Nem o temor dos efeitos do novo coronavírus sobre o comércio internacional nem sequer a ação artificial dos investidores forçando o dólar, com medo de perder para a epidemia. É um horizonte novo de prosperidade que move o ritmo de trabalho intenso nas lavouras de café de Capelinha e outros 22 municípios da região conhecida no mercado do produto como Chapada de Minas. As áreas ocupadas pela cultura nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, embora carentes de recursos hídricos, vêm se destacando no segmento bem-sucedido do agronegócio mineiro.
Os cafeicultores desse território, nem sempre lembrado pelo poder público, começaram a retirar do papel estratégia aprovada no fim do ano passado para conferir identidade e demarcar origem ao café verde local. Iniciativa pioneira na região, o projeto tem marca coletiva como instrumento de proteção do café. Com o selo “Café da Chapada de Minas”, os produtores terão garantia de procedência para comprovar a origem do produto.
Responsáveis pela oferta de 400 mil sacas de café por ano, obtidas a altitudes variando de 700 a 1.300 metros, 5,8 mil produtores empregam cerca de 20 mil pessoas na região, onde o cerrado predomina, a temperatura média anual varia entre 16 e 22 graus e a pluviosidade é o bastante para a cafeicultura de alta qualidade. Por meio de uma série de ações, os cafeicultores visam ao reconhecimento das lavouras, com garantia de procedência.
O consumidor poderá se informar sobre todo o histórico da produção e conhecer os cafeicultores que se dedicaram ao cultivo e conquistaram o selo coletivo. O trabalho, que está sendo feito com assistência do Sebrae, vai permitir que os produtores se diferenciem não apenas pela qualidade do café, como também pelas histórias, cultura, crenças e valores que os unem à região, como destaca Cláudio Wagner, analista técnico de agronegócio do Sebrae Minas. Eles se organizaram por meio do Instituto do Café da Chapada de Minas.
“É uma estratégia que visa promover o território, controlar os processos produtivos da região e proteger esse território”, diz Cláudio Wagner. Experiências com esse mesmo objetivo foram desenvolvidas em outras três regiões produtoras de cafés de qualidade no estado – o cerrado, Mantiqueira e Matas de Minas.
O instrumento de proteção de mercado tanto pode ser a marca coletiva quanto a Indicação Geográfica (IG), ambos chancelados pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). A estratégia dos cafeicultores da Chapada de Minas começou neste mês, com a adoção de medidas para melhorar a qualidade do produto e a definição de uma série de regras para uso da marca coletiva. A meta é usar o selo a partir do quarto trimestre deste ano. Os principais municípios da região são Capelinha, Angelândia, Itaipé e Novo Cruzeiro.
Cabe ao Inpi reconhecer a marca com suas regras de uso, mediante o protocolo de produção e qualidade estabelecido e a ser depositado pelo Instituto do Café da Chapada de Minas no Inpi. Amostras do produto terão de ser avaliadas pelo órgão federal e consideradas, então, compatíveis, para a emissão da marca coletiva.
O cerrado mineiro é considerado pioneiro nas indicações geográficas no Brasil, de acordo com o Inpi, com seu café diferenciado pela qualidade e rastreabilidade, tendência no mundo como consequência dos maiores níveis de exigência e consciência do consumidor. A região foi a primeira da cafeicultura no país a ter reconhecimento como Indicação de Procedência, em 2005, e como Denominação de Origem, em 2013.
O projeto desenvolvido na Chapada de Minas segue nessa toada, com a crescente curva de valorização dos cafés de Minas. O produto especial cultivado no estado, com sabor e aroma muito acima da média, tem sido premiado a preços, em geral, 50% superiores ao padrão do mercado, nas estimativas da Federação da Agricultura e Pecuária do estado (Faemg).
Histórica
1848 É a data provável do início das plantações tradicionais de café
na Serra da Mantiqueira mineira
CENTENÁRIA
A Serra da Mantiqueira de Minas, delimitada pelos municípios de Heliodora, Baependi, Dom Viçoso e Campanha, ao Sul do estado, também exibe a Indicação Geográfica concedida pelo Inpi como reconhecimento aos seus cafés finos. A cultura é desenvolvida na região há mais de 100 anos, desafiando a dureza das geadas características na área.
ESPERA FELIZ
Com predominância da agricultura familiar, o município de Espera Feliz, na Serra do Caparaó, Zona da Mata mineira, se tornou referência na produção de cafés especiais. Cafeicultores do município conquistaram os primeiros lugares dos concursos estaduais de qualidade dos cafés de Minas em 2017, 2018 e 2019. A maioria dos cafeicultores usa a mão de obra da própria família como única força de trabalho nas plantações.