Jornal Estado de Minas

minas em foco

Produtores de biocombustíveis: vem aí o mercado verde dos CBIOs

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


Depois de um 2019 marcado pelos tropeços do Brasil no cenário internacional, sob duras críticas às concepções do governo de Jair Bolsonaro na área do meio ambiente, o país ganha, agora, de fato, um programa robusto de cumprimento de metas de redução da emissão de poluentes na atmosfera, discutidas em vários nações. O Renovabio, estruturado com mecanismos de estímulo à produção, distribuição e consumo dos chamados combustíveis verdes, começa a funcionar na próxima terça-feira. Já se passaram dois anos de discussão e definições da autorregulação da proposta, que virou lei no governo de Michel Temer. Minas Gerais tende a se beneficiar duplamente da iniciativa.



Além do bem que a produção mais limpa vai fazer sobretudo às futuras gerações, o programa cria um mercado inédito no Brasil dos certificados de gás carbônico retirado da natureza, os CBIOs, unidades de crédito de descarbonização. Emitidos pelos produtores de biocombustíveis – etanol, biogás, biometano, bioquerosene e biodiesel, entre outros – esses certificados devem se transformar em moeda muito bem-vinda ao estado e ao Brasil, e que vai ditar o ritmo de cumprimento das metas de mitigação das emissões de gás carbônico. As distribuidoras de combustíveis ficarão obrigadas a comprar os CBIOs.

Como segundo mercado consumidor de etanol no Brasil, e dono do terceiro lugar no ranking nacional da produção, o estado deve ser protagonista no mercado dos CBIOs, na avaliação de Mário Campos, presidente-executivo da Associação da Indústria Sucroenergética de Minas (Siamig). “Temos produção em crescimento e com duas usinas para entrar em operação no ano que vem. É um desempenho considerável”, diz à coluna. Uma usina-padrão vende açúcar, etanol e bioeletricidade. Os CBIOs serão mais um produto para gerar receita e competição por processos cada vez mais limpos.

O balanço da produção de etanol em Minas, nesta safra, passa de 3,3 bilhões de litros, aumento de 4,4% frente a 2018. Os números são resultado de safra também recorde de cana-de-açúcar em Minas, uma safra mais alcooleira, tendo em vista que 62% dela tiveram o etanol como objetivo. “O Renovabio abre a possibilidade para as usinas saírem da commodity para um mercado diferenciado, que passará a mostrar os atributos desse combustível”, diz Mário Campos.



Outro ganho especialmente importante em Minas, devido à produção expressiva de combustíveis renováveis, será o crescimento da participação deles na matriz de transporte, deslocando os combustíveis fósseis. A competição entre as usinas, à qual se refere o presidente-executivo da Siamig, será resultado de uma esperada corrida pela emissão dos CBIOs.

Voluntário para a indústria sucroenergética, o Renovabio começa a sair do papel a partir de um processo de certificação das usinas para que elas possam emitir os certificados. Cada empresa receberá uma nota, considerando-se a capacidade dela de reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Quanto mais limpa for a produção, maior será a nota e a chance de obter receita com a emissão dos CBIOs. Se as usinas usam óleo diesel no transporte, nas colhedoras e no transbordo dentro da usina e esse combustível gasto for substituído por biometano, por exemplo, as empresas melhoram a nota dada pelas certificadoras.

A troca capaz de tornar os processos de produção mais limpos pode também envolver o uso dos subprodutos da cana-de-açúcar, como o bagaço, e o corte no consumo de nitrogenados. Resta saber se o benefício transformado em ar mais puro e receita reforçada da indústria resultará em queda de preços nas bombas do varejo de combustíveis, algo no que Campos acredita. É esperar para ver como se comportará a dinâmica do novo mercado dos CBIOs. Com base no que já foi visto no mundo, cada certificado pode valer US$ 10. No caso do etanol, um CBIO equivale a uma tonelada de carbono mitigada por cerca de 750 litros de etanol produzidos.



MUNDO AFORA


195  É o número de países que se comprometeram durante a 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP-21), em 2015, a reduzir as emissões de poluentes em 37%



QUEM COMANDA

O próprio mercado, quer dizer, as negociações entre os produtores de biocombustíveis e as distribuidoras, é que vai definir o preço do CBIO. Uma vez avaliadas, as usinas vão apresentar os seus certificados à ANP, que dará o lastro à comercialização. As empresas, então, levarão essas unidades aos bancos, que vão escriturá-las como espécie de registro e aí partir para um mercado, digamos, de balcão. As distribuidoras têm metas de redução de emissões de poluentes definidas junto à agência reguladora, com base em sua participação de mercado.


DEMANDA

A empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil está trabalhando na certificação de várias usinas de biocombustíveis em Minas Gerais interessadas no mercado de créditos de descarbonização. Assim como outras consultorias, a PwC foi credenciada pela ANP como inspetora no âmbito da Política Nacional de Biocombustíveis, o Renovabio. O trabalho consiste em analisar quanto gás carbônico é retirado da natureza com a produção gerada nessas empresas.