Marcílio de moraes
A locomotiva econômica do planeta caminha para entrar em recessão. A pergunta entre os investidores agora não é mais se, mas quando. E uma recessão nos Estados Unidos vai afetar economias mundo a fora, incluindo a brasileira. Com o mercado de trabalho ainda forte, o que deixa o consumo aquecido, a inflação não dá trégua para os norte-americanos. O índice de preços norte-americano teve alta de 0,4% em setembro, acumulando avanço de 8,2% em 12 meses, ficando praticamente estável em relação aos 8,3% acumulados até agosto. E lá, assim como aqui no Brasil, a inflação só não foi maior por causa da queda nos preços da gasolina, que recuaram 4,9% no mês. Alimentação, acomodação e cuidados médicos puxaram o índice de preços ao consumidor (CPI na sigla em inglês) para além da projeção de 0,2% do mercado financeiro. Com isso, aumentam as expectativas de que as taxas de juros aumentem nos Estados Unidos.
“Há consenso de que a inflação ainda está descontrolada e devem ser tomadas medidas mais duras, ou seja, um posicionamento mais contracionista por parte do Banco Central americano!”, avalia Davi Lelis, especialista da Valor Investimentos. Para ele, a taxa de juros mais alta nos Estados Unidos permanecerá por mais tempo. A expectativa é de que a taxa fique entre 4,25% e 4,5% no fim deste ano e chegue a 5% em 2023. “Isso acaba sufocando a economia”, observa Lelis, ao lembrar que juros mais altos diminuem a capacidade das empresas de buscar empréstimo para investir, o que diminui o PIB. Mercado de trabalho aquecido e salários em alta exigem juros mais altos para conter os preços.
A reação dos mercados foi imediata ao anúncio dos dados, com o dólar chegando a R$ 5,38 e a Bovespa caindo aos 112 mil pontos, mas no decorrer do dia o mercado assimilou os dados de inflação nos EUA e que eles representam apenas que o Fed (banco central dos EUA) continuará elevando os juros. No fechamento, o dólar ficou estável, vendido a R$ 5,27 e o Ibovespa teve queda de 0,46%. “Com a perspectiva de mais altas de juros pelo FED, os investidores preferem migrar seus investimentos para a renda fixa americana, o que colabora para a alta do dólar. Mesmo com as altas do FED, a inflação tem persistido, o que fará com que não interrompa o ciclo de alta de juros tão cedo”, afirma Rodrigo Cohen, analista de investimentos e cofundador da Escola de Investimentos.
Embora o mercado tenha assimilado os números do CPI, a elevação dos juros e a manutenção de taxas altas por mais tempo pode levar a maior economia do planeta a entrar em recessão. De um lado, a desaceleração da economia mundial é positiva por representar redução na demanda de commodities, com queda de preços de alimentos, metais e combustíveis. Esse movimento beneficia o Brasil, que embora tenha registrado três meses de deflação ainda tem uma inflação acumulada de 7,17%, com alguns itens registrando aumentos superiores a 50% e chegando perto de 100%. Além disso, a inflação dos serviços acumula alta de 8,5% nos 12 meses encerrados em setembro. A queda dos preços internacionais associada aos juros altos vão conter a inflação brasileira nos próximos meses.
Por outro lado, a desaceleração da economia norte-americana pode afetar as exportações brasileiras, uma vez que os Estados Unidos são o segundo maior mercado para os produtos brasileiros. Como o Brasil é grande exportador de commodities, será afetado duplamente, com redução do valor recebido e queda nas vendas para o mercado norte-americano. Esse efeito pode ser contrabalançado por uma valorização do dólar frente ao real a partir de taxas de juros mais atrativas nos Estados Unidos, país com taxas de risco bem mais baixas. Por hora, é preciso esperar para ver se os efeitos dos juros serão apenas sobre os preços, reduzindo a atividade econômica sem levar o país a uma recessão, ou se efetivamente arrastarão a maior economia do planeta para uma desaceleração muito forte.
Pronampe
R$ 10 bilhões
é o valor liberado pelo Banco do Brasil em dois meses da nova etapa do programa de crédito, para mais de 103 mil micro e pequenas empresas
O ano do 5G
O avanço da tecnologia 5G por mais regiões do país permitirá uma mudança na forma de interação com sistemas e pessoas, impactando os negócios e o comércio. Para Wilson Cardoso, membro do Instituto dos Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), a capacidade de tráfego de dados, a baixa latência e a possibilidade de conexão de vários dispositivos vão levar a Internet das Coisas (IoT) a um novo patamar de possibilidades.
Recuo concreto
Taxas de juros altas, lenta recuperação dos salários e crescente endividamento estão afetando as vendas de cimento no Brasil. Segundo dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), houve queda de 3,8% em setembro sobre igual mês do ano passado. Foram comercializadas 5,5 milhões de toneladas de cimento no mês passado. De janeiro a setembro foram vendidas 47,7 milhões de toneladas, com queda de 3% sobre 2021.