Jornal Estado de Minas

Comportamento

As voltas que a vida dá

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Ao ver um senhor de 70 anos dançando animadamente com a esposa, um homem pouco mais novo fez o seguinte comentário: "Velho quando não tem noção do ridículo é triste". Prontamente, ao ouvir tamanha bobagem eu e uma jovem rebatemos o comentário. "O que ele está fazendo que deve ser considerado ridículo?" Sem graça, preferiu não responder, mas poderia perfeitamente ter dito: "Ele está fazendo o que deseja sem se preocupar com o que os frustrados pensam".





Fato é que em outra ocasião,  em uma festa onde estavam praticamente os mesmos convidados, quem dançava alegremente era exatamente aquele que classificara como ridículo um idoso dominar a pista de dança a ponto de contagiar os demais, incluindo os mais jovens. Adoro ver como a vida nos ensina, nos colocando em situações muito semelhantes àquelas que julgamos negativas quando os sujeitos são os outros. Como é bom poder fazer o que se deseja, me deu vontade de lhe lembrar, mas não foi preciso.

Sabemos muito bem disso. Nosso problema é aceitar as críticas e saber relevá-las quando não nos acrescentam nada. Ao não saber como lidar com as imposições preconceituosas, acabamos alimentando-as e nos tornando suas vítimas.

Pouco tempo depois, conheci a atual esposa de um outro homem que ficara viúvo há cerca de três anos. O que mais me chamou a atenção foi a forma de se vestir da nova companheira. A questão principal não era o abismo entre o estilo de uma e o da outra, mas o fato de o esposo sempre ter sido muito crítico em relação às mulheres que se vestem como o faz seu novo amor.





Se soubermos perceber o que mais nos incomoda no comportamento dos outros conseguiremos aprender muito aproveitando a experiência alheia. Penso que o que mais nos inquieta ao ver um idoso "aproveitando a vida como um jovem" é o preconceito em relação ao que é permitido a um e proibido ao outro, com base em regras sociais descabidas.

Volto a afirmar que reproduzimos em nossos discursos e atitudes limitações que prejudicam a nós mesmos e nos empobrecem a existência. Assim nos tornamos ranzinzas e chatos, cheios de conceitos atrasados, e nos tornamos nossos maiores algozes. E o pior é que achamos que esta é a melhor maneira de sermos aceitos, não aceitando o outro.

audima