O ministro da Economia Paulo Guedes pode estar com os dias contados no governo federal e sua saída não ocorrerá se ele ceder aos desejos do presidente Jair Bolsonaro de um estado com mais fôlego para dar respostas econômicas no momento de aparente saída da pandemia do novo coronavírus. Ontem, ao anunciar de forma intempestiva a suspensão das negociações envolvendo o Renda Brasil – programa que substituirá o Bolsa Família, Bolsonaro deixou explícita suas divergências com a equipe econômica, que vem num crescente nas últimas semanas e que resultou na debandada de técnicos do primeiro escalão do Ministério da Economia e na ausência do ministro no lançamento do Casa Verde Amarela (o Minha casa, minha vida do governo Bolsonaro).Detalhe, o programa habitacional tem o carimbo do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, com quem a equipe econômica tem sérias divergências e o presidente muita afinidade.
Ciente de que o pagamento auxílio emergencial foi um dos fatores que levaram sua popularidade ao maior patamar desde a posse, Bolsonaro quer manter o programa de renda para os menos favorecidos, mas como não há recursos no Orçamento da União para garantir esse plano assistencial, o Ministério da Economia está buscando soluções via realocação de recursos e propôs o fim do pagamento do abono do PIS/Pasep ou do Farmácia Popular. E ainda o fim das deduções do Imposto de Renda Pessoa Física com educação e saúde.
Essa reordenação de recursos, rejeitada por Bolsonaro,é a alternativa ao furo do teto de gastos. Esse é o temor do mercado financeiro que reage a cada fala ou movimento que indique a intenção de aumentar gastos. Ontem, a Bolsa de Valores caiu 1,46% e o dólar passou de R$ 5,60. Com as propostas de Guedes, o governo deixaria de gastar R$ 15,8 bilhões (exercício 2020/2021) com o abono do PIS e outros cerca de R$ 3 bilhões com a distribuição de remédios gratuitos ou com descontos expressivos. Mas com isso retiraria os R$ 88 a R$ 1.045 que cerca de 20,8 milhões de trabalhadores recebem anualmente e obrigaria outros 20 milhões de brasileiros a gastar com a compra de medicamentos que hoje recebem de graça ou a custo muito baixo. O próprio Bolsonaro definiu bem: “tirar do pobre para dar para o paupérrimo”. As duas propostas juntas derreteriam qualquer ganho de popularidade que possa vir do Renda Brasil.
Para o mercado financeiro, Guedes ainda segue no governo. Mas um analista admite que as chances de ele cair passam de 50% hoje. É bom lembrar que Bolsonaro não desistiu de suas idéias sobre o sistema de inteligência do governo e o comando da PF, o que levou à saída do todo poderoso ex-ministro a Justiça Sérgio Moro, e sobre a forma de combate ao coronavírus, o que derrubou dois ministros da saúde (incluindo o popular Henrique Mandetta).
Mantido esse modus operandi e caso Bolsonaro não consiga convencer Paulo Guedes a enfiar a mão no Orçamento (e já deu até prazo para isso), a saída do chefe da política econômica será inevitável. Ele segue trabalhando, segundo o Ministério da Economia. Bombeiros devem entrar em cena. A saída de Paulo Guedes e um sinal de descompromisso fiscal terão um forte impacto econômico, diferentemente das saídas de outros ministros.
Falando em impostos
Mesmo na crise, empresas não devem deixar de pagar impostos. “O pagamento de tributos precisa caber no orçamento, afinal se existe o imposto é porque ocorreu o faturamento. E isso é positivo”, lembra a advogada especialista em Direito Tributário, Nara Rodrigues Miranda, do escritório Tinoco e Miranda. Para ela, parcelar débitos fiscais é melhor do que uma autuação de um órgão fiscalizador.
IMUNE
US$ 10,4 BIilhões - Foi a receita da companhia farmacêutica AbbVie no segundo trimestre deste ano, com alta de 26,3% com base no portfólio de imunologia
Mais crédito
Uma pesquisa feita pela Febraban com os principais bancos do país indica que o saldo consolidado do crédito deve apresentar alta de 0,8% em julho na variação mensal, acumulando crescimento de 0,9% em 12 meses. Os bancos ouvidos representam de 38% a 91% do saldo total do sistema, dependendo da linha de crédito. A expansão decorre de aumento nas pessoas físicas (0,9%) e jurídicas (0,7%).