Quatro entre as cinco maiores fontes de pressão sobre a inflação de outubro em Belo Horizonte são serviços prestados às famílias, e dois deles obedecem a regras do governo, os chamados preços administrados, a tarifa de energia elétrica e a gasolina comum. Os outros dois vilões dos preços são as excursões e o condomínio residencial, como mostra a segunda prévia do IPCA na capital, medido pela Fundação Ipead, vinculada à UFMG.
Retrato dos gastos das famílias de BH com rendimento de um a 40 salários mínimos, o IPCA parcial deste mês subiu 1,20% no período de 30 dias terminado na segunda semana de outubro, e mais de um terço dessa alta se deve aos reajustes de 3,29% da conta de luz e de 2,14% da gasolina. As excursões encareceram 8,05% e o condomínio residencial ficou 1,68% mais caro.
A importância da pesquisa não se esgota na realidade que os números exibem, um alerta de que o custo de vida não aponta para inflexão, mas, diferentemente disso, alia aos aumentos presistentes dos gastos com alimentação despesas que crescem – e essas mais difíceis de administrar, sem substitutos. O resultado do IPCA desfaz qualquer dúvida sobre a necessidade de o consumidor se prevenir, recusando argumentos de palanque usados pelo presidente Jair Bolsonaro em sua visita a Minas Gerais.
Embora tenha reconhecido “número grande” da inflação, o presidente se exime de responsabilidade, buscando, de novo, culpar os governadores, as necessárias medidas que foram adotadas para conter a COVID-19, e atribuindo a inflação a um fenômeno mundial. Discurso sem contrapartida de busca de soluções só tumultua a vida da Nação. No dia a dia do consumidor, o orçamento vive aperto crescente.
Dados do IBGE relativos à pesquisa do IPCA, o indicador oficial da inflação brasileira, na Grande BH, indicam aumento de 41,96% dos preços dos combustíveis veiculares nos últimos 12 meses terminados em setembro. A inflação atingiu 10,30%, sob pressão da gasolina 39,73% mais cara e do etanol, reajustado em 66,36%. O preços do gás de botijão subiram 37,15%, em média, no período.
Não há consenso entre os analistas do mercado financeiro sobre o comportamento dos preços dos combustíveis nos próximos meses. A Ativa Investimentos prevê desaceleração em 2022, tendo em vista a correção intensa que já houve neste ano e a perspectiva de preço do barril de petróleo em cerca de US$ 72.
A avaliação considera, ainda, o patamar atual do dólar, girando em R$ 5,60, a inexistência de novas elevações dos indicadores da COVID-19 e de correção da defasagem dos preços da gasolina no mercado interno, que estima em 15%. Com isso, a corretora espera alta de 1,2% dos preços da gasolina e de 3,3% do gás de botijão.
A corretora XP, por sua vez, emitiu relatório projetando alta de 1,7% do preço da gasolina até dezembro, o que levaria a variação no ano a 33%, com base na mesma metodologia do IPCA. Para o diesel, calcula reajute de 1,4% nos próximos dois meses e 10 dias, estimativa que crava aumento de 29% no ano. Em 2022, prevê gasolina reajustada em 6%, e diesel, 5,9%.
A remarcação também farta do preço da energia elétrica residencial, que na Grande BH atingiu 19,40% em um ano até setembro, segue a mesma toada dos combustíveis, retirando qualquer motivo para crença do consumidor na tese de que o aumento vá se dissipar em alguns meses. Bolsonaro disse que pediria a retirada da bandeira da escassez hídrica, com vencimento em março de 2022, mas a tendência é de que a energia continue cara no Brasil e no mundo, segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires, um especialista na área.
Além da alta conjuntural do insumo provocada pela elevação da demanda, frente a 2020, tendo em vista a recuperação da economia, outro fator talvez mais preocupante no longo prazo é a dificuldade de aumentar a oferta. Na opinião de Pires, ao ganhar espaço na matriz energética mundial, o lobby das fontes de energia renováveis “demonizou” fontes como o carvão, óleo, gás natural e energia nuclear. Pelas leis da economia, se a demanda por um produto ou serviço supera a oferta, será inevitável a subida dos preços.
RAINHA
9,11%
CORRIDA
Depois do café, a inflação atingiu o leite e seus derivados. Pesquisa da cesta básica feita pelo Dieese em setembro indicou que o litro do leite integral teve acréscimo de preços em 11 capitais e o quilo da manteiga em 12 metrópoles. A manteiga encareceu 5,24% em BH, segundo maior reajuste no país.