A virada de hoje põe em xeque, para 2022, as simpatias mais tradicionais e concorridas na expectativa de atrair abundância e realizações, após quase dois anos de dificuldades talvez pouco imaginadas no Brasil e em Minas Gerais. Pense em, ao menos, três desejos que não tragam à mente e aos sentidos o incômodo pressentimento da dificuldade que será alcançá-los, diferentemente de outros momentos da vida do país. Para o estado, o dilema é parecido e nem sequer a força da fé nas sementes das romãs tão requisitadas no Dia de Reis – 6 de janeiro – trazem alento por um ano que vem menos desafiador.
Retomar geração firme de empregos e ampliar a oferta interna de alimentos para conter a inflação elevada são duas das principais medidas sobre as quais o estado terá de se debruçar. Não há, também, como fugir de estratégias para tentar driblar a dependência histórica de produtos básicos e minerais cotados no mercado internacional.
Outra frente de ação tende a ser o estímulo à indústria com sua capacidade de movimentar uma série de segmentos em cadeia, sobretudo atividades mais qualificadas do ponto de vista dos vínculos de trabalho e dos rendimentos. Os quatro desafios serão decisivos, em 2022, para a recuperação do estado, na avaliação dos economistas Mário Rodarte, professor da UFMG; e Paulo Vieira, professor do Centro Universitário Unihorizontes.
Basta observar apenas dois dos indicadores do IBGE sobre o comportamento do mercado de trabalho em Minas para verificar a intensidade dos problemas. A reação das vagas mostrada nas pesquisas mais recentes, até setembro e outubro, em grandes cidades, a exemplo de BH, Contagem e Betim, na área metropolitana; Uberlândia e Uberaba, no Triângulo, é insuficiente para imaginar a necessidade de incluir 1,2 milhão de pessoas desempregadas.
A chamada taxa composta de subutilização da força de trabalho, que retrata na pesquisa do IBGE o conjunto de desempregados, pessoas sem ocupação devido à insuficiência de horas trabalhadas e aquelas que estão disponíveis para trabalhar se houvesse oportunidade, se aproxima de 2 milhões em Minas.
Mário Rodarte lembra que expressiva parcela de 37% desse universo está representada por gente com posição de comando dentro das famílias. “Junta-se a isso o desafio de reduzir a inflação, que aflige as pessoas de uma forma determinante e cruel na qualidade de vida delas”, afirma o professor da UFMG. Uma das medidas crucias que o estado pode adotar, na avaliação de Rodarte, é incentivar a agricultura familiar, segmento que tem nível importante de produtividade, fator só lembrado no agronegócio. A agricultura familiar não só fortalece o emprego como a oferta interna de alimentos, mecanismo necessário para conter os preços.
Os desafios que o estado enfrenta apontados pelo economista Paulo Vieira se aproximam do diagnóstico feito por Rodarte no que se refere à percepção do estímulo de que a indústria precisa. Mais do que o Brasil, o estado recebe toda a pressão das cotações no mercado internacional de itens agrícolas e minerais, os quais respondem, tanto na produção quanto na exportação, por grande parte da sustentação do estado.
“As dúvidas existentes quanto ao desempenho da China (grande consumidor das commodities mineiras e agrícolas), a recuperação da economia mundial pós-pandemia e o comportamento da própria pandemia com as novas variantes provocam extrema volatilidade nos mercados”, destaca Paulo Vieira. A esse desempenho, como ele chama a atenção, estão ainda ligadas as receitas estaduais, fundamentais para o equilíbrio das contas públicas, tão festejado hoje, a despeito de sua fragilidade, raciocínio que vale, da mesma forma, para o discurso oficial feito nos gabinetes de Brasília.
Lembrando essa mesma vocação industrial do estado, embora dependente de produtos básicos, Rodarte destaca que a construção civil é um segmentos da indústria com poder importante de criação de empregos,e , por consequência, elevação do consumo, além de atrair investimentos privados. De outro lado, o setor industrial incrementa atividades especializadas da prestação de serviços, induzindo empregos de melhor qualidade. Nesse caminho, contudo, a conta dos riscos não deixará por menos em 2022, como alerta o economista Paulo Vieira. E a cobrança já começou com interrogações de sobra num ano eleitoral e grau muito baixo de previsibilidade. Que nos socorra um razoável crescimento mundial!
Carnes e ovos
A China elevou em 10% a receita das suas importações de carne bovina de Minas Gerais entre janeiro e novembro, que somou US$ 480 milhões. No comércio de ovos com o exterior, o estado conquistou novos parceiros: Serra Leoa, Libéria, Gâmbia e Japão. As vendas deste último produto alcançaram US$ 1,6 milhão, acréscimo de 11% frente ao mesmo período de 2020..
Agronegócio
40,8% é a participação das exportações do café – com receita de US$ 3,9 bilhões – no total dos embarques do agronegócio mineiro de janeiro a novembro