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Bolsonaro em campanha

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Jair Bolsonaro é candidato à reeleição. Isso mesmo. Dias atrás disse, em público, numa festa junina – estranho local para discursar, registre-se – que iria entregar o Brasil, em 2026, muito melhor do que encontrou em 2019. Ou seja, já dá como certa não só a candidatura, como a vitória em 2022. Teria até um candidato a vice, que não seria o general Hamilton Mourão. Desta forma, vai acabar inviabilizando seu governo, que completou apenas um semestre. Isso porque qualquer ato governamental, por mais banal que seja, vai ser interpretado como ação eleitoral para a reeleição. Seu relacionamento com o Congresso, que já é ruim, tende, após a reforma da Previdência, a piorar.
Por um lado, devido à antecipação do calendário eleitoral – caso único na história das eleições presidenciais no Brasil – e por outro pela disputa dos louros da vitória obtida com a aprovação da PEC. É inegável que a proposta que tende a ser aceita não é a proveniente do Ministério da Economia. Aquela tinha um viés claramente antissocial. Olhava apenas para os números. Ignorava o papel que a Previdência tem entre nós. Aqui ela também desempenha a função de assistência social, uma renda mínima indispensável para a sobrevivência de milhões de brasileiros. A Câmara dos Deputados, sabiamente, alterou, nestes pontos, profundamente o projeto.
E fez bem. Sendo assim, o que deve ser aprovado é mérito do Legislativo e não do Executivo. Teremos, certamente, uma feroz disputa por este legado.

Bolsonaro não quer como vice o general Mourão. Nestes seis meses de governo deixou clara sua insatisfação em relação ao seu companheiro de chapa. Ignorou o general no dia a dia da administração federal. Não o consultou para a formação do ministério. Quando Mourão foi atacado por Carlos Bolsonaro, o presidente optou pelo silêncio, o que foi entendido como um sinal de concordância com o seu filho. Somente uma vez teve alguma consideração com o general.
Foi no auge da crise venezuelana. E aí não foi por iniciativa própria, mas por pressão do núcleo militar. Naquele momento, os Estados Unidos estavam estudando a possibilidade de invadir o nosso vizinho e queriam contar com o apoio da Colômbia e do Brasil. De Bogotá, os sinais eram de concordância, já os militares brasileiros sabiam do perigo de termos na fronteira norte um Vietnã – recordando que não temos problemas fronteiriços há mais de um século. No Itamaraty, o chanceler estava seduzido pelo furor bélico americano e um dos filhos do presidente posava armado, desejando, presume-se, ser um voluntário no eventual conflito. Foi então que entrou em campo o general Hamilton Mourão. Sua participação na reunião de Bogotá foi decisiva para evitar a aventura militar – com danosas consequências – e abriu caminho para que fosse possível algum tipo de negociação com a ditadura venezuelana e seus opositores internos, com mediação estrangeira.

A mudança da chapa é uma estratégia de Bolsonaro para encontrar uma base eleitoral segura. O Partido Social Liberal é uma criação sem qualquer inserção efetiva na sociedade. E nada indica que vai se construir como partido nos próximos meses. Já que o presidente quer antecipar o calendário eleitoral, necessita urgentemente de um instrumento que permita ter acesso à maioria dos municípios brasileiros, especialmente os mais pobres.
Sabe que no “andar de cima” ainda mantém um razoável índice de popularidade, mas entre os pobres (e mais ainda na região Nordeste) sua situação é deficiente. Daí a importância dos evangélicos. Para Bolsonaro, a questão é política e não religiosa. Pouco importa o que o pastor fale, como interprete a Bíblia. O que interessa são os votos. É a possibilidade de ter acesso direto ao eleitorado que o rejeita. Em outras palavras, como não tem partido – como o PT – necessita ter capilaridade política. E as igrejas evangélicas, dentro desta perspectiva, devem se transformar em correias de transmissão da sua candidatura. Assim, é provável que encontre um líder evangélico para fazer este papel. Ser um instrumento político para que ele alcance este eleitorado que foi conquistado pelo PT especialmente através do Bolsa-Família e de outros programas sociais.
Para isso deverá comparecer a inúmeros cultos (como já fez em um semestre) e propagar uma linguagem supostamente religiosa associando-a a problemas do cotidiano político. Esta mescla já está sendo testada. Basta observar a sua presença na Marcha para Jesus, realizada no mês passado, em São Paulo.

No ano que vem pretende transformar a eleição municipal numa espécie de plebiscito do seu governo. Deve percorrer o Brasil como um verdadeiro cabo eleitoral. Imagina que poderá eleger prefeitos nos principais colégios eleitorais. Supõe que pode, a partir daí, ter a base necessária para a reeleição. É uma meta ousada, especialmente em meio a um cenário de permanência da crise econômica e seus terríveis efeitos sociais.
 
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