Além do drama de vidas perdidas para a derrotada do que deveria ser uma diplomacia civilizada no mundo, a extensão das consequências da invasão russa na Ucrânia começa a ser avaliada com mais perdas para o Brasil e Minas Gerais do que para seus parceiros de comércio exterior. Inflação maior à mesa será só um dos problemas difíceis que a população já vem tentando administrar. Exportador e importador, o agronegócio mineiro terá de buscar alternativa para evitar prejuízo em momento de boas perspectivas para repetir safra e receita recordes. São resultados essenciais também do ponto de vista da recuperação tão esperada da economia neste ano.
Minas oscila na segunda posição entre os estados exportadores para a Rússia, com a venda de soja e lácteos e costuma se firmar como quarto maior importador, adquirindo adubos e fertilizantes do país comandado por Vladimir Putin. Em guerra e num ambiente de sanções internacionais, oportunidades de negócios, por sua vez, ficam, da mesma forma, comprometidas.
As possibilidades de ampliação de mercados no Leste europeu tendem a se agravar num momento em que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento vem anunciando a conquista de novos mercados para a produção nacional. Minas domina, por exemplo, as exportações brasileiras de café e tem obtido vitórias no investimento progressivo nos grãos especiais.
Com muito espaço para crescer, açúcares e melaço, carnes de ave e boi, soja e café estão no carro-chefe das exportações brasileiras ao território russo. Por outro lado, quase dois terços das importações do Brasil com origem na Rússia são de adubos e fertilizantes. Diante da Ucrânia, as balanças mineira e brasileira perdem, embora tenham suas perspectivas, em tese, de melhorar.
Em relatório de análise sobre o confronto, Pedro Serra, da Ativa Investimentos, destaca que a Ucrânia responde pela produção de 13% do milho no mundo e de 7% do trigo ofertado pelo planeta, mantendo tradicional atuação na agricultura europeia. Num cenário em que as safras agrícolas no país sejam afetadas de forma expressiva, empresas vão sentir não só o aumento dos preços do trigo, milho e de fertilizantes, como deverão ter de lidar com efeito negativo nas bolsas de valores.
Podem ser os casos de duas companhias que detêm participação importante em Minas, a indústria de alimentos M.Dias Branco, líder nacional em massas e biscoitos, e a marca Santa Amália, de massas e biscoitos, recentemente adquirida pela Camil. As duas empresas dependem das importações de trigo.
No mercado de milho, desequilíbrios de oferta podem elevar os custos do produto negociado por grupos como a BRF, que, no ano passado, anunciou investimento bilionário em suas unidades, inclusive beneficiando Minas Gerais; a Seara e a Ambev. Adversidade direta e indireta é mencionada, ainda, na análise de Pedro Serra, quanto às exportações ucranianas de fertilizantes e ao fornecimento de gás natural. A Rússia responde por 40% do insumo verde consumido na Europa. O gás natural é que viabiliza a fabricação de fertilizantes nitrogenados, condição que tende a pressionar os preços e sacrificar o agronegócio no Brasil e em Minas.
No ano passado, Minas exportou o equivalente a US$ 184 milhões à Rússia, valor 35,2% menor na comparação com 2020, representando perda de US$ 100 milhões. A quantia respondeu por apenas 0,48% das vendas externas totais do estado no período, de US$ 38,340 bilhões.
Na mão inversa, importou US$ 724 milhões, acréscimo de 143,4% em relação ao ano anterior. Os negócios com os clientes russos significaram 5,55% das importações globais mineiras em 2021, de US$ 13,059 bilhões. Com a Ucrânia, por sua vez, o comércio estadual é bem mais modesto. As exportações somaram US$ 14,2 milhões no ano passado, tendo avançado 35,2%, mas contribuíram com ínfimos 0,037% dos embarques mineiros, enquanto as compras do estado naquele país alcançaram US$ 46 milhões, 0,35% do valor global das importações. Acompanhar o xadrez jogado pelas potências mundiais, com a invasão russa instalada na Ucrânia, se torna agora tarefa complexa no Brasil e os impactos não terão lado, nem cor no espectro político.
AVANÇO
602 mil - Foi o volume, em toneladas, das exportações de Minas Gerais em janeiro último, incluindo café, carnes, complexos soja e sucroalcooleiro e produtos florestais.
NO PICO
Em Minas, o agronegócio havia começado 2022 com o pé direito. O setor apurou receita de US$ 870 milhões no exterior em janeiro, aumento de 49,9% na comparação com o mesmo mês do ano passado. De acordo com a Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária, trata-se de valor recorde para o mês na série histórica de dados sobre as exportações, iniciada em 1997.