Penso que o Dia das Mães tem 24 horas, parecendo que o tempo tem extremos como o do meio-dia, no auge, e o da meia-noite, na ausência. Talvez um meio-termo, apontando o nascer e o morrer, como a noite das preces, e a manhã dos assuntos gerais, quando o prazer tem mais competência que a dor, ou o sol do meio-dia que não é para ser admirado, pois nem sequer conseguimos olhar para ele.
Ou onde cada minuto é um século, quando uma mãe conversa com a outra trocando segredos exclamativos, receitas de família, histórias alegres e coloridas das crianças, e, às vezes, reclamando de a vida estar pouco criativa, repetindo cenas sem imaginação tal a pressa também no trabalho, sempre ocupadas e produtivas.
Na noite das preces, de mãos postas, mães dizem que todo dia é dia de orar pelos filhos. Sempre há um senão, uma dificuldade, uma curva, um desvio. A vida é assim. Os sonhos dos filhos não são os que a mãe sonhou enquanto comprava roupinhas e o berço do enxoval. Os filhos têm os próprios sonhos.
Segundo Bento XVI, “a oração nunca é tempo perdido… só se pudermos viver na oração fiel, constante e confiante, o próprio Deus nos dará força e capacidade de viver com alegria e paz, superando as dificuldades”. Pode parecer mais um item da lista de tarefas pendentes das mães. Podem pensar que seria difícil encaixar mais orações em tudo o que fazem. À medida que passam o dia conscientemente reservando mais tempo para a oração, terão menos estresse, mais paz e conseguirão resolver todos os itens da lista de “coisas a fazer”.
Seja a que hora for, mãe tem este dom: transformar fel em mel, amargor em doçura. Saber falar “não” com a mesma serenidade com que diz “sim”, sabendo a hora certa de dizer um ou outro. Depois que crescem, os filhos quase nunca ficam por perto, mas elas estão sempre perto deles quando precisam. Nem se importam de gostar mais de ser mãe do que eles de serem filhos, pois têm um jeitinho especial de colocar prazer na convivência. No tempo que for, se tornam uma mãe companheira, justa e generosa, apta a passar valores e vivência.
Mãe de 24 horas, piedosa e devota, Santa Mônica enfrentou um marido violento e mulherengo e um adolescente rebelde. Converteu os dois. E Deus foi abrindo os caminhos para enxugar as lágrimas de Mônica, colocando na vida de Agostinho o santo bispo Ambrósio, em Milão, que o encantou primeiro pelo conteúdo literário de sua pregação e depois pela doutrina dos sermões. Santo Agostinho então deu um basta à vida antiga, convertendo-se aos 33 anos. A mãe viajou logo para Milão para viver esses momentos com o filho. Finalmente, eram uma boa companhia um para o outro.
No ano de 387, Santo Agostinho foi batizado e planejou servir a Deus em Tagaste, África. Voltava para a pátria com a mãe, o filho, o irmão e um amigo e fizeram uma parada em Óstia, perto de Roma. Foi ali que Santo Agostinho e Santa Mônica tiveram talvez o encontro mais significativo de suas vidas. No seu livro “Confissões”, Santo Agostinho narra que, apartados da multidão, após o cansaço de uma longa viagem, mãe e filho se apoiaram a uma janela, cuja vista dava para o jardim da casa onde estavam. Esqueceram o passado e se trataram com docilidade. Mãe e filho comungando a mesma fé, sonhando os mesmos sonhos. Falaram de santos “que nunca viram”, beberam “na fonte da vida”, divagaram até “o céu, donde o sol, a lua e as estrelas iluminam a terra”. Admiraram as obras do Pai.
“Imaginam”, “supõem”, “dizem” coisas que lhes habitavam a alma. Um encontro de ambos com Deus.
Santa Mônica viveu quase toda a sua vida orando pelo filho. No livro, é o filho quem ora pela mãe, que conseguiu muito mais do que apenas um “cristão”, mas um filósofo, teólogo, místico, poeta, orador, escritor, pastor, bispo, doutor, pensador, que falava para todos os corações. Um dos maiores e mais admirados santos da Igreja. Com Santa Mônica e Santo Agostinho aprendemos que às vezes nossos filhos somos nós para melhor. Bom que seja assim. Bom quando é assim.