Ouvir um jovem falar sobre seu primeiro mês de trabalho com tanto entusiasmo me fez lembrar de meus primeiros anos como professora. Logo que me formei no ensino médio, fui contratada para lecionar na pré-escola no mesmo local onde estudei desde o segundo ano do ensino fundamental.
Não que eu tivesse sido uma aluna exemplar em relação às notas e premiações, mas ao longo de tantos anos as freiras acabaram montando na prática um dossiê completo do que eu seria capaz em muitos sentidos. Fiquei lá por cinco anos e me despedi para entrar para o jornal Estado de Minas, ao fim de meu segundo ano na faculdade de comunicação social.
Na época, final dos anos 1970 início dos 80, fazíamos obrigatoriamente um curso profissionalizante concomitantemente com o ensino médio. Escolhi o magistério não por identidade ou vocação, mas porque foi a escolha daquelas que eram minhas amigas inseparáveis. As outras opções oferecidas pelo colégio eram análises clínicas e desenho arquitetônico. Há quem diga que nada é ao acaso. Fato é que minha identificação com o magistério foi enorme, e certamente as outras passavam longe de qualquer vocação que um dia eu possa ter tido. Identificação temporária, eu diria, porque hoje o magistério como o que abracei está longe de ser novamente uma opção para mim.
Era com muito entusiasmo que eu descia a ladeira para chegar ao colégio no início da tarde e ao final subia de volta carregada de material. Na semana do Dia das Crianças e dos professores, inventava fantasias com material reciclado para eu vestir e muitas vezes elas limitavam meus movimentos. Mas minhas ideias rendiam muitas risadas dos alunos, como foi o caso de quando me vesti com caixas de papelão fingindo ser um robô, ou uma robota, como me chamaram.
Nós professoras fazíamos peças de teatro, nas quais me cabia o papel mais espalhafatoso, como o da Dona Baratinha ou o da bruxa má na história "A bruxinha que era boa". Tenho um tom de voz alto, ensurdecedor quando quero, confesso, o que era ideal perante a gritaria por parte da plateia enlouquecida. Gostava tanto da interação com as crianças que me encaixava em tudo que as divertisse.
A mesma empolgação levei para o jornalismo, atuando em outros papéis claro, menos escandalosos, mas sempre intensos. Poder escolher profissões com as quais nos identificamos é um passo para o sucesso. Digo poder porque nem sempre é possível e um passo porque nem sempre é garantido.
Isso porque temos visto com tanta frequência jovens adultos pulando de curso em curso, de área em área, insatisfeitos e perdidos. Outros tempos, outras facilidades e dificuldades, mas os mesmos dilemas. Como pano de fundo, há sempre a questão da educação familiar complementada pela escola e principalmente pelas experiências de vida que nos são reservadas, nas quais costumam residir nossos maiores medos.