Região conhecida como síntese da rica biodiversidade encontrada em Minas Gerais, do potencial da gastronomia do estado e do turismo promissor, a Serra da Canastra terá mapeamento de risco em áreas turísticas a cargo do Serviço Geológico do Brasil (SGB). A empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia vai desenvolver, a partir da semana que vem, dois projetos-piloto para identificar o perigo nos cânions dos rios Xingó, em Sergipe e Alagoas, e Poti, no Piauí.
Na Serra da Canastra, o levantamento e produção de mapas ainda não têm data definida, mas já está previsto dentro dos próximos meses, junto a áreas de cachoeiras no município de Presidente Figueiredo, distante cerca de 127 quilômetros de Manaus (AM). A iniciativa tem importância crucial do ponto de vista da segurança das pessoas e, também, da manutenção e expansão da atividade turística, um dos motores do desenvolvimento socioeconômico em Minas.
A equipe do SGB, sucessor da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, prevê concluir os projetos-piloto no dia 25. O objetivo da iniciativa é oferecer informação qualificada para auxiliar na prevenção de desastres de origem geológica, como o que ocorreu em Capitólio, no mês passado, quando parte de um cânion se soltou, caiu e atingiu lanchas ocupadas por turistas, deixando 10 mortos.
O SGB segue as diretrizes da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, com ações voltadas tanto à prevenção, quanto à mitigação e recuperação de áreas afetadas por desastres. Nos últimos 10 anos, mapeou mais de 1.700 municípios no país, entre eles todas as cidades do Acre, Rondônia, Amazonas, Santa Catarina e Espírito Santo.
Nas áreas urbanas, é feita caracterização de locais sujeitos a enfrentarem perdas ou danos provocados por enchentes, inundações, deslizamentos e erosões. Em zonas rurais, o SGB produz as chamadas cartas de suscetibilidade, nas quais são retratadas as análises do que a empresa pública chama de contexto geomorfológico e geológico.
Abrangendo municípios como São Roque de Minas, Vargem Bonita, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória e Capitólio, a Serra da Canastra predomina sobre mais de 200 mil hectares, com diferentes biomas, fauna vasta em áreas de campos e cerrados, além de chapadões. As principais atrações naturais estão no Parque Nacional da Serra da Canastra, que foi criado em 1972 como instrumento de proteção das nascentes do Rio São Francisco, abrigando a exuberante cachoeira Casca D'Anta, com cerca de 200 metros, considerada a primeira grande queda do Velho Chico.
Na vertente do turismo gastronômico, desde 2008, o queijo artesanal de leite cru feito na região da Serra da Canastra é reconhecido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como patrimônio cultural imaterial brasileiro. Estão na área de abrangência do selo de Indicação de Procedência Canastra as c idades de São Roque de Minas, Medeiros, Vargem Bonita, Tapiraí, Delfinópolis, Bambuí e Piumhi. Há estimativas de que 800 produtores artesanais da iguaria ofereçam, todo ano, cerca de 576 toneladas.
Os próprios números já levantados sobre o turismo em Minas expressam a força que a atividade é capaz de imprimir à recuperação da economia, tendo em vista, ainda, os efeitos da pandemia de COVID-19. O Anuário Turístico de Minas Gerais de 2020 registra fluxo de 17,6 milhões de turistas, queda de 42% em relação ao ano anterior (30,4 milhões de turistas). A receita da atividade encolheu de R$ 20,6 bilhões em 2019 para R$ 12,4 bilhões em 2020, redução de 40%.
Ainda em 2019, atuavam no estado 61.659 estabelecimentos entre agências e operadores, empreendimentos nos segmentos de alimentação, comércio e serviços, entretenimento, hospedagem e transporte. Eles representavam 12,4% do total de estabelecimentos de Minas Gerais. O universo de empregados era de 391.943 em 2019.
Capitólio enfrentou semanas difíceis com a paralisação do turismo depois de 8 de janeiro. Força-tarefa criada junto à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo está trabalhando no programa Reviva Capitólio – Viva o Mar de Minas, com recursos previstos de R$ 5 milhões. A recuperação do turismo na região vai envolver um plano integrado com os atributos da culinária mineira na região da Serra da Canastra. Parte desse planejamento se refere a um aplicativo que permitirá o monitoramento de turistas em passeios náuticos e terrestres.
Reação
O turismo em Minas cresceu 31,6% no ano passado, sob impulso das atividades dos setores de transporte aéreo, hotéis, restaurantes, rodoviário coletivo de passageiros e locação de automóveis. O resultado foi apurado pelo IBGE, que observou aumento nos 12 locais em que a pesquisa é feito no país. Trata-se, em boa parte, de recuperação do turismo, bastante impactado pela COVID-19. Na média nacional, o instituto identificou crescimento de 21,1%.
Pelo retrovisor
11,4%
é o nível em que as atividades turísticas encerraram 2021, ainda abaixo do patamar de fevereiro de 2020