Quando vai amarrar o sapato, você começa pelo pé direito ou pelo esquerdo? Provavelmente, você precisou parar pra pensar antes de responder a essa pergunta e pode ser que nem assim tenha conseguido chegar a uma conclusão. Isso acontece porque essa é uma atividade que você realiza de forma automática, com base em comportamentos que de tanto se repetir viraram hábitos ou em instintos que você segue sem nem mesmo perceber.
Essa situação pode parecer banal, mas ela é uma ótima forma da gente entender que comportamentos automáticos também podem fazer parte da nossa vida financeira. O uso do cartão de crédito, por exemplo. Para muita gente, ele é tão automático que não contempla algumas perguntinhas básicas que todo mundo deveria responder antes de inserir esse pedaço de plástico na maquininha: tenho limite? Vou ter dinheiro pra pagar essa compra no próximo mês? Será que essa parcela não vai se acumular com outras que já estão na minha fatura?
A reflexão que eu quero trazer hoje é o quanto esses pensamentos "automáticos" podem estar sabotando suas finanças e quais emoções estão por trás desses comportamentos por impulso.
Você vem comigo nessa reflexão?
Comportamentos que podem sabotar sua vida financeira
Antes de entender por que você toma determinadas atitudes e qual o melhor caminho para sair do automático, é preciso ter clareza de quais pensamentos e comportamentos podem estar sabotando suas finanças sem você perceber. Confira alguns exemplos:
Acreditar que educação financeira não é pra você
"Eu não nasci pra lidar com dinheiro", "educação financeira é pra quem quer investir e eu mal pago minhas contas", "quando eu tiver um salário maior e conseguir começar a guardar dinheiro, eu paro pra pensar nisso". Essas são algumas das frases que eu já repeti muitas vezes pra mim mesma e para outras pessoas. Fiz isso até o dia que descobri que essas crenças nada mais eram do que desculpas que eu inventava pra não precisar olhar de frente pra minha situação financeira.
Se você acha que esse negócio de entender de dinheiro é difícil e não é pra você e que você vive muito bem no meio do caos financeiro que faz parte da sua vida há tanto tempo, saiba que esses pensamentos podem estar te impedindo de melhorar a sua relação com o dinheiro.
Achar que planejamento financeiro dá trabalho e nem é tão necessário
Se você é do time dos que pensam dessa forma, já quero te adiantar que as duas crenças são bastante limitadas e podem estar sabotando suas finanças. Organizar o seu orçamento mensal, controlar ganhos e gastos e se planejar financeiramente para alcançar os seus objetivos não só é indispensável para fugir da autossabotagem, como é mais simples do que você pensa.
O importante é você entender que
planejamento financeiro
não é sinônimo de planilhas complexas e aplicativos que pedem todas as informações sobre a sua vida. Na verdade, se eu precisasse explicar o que significa se planejar financeiramente em apenas uma frase, eu diria que é o mesmo que tomar o controle da sua vida nas suas mãos e ser responsável por decidir quais caminhos você quer seguir. Tão bom isso, você não acha?
Ou seja, planejamento financeiro tem muito mais a ver com a liberdade que só você pode conquistar do que com a prisão que você acha que vai enfrentar se começar a controlar seus gastos.
Comprar por impulso com base em motivações externas
Quem nunca comprou um produto só por que ele estava em promoção que atire o primeiro boleto. Na verdade, as estratégias de marketing do comércio são pensadas exatamente para mexer com nossas emoções e esse senso de oportunidade pode ser, na verdade, uma grande armadilha pra gente agir por impulso.
Outro comportamento bem comum nesse sentido é gastar como forma de se recompensar por algo. Teve um dia difícil de trabalho? Bora pedir um delivery! Aquele projeto que você trabalhou por tanto tempo foi aprovado? Precisamos sair pra comemorar! Seu chefe pediu pra você alterar a data daquelas férias pelas quais você aguardava ansiosamente? Parece uma boa ideia comprar aquela roupa que você tava namorando só pra ter algum motivo pra ser feliz na semana.
Longe de mim querer defender que você não deve celebrar as conquistas ou extravasar as frustrações de alguma maneira, viu? O que eu quero te alertar é que esses comportamentos podem nos levar para um sistema de autossabotagem financeira sem nem mesmo a gente perceber.
Viver como se não houvesse amanhã
Eu também já me sabotei muito com esse comportamento e durante muitos anos vivi abraçada naquela ideia de que a gente morre e não leva nada - guardar pra que, então? Eu precisei mudar esse comportamento depois de me envolver em um acidente de trânsito e passar muito perrengue pra pagar o conserto do carro.
A
reserva de emergência
não tem esse nome por acaso e ajuda a lidar com situações imprevistas que envolvem a necessidade de gastar dinheiro. No fim, o que a gente precisa mesmo é entender que não dá pra viver como se não houvesse amanhã, porque, diferentemente do que cantava Renato Russo, na verdade há sim - e amanhã você pode precisar daquele dinheiro que você gastou hoje sem necessidade!
Como se livrar da autossabotagem financeira
Não se preocupe: o primeiro passo nesse sentido você já está dando, que é exatamente buscar conhecimento e tomar consciência das situações que podem estar jogando contra o seu bolso. Mas, não para por aí. Existem outras ferramentas muito eficazes que podem te ajudar a fugir da autossabotagem.
Autoconhecimento
Entender como você lida com determinadas situações é o primeiro passo para mudar esses pensamentos e comportamentos automáticos. E nesse contexto, só existe um caminho para o autoconhecimento:
falar sobre as suas dificuldades financeiras
e sobre as emoções que as questões que envolvem dinheiro te causam.
Inclusive, é bom ter em mente que a relação entre o dinheiro e as suas emoções não é só de causa, mas também de consequência. A situação que relatei acima sobre as compras por impulso com base em motivações externas são um ótimo exemplo disso. Estar vulnerável emocionalmente pode te levar a escolhas financeiras ruins, te causando uma situação financeira complicada. E uma situação financeira complicada, como você já deve saber, impacta fortemente as suas emoções.
E é assim que você entra num círculo vicioso que tende a te levar para lugares nada agradáveis. Inclusive, falei sobre a
relação entre saúde financeira e saúde mental
na coluna da semana passada e vale a pena você dar uma conferida para já ir praticando o seu autoconhecimento.
Senso de autorresponsabilidade
Outra questão importantíssima nesse processo é entender que você é responsável pelos seus atos. É óbvio que existem situações externas que impactam a nossa vida financeira, como o desemprego, a necessidade de um gasto alto completamente imprevisto ou a perda de uma pessoa com quem a gente dividia as despesas.
No entanto, é importante ter clareza de qual é o seu papel em cada uma dessas situações e assumir a responsabilidade pela parte que te cabe.
Um bom exemplo nesse sentido é um cenário de endividamento. Sei perfeitamente o quanto essa é uma situação difícil - inclusive porque já vivi isso na pele - e como a gente tende a paralisar diante de uma condição da qual a gente não sabe como sair. Mas, é preciso colocar o senso de responsabilidade pra jogo e empenhar todo o seu esforço em buscar caminhos que vão te levar de volta à sua liberdade financeira.
Pode ser uma boa alternativa, por exemplo, buscar um empréstimo com juros mais baixos para quitar todas as suas pendências, se comprometendo com uma parcela menor, que caiba no seu bolso sem te apertar.
Outro caminho é tentar negociar a sua dívida com condições mais favoráveis à sua situação financeira.
Plataformas de negociação online de dívidas
, por exemplo, costumam oferecer descontos atrativos e possibilidades de parcelamento bem flexíveis.
Autocontrole sobre os impulsos
Mudar um comportamento que você tem de forma automática não é uma tarefa fácil - longe de mim querer te vender ilusões! Por isso, é muito importante que você traga para a consciência, a todo o momento, as razões que podem estar te levando a um gasto por impulso. É essa consciência que vai te levar ao autocontrole, que é indispensável nesse processo.
Sobre aquela história de comprar algo só porque está na promoção, por exemplo. Um bom caminho é ir além do "eu quero" e buscar entender se a compra realmente faz sentido pra você e pra sua realidade financeira. A dica de ouro é responder a três perguntinhas básicas: eu preciso disso? Isso vai ser útil pra mim? Eu posso pagar por isso sem me apertar?
Deixa eu te dar outro exemplo pra te ajudar a refletir. Será que pedir um delivery ou comprar aquela roupa que você tá namorando há tanto tempo vai mesmo acabar com toda a sua frustração por ter tido um dia de trabalho difícil? Ou será que esses comportamentos só vão te gerar outras emoções desafiadoras com as quais você também vai precisar lidar, como culpa, arrependimento e vergonha?
Sei que o autocontrole não é fácil, mas ele coloca o poder das decisões totalmente nas nossas mãos - e isso é muito poderoso! E se você acha que não é capaz de tomar as melhores decisões pra si mesmo, eu te garanto que o autoconhecimento e o senso de autorresponsabilidade também vão te ajudar nisso. Mas, acredite: não existe nesse mundo ninguém melhor do que você pra saber o que é melhor pra sua vida!
Eu tenho consciência do quanto esse processo de se livrar da autossabotagem financeira sobre o qual falei hoje é longo e desafiador. Por isso, a dica final é pra você não ter pressa e respeitar os seus limites nessa jornada. Não se compare com ninguém e busque informações que têm a ver com a sua realidade atual!
Se você quiser minha ajuda nesse sentido, eu sugiro que você se inscreva para participar gratuitamente do Clube do Corre. Ao fazer parte dessa comunidade, você recebe semanalmente, diretamente na sua caixa de e-mails, conteúdos como esse, que vão te auxiliar nessa constante e tão necessária busca por melhorar a sua relação com dinheiro! Quer participar?
Clique aqui!