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Evangelho: Palavras que não passarão

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No início de janeiro, encontramos os mineiros sofrendo sob uma chuva debaixo de rompimento de barragens, inundações, deslizamentos. O nosso olhar era para baixo, entre o céu e a lama, os modestos barracões desabando nos morros, sempre um novo dia pedindo a proteção do Senhor. Assim como Noé, ficamos ouvindo a chuva sem parar, esperando, como o profeta, quando Deus faria soprar um vento e as águas baixariam.




 
Até que a pombinha trouxe um ramo de oliveira dizendo que a chuva iria cessar. E quando seu arco pintou as nuvens, Deus se lembrou de que o sinal de aliança não mais repetiria o dilúvio. E em nossa terra, aqui também a chuva parou e uma pombinha nos mostrou que o ramo era o sinal de que a vida de dor e sofrimento chegara ao fim.
 
Pois é assim que, afinal, pudemos todos viver ao sol, principalmente para os que vivem no alto da montanha, sem dúvida, contemplando variados espetáculos da natureza.

Ora é o Sol nascendo, começando a colorir o dia com seus primeiros raios dourados, parecendo renovar todas as coisas; ora é o ocaso, no qual o astro-rei cede o lugar à rainha da noite, a Lua, encerrando o dia com cores fortes e vibrantes, numa despedida que não é senão um “até amanhã”.
 
Outras vezes, as nuvens cobrem ou enfeitam o céu formando desenhos que alimentam a imaginação dos observadores. Mais sugestiva situação, talvez, seja quando a névoa envolve o panorama como um manto, deixando descobertos apenas os picos dos montes, fazendo evocar o belo trecho do Pequeno Ofício da Imaculada Conceição: “E cobri como névoa a Terra toda”.



Tem sua beleza também o céu inteiramente límpido – “céu de brigadeiro”, dizem os aviadores –, quando no horizonte infindo a terra e o céu se encontram, quiçá simbolizando um abraço entre o tempo e a eternidade.
 
Ao longo da História, Deus escolheu o alto dos montes para se manifestar aos homens: no Sinai, entregou a Moisés as tábuas da lei com as bem-aventuranças no Sermão da Montanha; para transfigurar-se ante três de seus discípulos, Cristo elegeu o Tabor; e, no Calvário, ofereceu-se ao Pai como o Cordeiro sem mancha, para a redenção do gênero humano.

E séculos antes de vir ao mundo, o salmista já cantava: “Monte de Deus é o monte de Basã, monte elevado é o monte de Basã. Por que tendes inveja, montes elevados, do monte que Deus escolheu para morar? O Senhor vai morar nele sempre”. Qual seria essa montanha na qual quis Deus habitar para sempre, prevista já no Antigo Testamento?
 
Parece que, quando criou o mundo, Deus colocou nos lugares altos uma espécie de “impressão digital” da Sua glória e grandeza. Quando subimos ao topo de altas montanhas e colinas, brota dentro de nós um intenso sentimento de admiração.



Para o cristão, esta experiência se torna ação de graças. Não é surpreendente, então, que tantos altares a Deus tenham sido edificados em grandes elevações? É uma forma de dizer “obrigado” ao Criador de tantas vistas que O evocam espontaneamente.
 
No NT, Jesus sobe ao monte, junto ao mar da Galileia, e senta-se. Ao seu redor, em círculo, estão os discípulos mais íntimos, e depois uma multidão vinda de todas as partes da terra. Fala para anônimos, mas na verdade fala para o mundo inteiro. Fala no presente para o futuro, para sempre – palavras que jamais passarão.
 
Começa coroando de felicidades pessoas de categorias não muito consideradas na época e pronuncia o que alguns teólogos consideram o mais revolucionário dos discursos, por ser divino, uma autêntica constituição do povo de Deus.



Durante os capítulos 5 a 7 de Mateus, o Mestre passa 111 versículos enxugando as lágrimas dos aflitos, consolando, saciando a sede de justiça. Tornando um grão de sal um exemplo de sabor, fazendo da luz no candelabro a possibilidade de iluminar o mundo.
 
O amor é exigente neste Jesus da montanha: oferece a outra face, ensina a amar os inimigos, a passar pela porta estreita, combate a iniquidade e critica a generosidade que usa trombetas para anunciar suas obras. Fala dos bens verdadeiros, não dos passageiros. Ensina a rezar o pai-nosso e aconselha a sermos perfeitos “como meu Pai é perfeito”. Abre o reino dos céus.