O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve anunciar hoje os primeiros nomes confirmados para seu ministério. Aparentemente, não haverá grandes surpresas em pastas estratégicas para a estabilidade política de seu governo. Fernando Haddad na Fazenda; José Múcio Monteiro na Defesa; e: o governador baiano Rui Costa na Casa Civil seriam os três anunciados hoje, mas outros nomes estão sendo ventilados; Flávio Dino na Justiça; o embaixador Mauro Vieira na Chancelaria; Márcio França na Ciência e Tecnologia; Simone Tebet na Cidadania.
Calejado em coberturas políticas, não gosto de especular com nomeações e demissões de ministros, ainda mais sendo o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Certa vez antecipei a queda do então ministro da Defesa, Valdir Pires. Minha fonte era o então assessor de imprensa de Lula, o competentíssimo jornalista e professor André Singer. Lula leu a notícia, ficou com pena do ministro e bravo por causa do vazamento. Decidiu manter o ministro na audiência em que seria demitido. O “furo” virou “barriga”, que no jargão jornalístico é o equivalente a uma “fake news” involuntária. Durante a gestão de Pires, houve uma greve de controladores de voo e os acidentes com os voos Gol 1907, em setembro de 2006, e com TAM 3054, em julho de 2007. A demissão do ministro ocorreu de fato, no final de julho. Nelson Jobim, ex-ministro do STF, assumiu o lugar de Pires. Cada dia com a sua agonia.
Ontem, o provável ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teve uma “excelente” conversa com o ministro da Economia, Paulo Guedes, o “Posto Ipiranga” de Jair Bolsonaro. Haddad é reconhecidamente um homem de diálogo, vem se movimentando com cada vez mais desenvoltura como futuro ministro da Fazenda. Sua indicação, caso seja confirmada, sinaliza que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao não fazer uma escolha entre os economistas que se digladiam em relação à política fiscal, vai arbitrar a polêmica entre fiscalistas e expansionistas com um olho no Congresso e o outro nas pesquisas de opinião sobre seu governo.
A situação da economia é preocupante. O cenário externo é de retração, por causa da guerra da Ucrânia e da estratégia de epidemia de COVID-19 zero da China. O rompimento do chamado Teto de Gastos excitou a especulação na Bovespa e cenários são pessimistas quanto à inflação. O Banco Central (BC), agora independente, não dá sinais de que vai reduzir a taxa de juros. A aprovação da PEC da Transição mostrou que a prioridade de Lula neste momento é garantir a governabilidade e a popularidade. O problema é que as escolhas difíceis terão que ser feitas mais cedo ou mais tarde. Haddad é um ministro com cara de candidato a sucessor de Lula, porém, ao mesmo tempo, descartável.
Congresso
Tão importante quanto a economia, para a governabilidade, é a relação com o Congresso. Cotado para a Casa Civil, Rui Costa tem larga experiência de relação com o Congresso, devido à histórica parceria com o senador Jaques Wagner (PT-BA), que sucedeu no governo da Bahia. O resultado da votação da PEC da Transição mostrou que o Senado está dominado, Lula obteve apoio de 64 dos 81 senadores na votação da emenda. Ma non tropo! A composição da Casa sofrerá mudanças com os novos eleitos, alguns dois quais bolsonaristas do primeiro time, como Damares Alves (Republicanos-DF) e Marcos Pontes (PL-SP). Há ainda o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e o ex-juiz Sérgio Moro (União Brasil), desafetos de Lula. O escore da eleição foi 14 a 8 para Bolsonaro, em termos de aliados eleitos. Por isso, muitos ministeriáveis permanecerão no Senado, entre os quais Wagner.
Na Câmara, a batalha da PEC tem data marcada: terça e quarta-feira próximas. Embora alguns deputados da oposição ao novo governo digam que vão votar contra a nova PEC da Transição (32/22), o deputado Ênio Verri (PT-PR), líder do PT na Comissão Mista de Orçamento, acredita que a proposta terá mais de 350 votos no Plenário da Câmara. São necessários 308 votos em dois turnos de votação. A proposta é polêmica porque ampliar o teto de gatos em R$ 145 bilhões no orçamento da União de 2023 e ainda despesas do Orçamento de 2022 no montante de R$ 23 bilhões, o que resolveria as dificuldades que o atual governo vem tendo para pagar as contas de final de ano.
No curto prazo, a PEC ajuda a governabilidade e, ao mesmo tempo, evita a corrosão da popularidade de Lula, pois garante R$ 70 bilhões para elevar o Auxílio Brasil (que deve voltar a se chamar Bolsa Família) para R$ 600 com mais R$ 150 por filho menor de 6 anos. Os outros R$ 75 bilhões poderão ser usados para ampliar despesas em 2023, por meio de emendas do relator-geral e das comissões permanentes da Câmara e do Senado. Não creio que esteja tudo resolvido, na negociação na Câmara é mais complicada, exige um corpo a corpo com os deputados.
Militares
José Múcio Monteiro é o homem encarregado de reconstruir as pontes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as Forças Armadas, que foram dinamitadas pelo presidente Jair Bolsonaro. Os novos comandantes militares já estão escolhidos: general Júlio Cesar de Arruda, atual chefe do Departamento de Engenharia e Construção, no Exército; almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, atual comandante de Operações Navais da Marinha, na Marinha; tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, atual chefe do estado-maior da Aeronáutica, na Aeronáutica; almirante de Esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, atual chefe do estado-maior da Marinha, no comando do Estado-Maior das Forças Armadas. O critério de escolha foi o da antiguidade. A prioridade é manter a hierarquia e a disciplina, diante da bagunça instalada à porta dos quarteis.