Tradição secular em Minas Gerais e que amplia, de forma surpreendente, seu espaço na geração de renda e emprego no estado, a produção do queijo minas artesanal (QMA) promete boas notícias num cenário de dificuldades para a economia, queda na previsão de crescimento do país e mais aperto no orçamento das famílias. O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) prepara portarias para criação de mais duas regiões caracterizadas para o QMA: Diamantina, porta de entrada do Vale do Jequitinhonha, e a chamada região de Entre Serras, do Caraça à Serra da Piedade.
Está previsto também para 2022 o regulamento do QMA com fungo branco, variedade promissora da iguaria mineira. Os queijos que contêm micro-organismos nas cascas não são novidade na Serra da Canastra e no Serro, mas ainda têm consumo restrito. Em 2017, pesquisadores da Universidade Federal de Lavras estudaram fungos filamentosos e leveduras encontradas em queijos do Serro e no ambiente da produção. Eles são determinantes para a textura, maturação e o sabor, que diferenciam a iguaria do produto industrializado.
Como as condições do ambiente das queijarias são favoráveis para o desenvolvimento do fungo, reafirmam a identidade regional do produto. Trata-se de um fungo que não provoca doenças. Dele surgem enzimas que modificam a aparência do queijo, cuja casca se enruga. Os micro-organismos se alimentam dos nutrientes do leite, crescem e se multiplicam.
São 13 as regiões reconhecidas como produtoras de queijos artesanais. Desse universo, as áreas responsáveis pela oferta do QMA são Araxá, Canastra, Campo das Vertentes, Cerrado, Serra do Salitre, Serras de Ibitipoca, Serro e Triângulo Mineiro. Queijos artesanais de origem local classificam outras cinco regiões: Alagoa, Mantiqueira de Minas, Serra Geral, Vale do Suaçuí e Vale do Jequitinhonha.
O reconhecimento como região produtora valoriza a produção ao permitir que as queijarias adicionem o nome da região ao rótulo do queijo. A informação fortalece as marcas diante de consumidores mais interessados, hoje, na procedência dos produtos, em especial quando se trata de alimentos.
As queijarias se favorecem de uma base importante de matéria-prima em Minas. O estado detém a maior bacia leiteira do país, com mais de 9,7 bilhões de litros por ano, de acordo com o IBGE, e representando 27% da oferta nacional. Esse volume supera o leite destinado à fabricação brasileira total de queijos, que foi de 8,7 bilhões de litros em 2020.
A produção artesanal mineira de queijos chega a 85 mil toneladas anuais, elaboradas por cerca de 30 mil produtores, segundo estimativas da Emater-MG. Ela tem raízes longas no campo, tendo em vista outra estimativa, que indica a fabricação, no ano passado, de 33,5 toneladas por estabelecimento agrícola familiar.
Quando considerada toda a produção das queijarias no país, a participação do estado sobe a 40% do total. A despeito da lenta recuperação da economia, a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento tem destacado iniciativas que já vinham impulsionando o setor, como o melhoramento genético dos rebanhos, o aperfeiçoamento na formação das pastagens, além da impressionante valorização da gastronomia de Minas.
No ano passado, o evento ExpoQueijo distribuiu 118 premiações a mais de 800 queijos apresentados na amostra nacional realizada em Araxá, no Alto Paranaíba. Fabricantes de Minas levaram 66 medalhas, das quais 22 de ouro. A região batizada de Entre Serras da Piedade ao Caraça recebeu neste mês o estudo de caracterização feito pela Emater-MG, que investigou não só o processo de fabricação da iguaria, como também a história, cultura e o clima local.
A área ocupada pelos municípios de Catas Altas, Barão de Cocais, Santa Bárbara, Rio Piracicaba, Bom Jesus do Amparo e Caeté produz cerca de 1,4 mil queijos por mês e tem histórico associado a rico patrimônio natural, turístico e religioso. A fabricação tem raízes na antiga atividade da mineração nos tempos ainda do Brasil colônia, quando havia uma cadeia de produção de alimentos para suprir os trabalhadores nas reservas minerais de Minas. O modo local de produção é classificado como característico de uma região produtora de QMA.
Adversidades
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) começou, nesta semana, o acompanhamento da safra da cana-de-açúcar em Minas Gerais e Pernambuco. A Siamig, associação da indústria sucroenergética de Minas, já havia observado que, no ano passado, a seca afetou o desenvolvimento dos canaviais, assim como o fenômeno das geadas sacrificou o cultivo pronto para ser colhido e também as rebrotas. Em agosto e setembro de 2021, foi a propagação do fogo que impactou as plantações.
Em cadeia
1 milhão é o número estimado de empregos gerados na cadeia da produção leiteira de Minas, com baseem dados de 216 mil fazendas compilados pelo Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais