Na semana que passou, me mudei de casa. É minha quarta residência desde que me casei, há 32 anos. A primeira, quando só havia eu e meu marido, foi um apartamento do qual me mudei cinco anos depois, já grávida de meu primeiro filho. Confesso que me lembro pouco de como foi o processo de encaixotar as coisas e transportá-las. O que não me esqueço mesmo é do mal-estar que eu sentia devido ao enjoo, que me inutilizava àquela altura da gravidez.
Nunca fui de ajuntar muita coisa. Armários, se não pequenos, sempre têm espaços vazios. Mas uma coisa está me chamando a atenção desta vez: o tamanho real de nossas necessidades materiais. Como nos mudamos um pouco antes do previsto, precisei fazer uma mala com as roupas que vou usar nos próximos dois meses. Separei quatro pratos, quatro xícaras e coisas do tipo. Isso porque minha nova casa ainda não está totalmente pronta e estamos "acampados" na suíte que conseguimos finalizar ao lado de uma cozinha que improvisamos ao menos para café da manhã e lanches rápidos. Cá estamos, como definiu meu filho mais novo, "como adolescentes" em aventura.
Quando fiz o caminho de Santiago de Compostela de bike, há oito anos, comprovei que precisamos de muito pouco para viver bem. Três mudas de roupa, dois calçados, tranquilidade e disposição resolvem a maior parte das demandas, além é claro de recursos para comprar água, comida, pagar por algum imprevisto e pelo pouso. Claro que o cotidiano é um pouco mais complexo que meia dúzia de peças como pode estar parecendo, mas, grosso modo, temos muito mais do que conseguimos de fato carregar. Ou posso dizer que temos o hábito de investir em coisas erradas, quando deveríamos ter como objetivo buscar a leveza e descomplicar nossas existências.
Mudanças de casa têm essa serventia. Nos ajudam a ter coragem de nos desfazer de algumas das inutilidades que acreditávamos essenciais até criarem poeira, mofo ou se desfazer. Um processo que, se não soubermos aproveitar o aprendizado, nos levará a acumular tudo de novo, em cores e designers diferentes, mas ainda assim não essenciais.
Em meio a tudo isso me lembrei de uma amiga que precisou vender ao menos 60% do que tinha em casa. Dois foram os motivos. Mudou-se para uma casa muito menor e estava falida. Fiz questão de ir na garage sale que ela promoveu por dois motivos também. Primeiro, porque muito do que ela acumulou era de bom gosto; e segundo, porque fiz questão de ajudá-la durante esse processo.
Chegando lá, vi que muitos dos presentes que recebeu ao longo da vida tinham um preço. Presentes que eu havia dado, inclusive. Como penso que ao dar algo a alguém transferimos a esse alguém a decisão do que fazer com esse algo, não me senti ofendida por saber que logo estariam em outras mãos, muito provavelmente minhas desconhecidas. Do contrário, é um tipo de desapego que precisamos exercitar. Pois além de precisar de pouco para viver, precisamos que nossos amigos nos deem, principalmente, o que não se precifica. Isso não há como vender e muito menos se desfaz.