A recuperação da atividade econômica brasileira mostra sinais de continuar no início do segundo semestre, com resultados provocados em parte pelos efeitos dos reajustes de preços, que, embora em deflação em dois meses, ainda têm forte componente da alta dos alimentos. Em julho, a receita real do setor de serviços teve crescimento robusto de 1,1% sobre junho, enquanto as vendas do comércio registraram retração de 0,8%, no terceiro tombo seguido. O recuo no varejo ampliado, que inclui as vendas de veículos e material de construção, é de -0,7%. A produção da indústria registrou crescimento de 0,6% em igual comparação. Como resultado desse movimento, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) registrou alta de 1,17% em relação a junho e de 3,87% em relação ao mesmo mês do ano passado, superando as expectativas do mercado, de 0,30% e 2,60% respectivamente.
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Os números indicam uma recuperação da atividade econômica ainda frágil e sem abranger todos os setores. Mesmo assim, o crescimento do PIB no segundo trimestre veio acima das previsões, alavancado por R$ 90 bilhões despejados na economia com a antecipação do 13º dos aposentados do INSS e a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A continuidade da expansão econômica no terceiro trimestre, que conta com R$ 41,2 bilhões colocados em circulação com a elevação do Auxílio Brasil (ex-Bolsa-Família) de R$ 400 para R$ 600 e o pagamento de auxílio a caminhoneiros e taxistas, mantém a economia aquecida, favorecendo reajustes de preços. Com mais dinheiro em circulação, o setor de serviços é favorecido, enquanto o comércio sente os efeitos da alta de preços.
Essa recuperação da economia é a senha para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central atender às expectativas do mercado financeiro e manter a taxa básica de juros (Selic) em 13,75%. A decisão do BC interrompe o ciclo de alta, mas ocorre após dois meses com deflação, indicando que o Copom ainda busca assegurar o cumprimento da meta de inflação em 2023 e 2024, uma vez que este ano, mesmo com o mercado reduzindo as projeções da inflação, dificilmente o teto da meta de 5% (a meta é de 3,5%) será alcançado. O BC não descarta voltar a subir os juros. Em relação a 2023, para uma meta de 3,25%, com teto de 4,75%, a expectativa do mercado é para um IPCA em 5,01%. Já em relação à meta de 3% em 2024 (teto de 4,50%), o esforço é para que a expectativa, hoje em 3,41%, recue para o centro da meta inflacionária.
Para o consultor econômico da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) Nicola Tingas, o Banco Central busca trazer as expectativas de 2023 para o teto da meta e as de 2024 para o centro da meta. Com isso, a previsão é que os juros permaneçam elevados por um período maior de tempo. “Com o PIB subindo acima do esperado, o Banco Central vai esperar para ver o PIB potencial e verificar se a economia tem capacidade de crescer a um ritmo de 2% ou mais sem pressão inflacionária. A Selic vai ficar em 13,75% por um período mais longo para fazer a convergência da inflação para o centro da meta em 2024”, afirma Tingas.