Dizem ter sido uma viagem de quatro a cinco dias. Saíram de Nazaré e se puseram a caminho por vales e montes, talvez Maria em cima de um burrinho, José à frente (ou do lado?) guiando o animal que os levava para cumprir ordens de um decreto do imperador romano César Augusto, que exigia o recenseamento “de todo mundo habitado”. Talvez tenham se alimentado de frutos silvestres, pães caseiros providenciados por Maria, e água das fontes.
Estudiosos dizem que há controvérsias na data do nascimento e que não haveria necessidade de comparecimento na cidade natal. Os interessados deveriam se apresentar na localidade onde tinham terras de sua propriedade o que, segundo Bento XVI, poderia indicar que José foi para Belém porque teria ali um terreno.
Outros pensam que as pousadas de Belém estivessem repletas de gente ou que José (ou Maria?) não teria achado conveniente um nascimento em lugar tão à vista de todos. Ou que os proprietários das estalagens não tivessem tido boa vontade de receber um casal em vias de um parto, fechando as portas ao Salvador.
Alguns guias turísticos cristãos, morando na Terra Santa de hoje, empenhados em desvendar acontecimentos tão distantes, foram à arqueologia para dizer que naquele tempo Belém ainda não era uma cidade, e que as famílias viviam em grupos familiares em grutas, colocando os animais ao fundo. Eles acham que Maria e José, em busca de maior intimidade, se alojaram em uma dessas grutas procurando mais o fundo, daí Maria ter acomodado a criança em uma manjedoura, o único objeto, naquelas condições, para servir de berço.
Dizem. Acreditam. Pensam. Acham. Faz tanto tempo...! O que aconteceu realmente naqueles santos dias? Por que a gruta, a manjedoura, os animais? Para preencher esses espaços, a fé de antigos religiosos levou ao livro de Isaías: “O boi entende seu proprietário, o burro conhece o cocho do seu dono, só Israel não tem conhecimento, só o meu povo não entende”. Nenhum dos evangelistas cita a presença do boi, do burro, da ovelha.
Ou poderia ser uma lembrança de um texto do profeta Habacuc que diz que “o Messias se manifestará entre os animais”. Lindas histórias para emoldurar o maior acontecimento da humanidade: na estrebaria, Deus chora ao nascer de Maria, sob os cuidados de José, transformando a noite feliz em noite sagrada. Dorme em paz, ó Jesus! Dorme em paz, ó Jesus!
Quando surgir a primeira estrela na noite do dia 24, encerra- se o Tempo do Advento, que marcou o início de um novo ano litúrgico, e começa o Tempo de Natal, que vai até o domingo do batismo do Senhor, 12 de janeiro. Troca-se o roxo pelo branco. Depois de quatro domingos nos preparando, eis que o Menino vem, cumprindo sua promessa e unindo céu e terra. O Tempo de Natal é formado por cinco festas que celebram o mistério da manifestação do Filho de Deus em nossa natureza humana. São elas: Natal do Senhor; Festa da Sagrada Família; Maria, mãe de Deus; Epifania do Senhor; Batismo do Senhor.
Nesta semana, ressoa entre nós o anúncio do Natal do Senhor – acende-se uma nova luz, que deixa o infinito e vem habitar nos corações mansos e humildes de quem esperou com fé e devoção. “Ocultando a grandeza da sua majestade, o Senhor do universo assume a natureza do servo”, segundo São Leão. O céu veio à terra em humilde estrebaria, com uma manjedoura servindo de berço, panos improvisados envolvendo o bebê e a visita de pastores, os marginais, desprezados e excluídos da época. É na pobreza, fragilidade e simplicidade que Deus se manifesta e oferece a salvação à humanidade
O Filho de Deus assumiu em tudo a nossa condição humana, entrou em uma família e viveu a vida nossa de cada dia. José era o pai legal e a ele cabia sustentar mãe e filho. Ensinou a Jesus o ofício de carpinteiro e foi um fiel guardião, aceitando todas as indicações divinas que recebia para proteger o filho. “Levanta-te, toma o Menino e vai para o Egito.” De Maria, Jesus deve ter aprendido rotinas das mulheres daquele tempo, que, como bom observador, depois Ele levou para suas parábolas, como misturar as massas e deixá-las fermentar de um dia para o outro, ou como ajustar um remendo em uma roupa rasgada.
Se não chover demais, será possível ver a estrela-guia a nos mostrar o caminho. Nesses dias do advento, não se deve descuidar de olhar o céu.