O mestre Cartola talvez não entendesse nada de economia, mas das relações humanas era um observador magnífico, pelo que mostram suas canções. Senhora tentação é um desses exemplos que encanta a alma e se encaixa muito bem a este começo de ano carregado pelos confetes jogados sobre vários indicadores econômicos. Como na música, que relata um arrebatador caso de sedução, a melhora da confiança dos empresários, surpreendente valorização de 32% da bolsa de valores, alta de 4,1% do dólar, juros mais baixos da história do país são festejados numa onda quase romântica de otimismo.
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Quanto pesa a inflação de BH no bolso do consumidorProdutores de biocombustíveis: vem aí o mercado verde dos CBIOs Aos milhares, panetones turbinam o caixa neste NatalÀ exceção dos juros, confiança, bolsa e dólar são em boa parte fruto da criação voraz dos investidores e os analistas de bancos e corretoras que os atendem, a expectativa de ganho. Os resultados são reflexos da satisfação com a política liberal na economia, representada pelo ministro Paulo Guedes.
Até mesmo nos momentos em que Guedes ou o presidente Bolsonaro e seus filhos ou auxiliares desagradaram o mercado financeiro, a perda na bolsa é instantânea e as expectativas se realizam no dólar. Para grande parcela da população e das próprias empresas, fato é que faltam emprego, renda, vida digna, poder de consumo, recursos para investir. Tanto é assim que a indústria e o comércio já começam 2020 adotando medidas possíveis para manter a sua capacidade de competir, sem esperar políticas que são adiadas por Brasília ou o governo de Minas.
Mais de 300 empresas tiveram projetos para aumentar produtividade e capacidade de competir apoiados pela Federação das Indústrias do estado, a Fiemg, em 2019, e esse universo deve continuar a crescer, segundo o presidente da entidade, Flávio Roscoe. Parcela dessas iniciativas está relacionada à reutilização de recursos das próprias empresas e a implantação dos conceitos da chamada indústria 4.0.
“Entendemos que a taxa de juros mais baixa facilita investimentos que antes não davam retorno. A percepção positiva da economia está fazendo com que toda a indústria se volte para dentro, no sentido de promover melhorias de competitividade”, afirma Roscoe. A retomada do crescimento de economia está também relacionada a ganhos de eficiência nas empresas.
O ambiente para os negócios, de acordo com o presidente da Fiemg, é o que, muitas vezes, impede a competitividade nas empresas. No comércio, as empresas estão, da mesma forma, determinadas a melhorar os indicadores do negócio, independentemente do que fizerem ou disserem os governos federal e estadual. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte, Marcelo de Souza e Silva, observa que a recomendação da entidade e o trabalho de assistência que oferece às empresas é de que os empreendedores tomem a iniciativa de não esperar os governos.
O chamado 'varejo inteligente' não envolve apenas inovações; é o que encontra saídas por meio de bons preços, pontos de venda bem localizados, custos sob controle, gestão azeitada dos estoques. “É trabalhoso e difícil principalmente para os empreendedores das pequenas empresas, mas é preciso dar o mínimo de atenção diferenciada no negócio e isso não tem relação com o governo. Significa correr atrás da gestão eficiente”, afirma Souza e Silva. Com reservas, a CDL-BH identifica confiança de regular a média, sem picos, dos empresários do setor na economia.
Entre projeções
Na avaliação de Flávio Roscoe, houve avanço na melhora do ambiente para fazer negócios em Minas, devido a medidas de desburocratização na área ambiental, por exemplo, tomadas pelo governo estadual. Com a maior confiança das indústrias na reação da economia, ele acredita que o setor poderá crescer até 5%. Parece muito, porém, a base de comparação é demasiado fraca. Até outubro, a indústria tombou 5%.
Melhor é cautela
Com postura mais moderada, Marcelo de Souza e Silva considera expectativas de crescimento do setor de 2,5% neste ano, na hipótese mais otimista. A projeção repete a estimativa para 2019. Silva diz que o setor vê um cenário um pouco melhor para a economia, embora esteja longe de promover a recuperação dos últimos quatros anos de crise.