Jornal Estado de Minas

Uma nova terra implica a passagem pelo deserto

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


Nem depois de participarem de um dos maiores milagres do Antigo Testamento, atravessando a “pé enxuto” o Mar Vermelho, aberto por Deus para fugirem com segurança dos soldados do faraó, os israelitas ficaram confiantes que teriam um bom destino, que a Terra Prometida seria mesmo espaçosa e boa, onde corriam leite e mel.



Ficaram livres da vida de humilhação imposta pelos egípcios, do horror da escravidão, sabiam que só mesmo uma mão poderosa poderia dar-lhes tamanha força, mas várias vezes se mostraram um “povo de cabeça dura”.

Conseguiram se emancipar da submissão ao Egito e em vez de vassalos do faraó se tornaram o povo de Deus. Neste pacto que abrangia a iniciativa do Senhor e a contrapartida do povo, para eles era difícil aceitar as regras de uma nova vida, de um novo normal.

A passagem pelo deserto mostra a imperfeição do povo, sacudido por crises, amargos queixumes, família por família na lamúria, inflamados gritos: “Quem nos dará o que comer?”.




Chegaram a ter saudades das cebolas do Egito. “No Egito éramos escravos, mas tínhamos de graça as cebolas. Por que saímos do Egito?.”

Sempre murmurando, mais de 10 vezes puseram Deus à prova. Mas como o caminho se faz é caminhando, viveram também seus momentos de coração disposto e espírito generoso, contando uma história de amor, fé e esperança durante a travessia.

Todos temos desertos para atravessar. Depende de nós como vamos caminhar por ele: lamentando as cebolas ou transfigurando o peso do lamento em leveza de contentamento? Benção ou maldição? Nesta pandemia, em que todo mundo tem se voltado mais para dentro, como um refúgio contra o medo e a incerteza, cada um vem colocando paisagens internas conforme quer ou dá conta. 

Alguns procuram ser o sol da manhã, evitando o risco de virar a poeira que esconde os raios do astro-rei. Outros quase desaparecem entre tantas paisagens que imaginam para distrair os dias. Outros preferem apurar os ouvidos para os ruídos do interior.



Alguém se vê diante da paisagem da desolação. Outros sonham quando os dias não serão mais assim. E mais aqueles que pensam em voltar para um mundo que em nada se modificou. Depende de nós. Cara ou coroa? Verso ou reverso? 

Os israelitas murmuravam, mas andavam. Todos os dias eles iam para a frente, seguindo uma coluna de nuvem de dia e uma coluna de fogo à noite. Nós ficamos dando volta em torno de nós mesmos.

Não recebemos uma tábua com os mandamentos escritos pelo dedo de Deus nos convidando a um novo agir. As leis vieram em boletins, documentos oficiais e redes sociais: leis governamentais, normas sanitárias, pesquisas científicas. 

Informações que esconderam nosso sorriso e nos revelaram mãos impuras, nos mostraram o perigo de uma proximidade, nos tornando impacientes com o presente e assustados com o futuro, o queixume se tornou uma linguagem natural.



Estávamos na escravidão de um vírus e, distraídos, não percebíamos. Parecia um sonho mau que ia passar, mas o sonho mau não passava E aconteceu: como os israelitas, estávamos no deserto, havia uma nova lei em direção a uma nova vida e murmurávamos. Começamos a lamentar as cebolas do Egito, a ter saudades até dos danos e enganos de outrora.

Os israelitas chegaram numa terra boa, com águas correntes, fontes e lençóis de água subterrâneos, que brotavam nos vales e nos montes, terra de trigo, cevada, vinhas, figueiras e romãzeiras, terra de oliveiras, de azeite e mel.

Nós também daqui a pouco estaremos em uma nova terra, com a impressão de que fizemos a travessia ao contrário – rumo à escravidão. Uma vida cheia de leis para sair, chegar, ir-e-vir, andar de carro, ir à missa, ao cinema, passear com a família. Leis ditando onde sentar, como tratar com o gerente, como ir à escola, como conviver. Recomendações, informes, placas, avisos. Logo, logo vira hábito.

Conserta-se o exagero, permanece o necessário. 
Ficará o ensinamento. O cristão perseverou na fé e não se esquecerá que durante todo esse tempo brotou maná do céu para alimentar a esperança. O cristão acredita que nesta nova terra também correm leite e mel. Cebolas serão apenas cebolas. 




audima