A semana começa no Senado em duas frentes: a comissão parlamentar mista de inquérito (PMI) dos atos golpistas de 8 de janeiro retoma seus trabalhos, já agora com mais informações fornecidas pelo Ministério da Justiça sobre os investigados pela Polícia Federal; e a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) inicia a discussão da reforma tributária, que veio da Câmara com um carregamento de jabutis que mantêm privilégios fiscais de diversos setores. A CPI tomará hoje o depoimento de Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que ocupava o cargo de diretor da agência no dia 8 de janeiro, quando ocorreu a depredação de prédios públicos na Praça dos Três Poderes. Ele deixou o cargo no início de março. Seu depoimento é importante porque a Abin produziu diversos alertas sobre riscos de um ataque a prédios públicos de Brasília, inclusive na véspera das invasões e depredação de patrimônio público no domingo.
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Governabilidade de Lula depende de um bom acordo com o CentrãoReforma ministerial vira jogo de intrigas na Esplanada dos MinistériosCenso pode alterar representação de estados na Câmara dos DeputadosZanin toma posse no Supremo com a imagem de "ministro do Lula"Ações policiais no Rio e São Paulo lembram o "Esquadrão da Morte"Ex-chefe da Abin confirma a omissão da segurança da PresidênciaO relatório do Exército responsabiliza o general Carlos Feitosa Rodrigues, ex-secretário de Segurança e Coordenação Presidencial, e o coronel Wanderli Baptista da Silva Junior, ex-chefe do Departamento de Segurança Presidencial, por não terem levado em consideração as informações da Abin e acionado as tropas do Exército. Como há forte suspeitas de que havia uma conspiração golpista com participação de militares que assessoravam diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro, o depoimento de Saulo Moura é muito importante, mesmo se permanecer em silêncio. A omissão do GSI no dia 8 de janeiro é o principal argumento da oposição na CPMI de a invasão dos palácios teria sido uma “armação” do próprio governo para justificar a repressão aos acampados em frente ao quartel-general do Exército.
Durante o recesso, a relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), recebeu um volume grande de documentos sigilosos, que vão levar à apresentação de requerimentos para novas quebras de sigilo. Haverá reconvocações e acareações. Desde o início dos trabalhos, a CPMI já ouviu Mauro César Barbosa Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro; Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal; George Washington de Oliveira Sousa, preso por tentativa de atentado próximo ao aeroporto de Brasília; Jean Lawand Junior, coronel do Exército, pelas mensagens de conteúdo golpista que trocou com Mauro Cid; e Jorge Eduardo Naime, coronel e ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal.
Reforma
O relator da reforma tributária, senador Eduardo Braga (MDB-AM), pretende alterar a proposta de reforma aprovada pela Câmara. Essas mudanças serão negociadas com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário extraordinário para a reforma tributária, Bernardo Appy. Braga poderá excluir do texto a criação de imposto estadual sobre as atividades de agropecuária, mineração e petróleo, o que aumentaria a carga tributária. Os setores mais bem organizados politicamente conseguiram fazer emendas na PEC da reforma para assegurar privilégios, mediante isenções fiscais. Isso pode reduzir a arrecadação federal, aumentar a carga tributária nos estados e provocar um aumento geral de alíquotas para compensar as perdas da União.
Aprovar a reforma tributária é a prioridade do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). A reforma será discutida pela Comissão de Constituição e Justiça e encaminhada ao plenário para ser votada em dois turnos até outubro. Eduardo Braga já se reuniu com a equipe econômica e com o presidente do Tribunal de Contas da União, ministro Bruno Dantas. Com efetivação das mudanças no texto, a reforma terá que voltar à Câmara, para nova votação. Por causa disso, o governo terá que negociar em duas frentes, o Senado e a própria Câmara, para que o texto dos senadores seja aceito.
Além de criar a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), com a unificação de PIS, Cofins e IPI, e o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a partir do ICMS e ISS, a reforma também prevê que a cobrança será no local do destino onde o bem ou serviço é adquirido. A proposta tem por objetivo acabar com o efeito cascata dos impostos sobre produtos e serviços no caminho até chegar ao consumidor e simplificar a arrecadação, desonerar as empresas de custos administrativos e evitar demandas judiciais. Também cria o cashback para devolver o tributo pago por famílias de baixa renda, aumenta o imposto sobre heranças e sobre produtos prejudiciais à saúde, como bebidas e cigarros, e ainda taxa jatinhos e lanchas.