Jornal Estado de Minas

Comportamento

Banheiro para empregada ou não, que diferença faz?

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Aconteceu durante um aniversário realizado nos jardins de uma casa. Querendo esticar as pernas, aproveitei para ir ao toalete. A entrada era pela porta dos fundos. O primeiro banheiro com o qual me deparei era pequeno e me pareceu suficiente.




 
Como vi uma das crianças da casa saindo da porta ao lado fiz uma pergunta idiota, mas o fiz para puxar conversa ou para justificar o que eu estava fazendo lá. “O banheiro é aqui?”
“Não”, ela respondeu, “esse é de empregada”, arrematou. Mais que de pressa perguntei: “mas não tem um vaso sanitário e uma pia como um outro qualquer?” Ela não quis nem saber e me puxou pelo braço casa adentro.
 
Ao passarmos pela cozinha ouvimos uma reprimenda vinda da mulher que preparava aperitivos no fogão. “Empregada não, funcionária! Já te falei”. Eu sorri amarelo de forma a me desculpar pela confusão provocada, ao mesmo tempo tentando entender a diferença semântica em detrimento da diferença de status.
 
Sei que ao ficarem estigmatizados os termos são mudados, na tentativa de construir um novo significado. Ainda assim, corremos o risco de concentrar nossas energias na teoria deixando a prática em segundo plano, o que não tira a legitimidade da reivindicação da moça.




 
Me lembrei de cenas do filme Histórias Cruzadas que mostram a segregação de mulheres pretas americanas nos anos 60 que eram obrigadas a ir longe para chegar aos banheiros reservados a elas em seus ambientes de trabalho.
 
Ao longo de minha infância e adolescência vi com frequência donas de casa separando pratos e talheres para serem usados pelos empregados domésticos. Até a comida muitas vezes era diferente. Nada contra comer comida requentada. O problema é o fato de que o que não serve pra mim, não deve servir pra mais ninguém, a não ser que o que nos torna diferentes são intolerâncias ou opções do tipo vegetariana e carnívora.
 
Então me pergunto: “porque tive que ir pra dentro da casa sendo que bem ali havia um banheiro?”