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COLUNA

Pandemia: Os ensinamentos do tempo de esperar

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Além de ser a primeira mulher a viver no Éden, Eva foi a primeira pessoa a passar pelo tempo de espera, durante a gestação do primogênito Caim. Também esperou 40 dias o patriarca Noé, enquanto as águas subiam tanto que a arca flutuava elevada acima da terra, deixando-o junto com sua família e um casal de cada espécie de animal ilhados no dilúvio.




 
Mesmo que as águas subissem encobrindo as montanhas mais altas que existiam debaixo do céu, Noé acreditava que seria recriado um outro mundo, que eles mereceriam um novo arco-íris, que um dia a arca pousaria sobre os montes e que em uma tardinha qualquer a pomba voltaria com um ramo de oliveira no bico.
 
Ao sair de Ur dos Caldeus, a pedido do Senhor, quanto tempo Abraão esperou até que fossem cumpridas as promessas de Deus de que “tu serás pai de uma multidão de nações”, “olha para o céu e conta as estrelas se fores capaz. Assim será tua descendência”?

E porque sabia esperar e acreditava, muitas vezes Deus visitou Abraão, como naquela vez, no maior calor do dia, quando o profeta estava assentado à entrada da tenda junto ao carvalho de Mambré. Por isso Abraão morreu numa “feliz velhice”.
 
Para receber do Senhor as tábuas de pedra com os 10 mandamentos, Moisés ficou no Sinai 40 dias e 40 noites sem comer pão nem beber água, sem nenhuma pessoa por perto, nem mesmo ovelhas ou bois pastando na montanha.




 
E passou 40 anos conduzindo seu povo do Egito para uma terra boa e espaçosa, onde corria leite e mel. Moisés e os israelitas esperaram porque acreditavam que Deus tinha escutado seus gritos de aflição e os libertaria da opressão dos egípcios. Esperaram pelo tempo que foi necessário.
 
Para receber o que aprendemos com os dois anos de sofrimento, a vida veio vindo, veio vindo, e prometemos que o elo não iria se partir. Que sairíamos mais cuidadosos, mais generosos, mais lindos e maravilhosos. Aprendemos que o ar nos trouxe impiedosos inimigos invisíveis, que lavar as mãos demora, não podia ser com essa pressa toda, ora. Nem o elevador queríamos dividir. Só nós e nossa solidão no ir e vir. Enfim, saímos da murmuração.
 
Aquele desânimo diante do futuro, impacientes com o presente de cada dia, sem noite devorando o dia, nem nuvem escura envolvida pela amargura. E nos perguntávamos se o problema estava na atmosfera ou nos corações. Enquanto a ação do mundo se concentrava muitas vezes em um pequeno cômodo da casa. Foi o nosso tempo de esperar.




 
Por algum motivo, escritores, artistas do canto e do violão escreveram poemas dizendo que nosso dilúvio, não de águas, mas de um vírus que ninguém via, alojava quase sem saber onde e matava sem saber por que, estávamos navegando sobre ondas de dúvidas, medo, insegurança. Na pandemia, pelo menos, cada um tinha o seu barquinho.
 
Na solidão de um barquinho onde cabiam apenas nós e nossos sonhos, nossa capacidade pessoal de enfrentar dificuldades. Uns choravam porque os netos não cabiam no barquinho. Alguns deslizavam docemente sobre as águas, outros soluçavam de dor. Cada um fazia seu barquinho navegar como dava conta, afastava o cisco do dia como podia. No barquinho aprendemos a esperar.
 
Pois o tempo passou, a vacina já está nas crianças, os adultos comemoram a quarta dose, as escolas com a alegria dos alunos, as viagens daqui para acolá, na fazenda ou no exterior, as igrejas lotadas de fiéis, todos já felizes de novamente terem coragem de assumir seus bons sentimentos. A família voltou a ser todos. A memória afetiva que só a um emocionava e que só um lhe estimava valor quando estava sozinho, agora já pode ser dividida num almoço de família.
 
A vida é feita de esperas. Esperando o filho; esperando o bebê; esperando os sonhos extraordinários do jovem se transformar em projetos para a vida; esperando o vestibular; esperando o tempo que for necessário, uma vida se preciso; esperando o aumento; esperando a aurora; esperando a lua clarear a noite.

Esperando, esperando. Que a água degele, que a brisa substitua o vento, que sejamos fortes e resistentes para retomar, reformar, moldar e amadurecer a fé de cada santo dia. Esperando a semente virar flor.