Jornal Estado de Minas

COLUNA

Daqui de longe

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


 
Dois americanos e dois russos mantêm colaboração operacional na Estação Espacial Internacional enquanto esperam 30 de março, dia em que o americano deve pousar no Cazaquistão, a bordo da espaçonave russa Soyuz. Os parceiros, com habilidades e capacidades diferentes, têm trabalhado juntos na cápsula.



Os americanos compraram assentos no veículo russo e é assim que o americano voltará para casa trazido pelo russo na Soyuz. Apesar das crescentes tensões geopolíticas, para eles a terra é azul e o mundo é pequeno enquanto um abraça o outro no pequeno espaço sem gravidade da espaçonave.
 
Lá embaixo, na imensidão da terra, já todo este mês cidades se bombardeiam, fazendo uma guerra sem fim, que já levou mais de três milhões de refugiados da Ucrânia para a paz oferecida pela Polônia, nos abrigos improvisados nas fronteiras e entre os lares que conseguem um espaço no meio da sala da casa, já carregada de dores que se somam umas com as outras de famílias que nem se conhecem.

A tristeza não tem o que dizer. Dizer o quê? Daqui de longe esperamos que o cessar-fogo aconteça logo, mas como é difícil viver a guerra vivendo aqui. Parece que o flagelo que acompanhamos na televisão é um sonho mau que vai passar, mas nem sempre ele passa e a guerra nunca acaba.




 
Enquanto uns vivem no espaço e outros na sofrência da guerra, em nosso mundo que iniciou outono, ainda poderemos viver as consequências do final da época de chuva. Haveremos de falar muito sobre como foi este princípio do ano em março, que poderá vir bravo ou mais.

Técnicos continuam apresentando sugestões para que o Brasil aprenda a cuidar de moradias em encostas de modo que o descuido não acabe em tragédia e para que a próxima estação das chuvas não seja “o fundo do poço nem o fim do caminho”. Sonhemos que “as águas de março fechando o verão sejam promessa de vida no coração”.
 
Há outra espécie de chuva que também faz doer. “Pior que chover lá fora, é chover na alma”, diz alguém que faz parte dos 5,8% da população brasileira que sofre de depressão, taxa acima da média global, de 4,4%. O que significa quase 12 milhões de brasileiros, colocando o país no topo do ranking no número de casos de depressão na América Latina, segundo a Organização Mundial da Saúde.



Estamos no tempo da Quaresma. Os sacerdotes, nos revestimos de roxo, as igrejas estão sóbrias. Nossa vida é constituída por ciclos e, como cristãos, fomos convidados a começar um novo tempo a partir da Quaresma que nos conduz até a Páscoa.

A Quaresma nos chama ao jejum, à oração e à esmola. O jejum como expressão do domínio de si próprio em privar-se de alguma coisa, em ter força para dizer não a si mesmo; a oração como abertura para Deus; e a esmola como abertura para o outro, ou seja, um movimento para dentro, um para o alto e um para o lado.
 
Se para os dois primeiros movimentos Cristo impôs regras (não tocar trombeta ao orar chamando a atenção para que todos vejam como é devoto e não se apresentar pálido e enfraquecido pelo jejum), também há regras para a caridade. Teólogos e estudiosos batem há anos na mesma tecla: caridade não é oferecer moedas como se tratasse de uma fria esmola nem fazer doações a obras de beneficência.



A caridade deve vir do amor que nasce do coração de Cristo. O mérito não está nem no pouco nem no muito, mas na vontade de dar. Não se pode ter um coração para amar a Deus e outro para querer bem ao próximo.
 
A Quaresma é, portanto, um ótimo tempo para se aprender a fazer o bem. Exercer a caridade agora e continuar praticando pela vida afora, pois o crescimento nas virtudes surge como consequência de um empenho cotidiano até se tornar um hábito arraigado. Amar sem medida, como Deus pede.

São Leão Magno, um dos maiores papas da história da Igreja, dá à caridade o nome de misericórdia. “Não só os ricos podem beneficiar os outros com a esmola, mas quantos vivem em condições modestas e pobres. Assim, desiguais nos bens de fortuna, todos podem ser iguais nos sentimentos de piedade da alma.”

Vale repetir: desiguais nos bens, iguais nos sentimentos.