Quem dera que o pulso da economia real batesse no ritmo do discurso político, dos festejados planos dados como salvação, embora muitas vezes nem sequer tenham passado de intenções. Das medidas previstas no Plano Mais Brasil, nada se aplica de imediato ao dia a dia da população, do comércio, da indústria e das empresas prestadores de serviços.
A indústria que o diga. Âncora de uma extensa cadeia de geração de produtos, serviços, emprego de melhor qualidade e renda, é fato que as fábricas reagiram no Brasil. Contudo, trata-se de uma ligeira recuperação e observada em menos da metade dos 26 ramos de atividade do setor acompanhados pelo IBGE. A pesquisa mais recente, de setembro, indicou variação positiva de modestos 0,3% da produção industrial do país, enquanto o avanço foi de 1,2% no mesmo mês de 2018.
A frágil evolução está associada ao bom desempenho das montadoras de veículos, reboques e carrocerias, com crescimento de 4,3% frente a agosto, seguida de mais 10 segmentos. Em Minas Gerais, pesquisas regulares da Federação das Indústrias do estado (Fiemg), que monitoram variáveis como faturamento, emprego, horas trabalhadas, massa salarial e a ocupação da capacidade produtiva das empresas – o chamado UCI – indicam que os fabricantes de alimentos, automóveis e a metalurgia lideram a onda de reação e têm fôlego suficiente para terminar bem o ano.
Ainda assim, na média, o melhor que a produção industrial mineira conseguiu foi voltar aos níveis de 2003, trabalhando com nível considerado muito alto, de 20%, também na média, de ociosidade, como indicam os gráficos analisados por Daniela Britto, gerente de economia da Fiemg. “Problemas estruturais prejudicam muito o setor, que tem dificuldade de competir, sob uma carga tributária exagerada, e com custos elevados de capital e logísticos. E se trata de uma exposição direta aos produtos estrangeiros”, afirma.
Junto à crise que o Brasil viveu nos últimos anos, desde a turbulência da economia mundial de 2008, um inferno astral se abateu sobre a indústria, que veio perdendo participação na produção de bens e serviços do país, medida pelo PIB, enquanto outros setores melhor posicionados, os serviços, comércio e o agronegócio ganharam espaço nesse bolo. Com PIB industrial estimado em R$ 118,4 bilhões (10,3% da indústria brasileira), e 1,069 milhão de empregados, segundo estimativa mais recente, de 2016, da Confederação Nacional da Indústria, a participação da indústria no PIB de Minas estaria em 24,8%.
Não se trata de uma conta fácil de ser obtida e nem atualizada numa base de comparação nacional. Além disso, o desempenho do setor em Minas sofre mais que a média nacional, tendo em vista a diversificação muito maior da indústria brasileira.
Num estado essencialmente minerador, quando essa atividade extrativa segue em alta impulsiona a performance industrial como um todo, ao passo em que nos momentos ruins, como os últimos anos marcados pelo rompimento da Barragem de minério de ferro de Fundão, em Mariana, em 5 de novembro de 2015, e depois o estouro da barragem de Córrego do Feijão, da Vale, em 25 de janeiro deste ano, todo o setor perde.
Daniela Britto lembra que enquanto a indústria extrativa mineral responde por 22,7% do PIB industrial de Minas, representa 13,5% no indicador medido para o Brasil.
Com as portas de 2019 se fechando, não se considera mais a possibilidade de o setor sair do vermelho, por mais que tenham surgido alguns sinais positivos da recuperação da economia, diante da tão aguardada aprovação da Reforma da Previdência e da entrega do pacote de reformas ao Congresso, enquadrando o país e os estados e municípios no ajuste fiscal, o aumento do emprego, apesar de amparado na informalidade, e a contínua redução do juro básico da economia, a taxa Selic, que remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio. Para a frustração do estado, as previsões da Fiemg são de queda de 2,5% da produção industrial geral, influenciada pela retração esperada de 22% da mineração.
Expectativa
3%
É o melhor cenário vislumbrado pela Fiemg, no momento, para o crescimento da indústria de transformação, mantida a performance dos alimentos, veículos e produtores de aço
PIF PAF na China
Habilitada em setembro para vender na China, a unidade industrial de Visconde do Rio Branco da PIF PAF Alimentos, uma das maiores empresas brasileiras do setor de alimentos congelados, fez, nesta semana, o seu primeiro embarque ao país asiático. Foram exportadas 100 toneladas de cortes de frango em quatro contêineres. A PIF PAF integra lista de 25 plantas frigoríficas brasileiras liberadas pelo governo chinês e também obteve em 2019 habilitações para comercializar seus produtos no México e no Canadá. A companhia mineira já exporta para mais de 20 países.
Rumos do café
Mais de 430 municípios de Minas Gerais têm produção comercial de café, ou seja, universo superior à metade das 853 cidades do estado, com base em levantamento do IBGE. O estado garante cerca de 50% da produção brasileira dessa vedete das exportações. Os rumos da cultura serão discutidos de 20 a 22 deste mês, em Belo Horizonte, na Semana Internacional do Café 2019, no centro de convenções Expominas. Passa de 60 o número de países que compram o produto mineiro.