Para a economia circular
É a lógica econômica que vai determinar o reaproveitamento de rejeitos, que no caso dos pneus se transformam em combustível
Com a economia estagnada à espera da reforma da Previdência, como se ela fosse a mágica para acelerar a atividade econômica, o Brasil dá pouca atenção hoje a um fator que será determinante no futuro próximo para os negócios e, portanto, para a economia. O esgotamento ou encarecimento de matérias-primas e a limitação cada vez maior para deposição de rejeitos, refugos ou descartes no ambiente fazem empresas e países despertarem para o conceito da economia circular, na qual os resíduos ou descartes de um setor são matéria-prima ou fonte de energia em outros. Há exemplos no país e entraves também quando o assunto é reaproveitamento de resíduos.
No primeiro semestre deste ano, representantes de 47 países se reuniram em Bruxelas para iniciar as discussões sobre a normatização da economia circular. Ou seja, ela já é uma realidade em vários países, principalmente na Europa. A Alemanha recicla 40% dos seus resíduos sólidos. No caso brasileiro, a economia circular já é uma realidade para a indústria do alumínio, que hoje recicla 98% das latas fabricadas com o metal. É uma realidade também na HP Brasil, que hoje, segundo Bruno Ortolani, da área de produtos da empresa no país, recicla 100% dos materiais em um centro em Sorocaba, no interior paulista. %u201CA economia circular é uma área dentro da HP e hoje não tem produto que não seja reciclável%u201D, diz Ortolani.
Assim como esses há uma série de outros exemplos Brasil a fora, apesar de a reciclagem só agora começar a ser definida como política de governo. Mas o exemplo de maior impacto hoje está nas indústrias cimenteira e de pneus. Um velho problema para o meio ambiente nos centros urbanos, os pneus hoje estão sendo destinados aos fornos das cimenteiras, onde são usados como combustível em substituição ao coque de petróleo importado do Golfo do México.
O sistema de coprocessamento permitiu, nos últimos oito anos, a destruição de 500 milhões de pneus. O coprocessamento em fornos de clínquer foi regulamentado em 1999, mas apenas em 2009 foi liberado o uso dos pneus nos fornos. E a economicidade veio com a exigência imposta aos fabricantes de pneus de que para produzir uma nova unidade eles tenham que comprovar a destruição de outra. Detalhe, a indústria cimenteira é remunerada para usar os pneus em seus fornos, que precisam ser adaptados. É a lógica econômica que vai determinar o reaproveitamento de rejeitos, que no caso dos pneus se transformam em combustível derivado de resíduo, ou CDR.
Aí surgem os entraves. Alguns estados, como Minas Gerais, proíbem o tratamento térmico de resíduos sólidos, o que inviabiliza o uso desses materiais como combustível em fornos ou a queima para gerar calor e produzir energia elétrica. Além disso, apenas agora o governo, com o lançamento do programa Lixão Zero, deu início à regulamentação do uso de resíduos em outros processos produtivos, o que envolve desde legislações municipais que disciplinem a coleta do lixo para que ele possa ser reaproveitado, até leis estaduais e federais que ordenem o sistema de logística reversa e regularizem tecnologias e processos de reúso.
O programa é o primeiro passo para que o país tenha uma legislação que permita um maior e melhor reaproveitamento de parte dos 80 milhões de toneladas de resíduos anuais que hoje inundam os mais de 3 mil lixões de mais de 1.600 cidades. Hoje, o reaproveitamento do resíduo sólido é de apenas 1,5% no país, enquanto na Suécia esse é o percentual de resíduos sólidos gerados que vão para os aterros. Fazer com que processos lineares de produção e consumo se tornem circulares é um desafio crescente para as indústrias e governos, já que em futuro próximo essa forma de produção será uma exigência para o planeta.
Carne sustentável
Representantes de 17 países estão reunidos de quarta-feira até amanhã na Hamburguer University, em São Paulo. A universidade, mantida pela Arcos Dourados, é palco do primeiro Summit de Carne Sustentável da América Latina, promovido pela Global Roundtable for Sustainable Beef (GRSB). Hoje, com uma produção de 10 milhões de toneladas, o Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne bovina.
Desempenho concreto
O desaquecimento da economia fica patente observando indicadores antecedentes. As vendas de cimento tiveram queda de 15,7% em junho sobre o mesmo mês do ano passado. Com 4,2 milhões de toneladas comercializadas em junho, o setor fechou o primeiro semestre com a entrega de 25,8 milhões de toneladas no mercado interno, uma alta de 1,5%. Em 12 meses, o crescimento é de apenas 0,2%.