Símbolo de esperança e prosperidade, a colheita do café em Minas Gerais é preparada para maio com expectativas que não se resumem ao resultado da temporada, num ano de desafios complicados na economia e na política tanto no Brasil quanto no mundo. Carro-chefe das exportações do estado, o ouro negro é um dos produtos do agronegócio que mais tem conquistado novos destinos, expansão que, agora, passa por um teste difícil diante dos efeitos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que tem afetado o comércio internacional e a logística de escoamento de mercadorias.
Fora do circuito costumeiro das vendas no exterior, os novos clientes mais promissores para o café mineiro estão na China, onde os jovens parecem decididos a apreciar a bebida feita de grãos selecionados. Há potencial também para retomada de mercados no Oriente Médio, como observa Ana Carolina Alves Gomes, analista de Agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas (Faemg).
A tarefa não é fácil num momento em que outros países também se movimentam nessa mesma direção de substituir ou ampliar parceiros comerciais. Contudo, a boa performance exibida pela cafeicultura mineira nos embarques em janeiro e fevereiro são um bom sinal, com aumentos de 4% em volume e de 76,9% na receita, atrelados à valorização do dólar e do preço.
“Temos um cenário, a princípio, otimista no sentido de fluxos logísticos marítimos com leve melhora e também com a entrada da safra”, diz Carolina Gomes. As exportações do tradicional produto mineiro somaram US$ 1,2 bilhão no primeiro bimestre, com as 317,6 mil toneladas comercializadas. O café dividiu a liderança da pauta de vendas externas totais do estado com o minério de ferro, tendo respondido por um quarto da receita das exportações totais de Minas, de US$ 4,8 bilhões.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento comemorou a inclusão, neste ano, de 15 novos mercados na lista das exportações do Brasil, mas eles ainda estão do lado de fora da festa. Abrir mercados não representa expansão imediata de vendas logo que são feitos os acordos de condições sanitárias a serem atestadas e da certificação dos produtos.
Firmada a negociação e abertas as portas dos países signatários, ainda será necessário que os produtores e exportadores se preparem para atender as exigências dos clientes, assim como terão de entrar em campo a promoção comercial e um trabalho de divulgação dos produtos. Ao lado do café, participaram dessa empreitada, que, neste ano, pode ter de vencer dificuldades provocadas pelos efeitos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, soja, açúcar, carnes de aves e bovina.
Quando considerados os últimos três anos dessa busca incansável de conquistar novos mercados, a façanha do Brasil se deve, entre outros produtos, a carnes exportadas para a Argentina, sementes de hortaliças, frutas e verduras comercializadas no Egito. Ovos de galinha férteis passaram a ser vendidos em Marrocos, Camarões, Japão, Emirados Árabes, Jordânia, Uganda e África do Sul. Ainda para a Argentina, Canadá, Zâmbia, Qatar, Mianmar, Camboja e Iêmen, Cuba e Irã, se destacaram sêmen e embriões bovinos.
Para o café, safra não parece que será problema. O primeiro levantamento feito pela Conab mostrou que a área destinada à produção no país, de 1,82 milhão de hectares, teve ligeiro avanço, deixando o destaque na conta da produtividade das lavouras. A produção foi estimada em 55,7 milhões de sacas de café beneficiado, 16,8% de aumento na comparação com os números do ano passado. Em Minas, a Conab previu avanço superior, de 21,9% na mesma base de comparação, também impulsionado pela recuperação da produtividade, que cresceu 20,6%, a despeito das adversidades impostas pelas mudanças climáticas. É esperada produção de 26,997 mil sacas, com a boa performance trazida pelo período positivo da bienalidade da planta.
* Minha coluna se despede nesta edição devido a novos projetos que pretendo desenvolver, após mais de 30 anos dedicados ao jornalismo econômico no Estado de Minas. Espero que persista o trabalho ao qual me dediquei de desmistificar o 'economês' e aproximar o leitor dos fatos marcantes nessa área.
NA MIRA
A expansão das exportações de café e outros itens destacados do agronegócio tem sido buscada nos próprios mercados parceiros do comércio do estado com o exterior. Entre esses destinos do grão estão Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão e Bélgica.
RETRAÇÃO
46% - Foi quanto caiu, em janeiro e fevereiro, a receita das vendas de minério de ferro e concentrados de Minas ao exterior, de US$ 1,19 bilhão