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Tenho um grande amigo que há mais de 10 anos luta contra uma doença autoimune que lhe afetou os rins. Fez um transplante muito bem-sucedido que há mais de um ano “venceu”, como dizem os leigos. Está na fila para receber um novo órgão e, enquanto espera, faz diálise diariamente. Depois de passar por um período de adaptação ao novo quadro, está numa boa fase, tendo inclusive começado o novo ano retornando ao antigo trabalho, apesar de já poder estar aposentado. Não escolheu descansar, para a sorte do meio no qual trabalha.


 
É médico, clínico geral, e desde que nos conhecemos, há uns 40 anos, não precisou fazer esforço para ganhar minha admiração tanto por seu caráter quanto pelo alto-astral que sempre carrega. É capaz de respeitar com elegância e discrição todo tipo de opinião, incluindo as que passam bem longe de suas convicções.
 
O rim que “venceu” foi doado por um de seus irmãos, circunstância ideal, creio eu, devido à similaridade em relação a vários pontos. O segundo transplante é bem mais complicado, me explicou, pois o primeiro e outros procedimentos aumentaram as chances de rejeição. Ou seja, não é nada fácil achar um novo órgão que seja compatível e possa trazer sucesso à cirurgia.
 
As dificuldades que a natureza nos proporciona são mais fáceis de aceitar, pois mais difíceis de mudar. A medicina precisa evoluir. Apesar de estar se esforçando na busca de outras alternativas, ainda há muito o que investir e concluir.


 
O que me assusta é a natureza humana. Tenho certeza de que não apenas o caso dele, mas o dos demais, que são muitos, poderiam já ter sido solucionados caso tivéssemos mais disposição em ajudar. Quem de nós se preocupa em deixar claro aos familiares que é um doador de órgãos?
Assunto difícil de abordar? Que seja, mas necessário. Essa nossa arrogância de achar que não vamos morrer tão cedo nos consome sem que percebamos e levam a reboque, agarrados em nossa vaidade, um monte de gente que poderia estar vivendo bem se mais de nós se lembrassem de que temos como ajudar, mesmo depois da morte.
 
Hello!!!! Você vai morrer! Sinto te esclarecer e pode ser hoje ainda, apesar de você achar que ainda tem muito o que viver. Não estou dizendo que as pessoas devem passar por cima de seus valores e crenças e doar seus órgãos. Cabe a cada um respeitar seus próprios desejos, assim como pedir que sua família o respeite quando de sua partida.
Quero aqui chamar a atenção de quem é a favor de doar seus órgãos. Entre desejo e ação existe um espaço infinito que pode ser reduzido a zero com uma simples conversa. Vamos provocá-la?