A Praça dos Três Poderes encarna a representação arquitetônica da independência e da harmonia entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, essência da República, segundo a Constituição de 1988. Teoricamente. Lúcio Costa e Oscar Niemeyer projetaram os edifícios-sede dos três Poderes republicanos para formar um triângulo equilátero. Ao Sul, o Supremo Tribunal Federal (STF); ao Norte, o Palácio do Planalto; a Oeste, o Congresso Nacional.
Segundo depoimento de próprio Niemeyer, o Congresso é sua obra predileta. Não por acaso, apesar da beleza dos demais palácios, é o ícone arquitetônico do poder político no país. A geografia na Esplanada, na qual a Praça dos Três Poderes é o vértice da nossa democracia representativa, traduz a ideia de Niemeyer de que o Parlamento é mais importante do que o Executivo e o Judiciário. Por isso, ocupa o centro do conjunto arquitetônico.
Leia Mais
Constituição completa 35 anos; entenda carta que marcou transição da ditadura, saúde e educação35 anos da Constituição: Lira cita resposta ao 8/1 como 'melhor gesto'Simone Tebet sobre Bolsonaro: 'Traidor da Constituição e da pátria'Rio de São Sebastião crivado de balas na estação derradeiraEsse grande número de decisões cautelares monocráticas antecipa decisões finais e gera insegurança jurídica, segundo juristas e advogados. Não seria nada demais limitar esse procedimento, em negociação com Supremo, mas o objetivo político da decisão foi outro. Aprovada em 43 segundos, pelo presidente da comissão, senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), a decisão foi uma espécie de abre-alas que eu quero passar de sua campanha para voltar a Presidência do Congresso
Decisão monocrática é aquela proferida por apenas um magistrado — em contraposição à decisão colegiada, que é tomada por um conjunto de magistrados. A PEC 8/2021 reduz o papel de poder moderador que lhe foi atribuído pela Constituição de 1988 ao Supremo. Veda decisão monocrática que suspenda a eficácia de lei ou ato normativo com efeito geral ou que suspenda ato dos presidentes da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados ou do Congresso Nacional.
A suspensão da tramitação de proposições legislativas ou que possam afetar políticas públicas ou criar despesas para qualquer poder também ficarão submetidas a essas mesmas regras. A PEC também estabelece que decisões cautelares, tomadas por precaução, para assegurar determinados efeitos de uma decisão final ou para impedir atos que a prejudiquem, em ações que peçam declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato, ou questionem descumprimento de preceito fundamental, o mérito da ação deve ser julgado em até seis meses.
A PEC 8/2021 também estabelece que pedidos de vista — prazo para estudar um determinado processo — devem ser concedidos coletivamente e por prazo máximo de seis meses. Atualmente, no Judiciário, cada ministro pode pedir vista individualmente, sem prazo específico. O texto é o mesmo da PEC 82/2019, do mesmo senador Oriovisto Guimarães, que foi rejeitada pelo plenário do Senado em setembro de 2019.
Mal-estar com o Supremo
Na véspera do aniversário da Constituinte, a decisão relâmpago da CCJ foi um recado direto de Alcolumbre de que pretende peitar o Supremo Tribunal Federal (STF) caso seja eleito novamente presidente do Senado. É música para os senadores bolsonaristas liderados por Rogério Marinho (PL-RN), derrotado pelo Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na eleição da passada da Mesa do Senado. Ex-líder do governo Bolsonaro, o senador Eduardo Gomes (PL-TO), é um dos artífices da aliança. Ele sempre considerou um erro a candidatura de Marinho.
“São enormes os riscos à separação de Poderes e ao Estado de direito provocados pelo ativismo irrefletido, pela postura errática, desconhecedora de limites e, sobretudo, pela atuação atentatória ao princípio da colegialidade verificado no Supremo Tribunal Federal”, afirma Oriovisto, autor da PEC. Essa tese é defendida por muitos juristas e advogados; agora, virou um biombo para os bolsonaristas, que estavam isolados no Congresso.
A proposta não teve apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas nem por isso ele deixou de mandar um recado para o novo presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso: “É importante que saibamos nos conter: cada poder desta nação nos seus limites constitucionais. E tenho certeza de que o Parlamento os obedece, os cultiva e os respeita.” O novo presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, acusou o golpe.