mas não é o caso. Por isso, alguns acham que Lula se saiu bem, outros apontam Bolsonaro como vitorioso.
No plano das subjetividades, diria que Bolsonaro entrou no debate em desvantagem por causa do “pintou um clima” no caso das jovens refugiadas venezuelanas que visitou. O assunto virou meme petista nas redes sociais e deixou o presidente da República na berlinda durante o fim de semana. Entretanto, a decisão do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, mandando tirar do ar a live do presidente da República que relatava o caso, por ter sido descontextualizada, resgatou Bolsonaro do canto do ringue. Foi como se o juiz interrompesse a luta por causa de um golpe sujo.
Mesmo em desvantagem nas pesquisas de opinião, na campanha eleitoral, em nenhum momento Bolsonaro se sentiu espiritualmente derrotado. Passou à ofensiva num tema em que o ex-presidente tem revelado muita dificuldade de se defender: o escândalo da Petrobras. Lula não respondeu à altura e ainda gastou o tempo que tinha desnecessariamente, deixando Bolsonaro em grande vantagem ao final do bloco, porque falou por último, com tempo de sobra. Esses dois momentos influenciaram muito as opiniões dos analistas.
A AtlasIntel ouviu 100 eleitores que não votaram em Lula ou Bolsonaro. A maioria (54%) considera que Lula ganhou o debate, 32% acham que Bolsonaro ganhou, e 14% não souberam responder. A maioria dos eleitores que votaram em Tebet (60%), Ciro (60%), outros candidatos (50%), branco/nulo (57%) e também não votaram (57%), em nove grupos, concordam que Lula venceu o debate. Os grupos focais foram formados em Paraná/Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Tocantins, Bahia, Acre e Mato Grosso/Mato Grosso do Sul. Esse tipo de estudo, porém, não tem valor estatístico para avaliar a opinião da população; é um instrumento para avaliar tendências e informar análises, como essa aqui.
Rejeição
Na questão econômica, o petista leva vantagem, mas não mais como no primeiro turno. Um tema subjacente, ora à questão democrática, ora às políticas públicas, é a pauta dos costumes, na qual Bolsonaro tenta surfar para neutralizar o fracasso administrativo do governo em áreas como a saúde e a educação; de outro lado, a mudança dos costumes serve de linha de resistência para os militantes das causas identitárias, que são pró-Lula.