Em minhas buscas por montar e manter oficinas de costura em regiões de extrema pobreza, fui parar na última semana na Bahia, mais especificamente na comunidade quilombola Alto Alegre, em Itaitu, distrito de Jacobina. Conhecida por estar nos limites da Chapada Diamantina, a região atrai turistas que buscam contato com a natureza em suas 49 cachoeiras de águas escuras e transparentes e montanhas que guardam muitas histórias.
Já havia um bom tempo que eu cultivava a ideia de ir lá, até que surgiu a oportunidade. Meu marido deu a ideia do passeio, um roteiro que saía de BH, passando pelo Norte de Minas, atravessando a Chapada Diamantina indo parar na Costa do Dendê, na Bahia. Foi minha chance de dizer “já que vamos passar tão perto, porque não aproveitar e levar o material necessário para montar uma oficina lá?”
Juntei rolos de tecidos, retalhos, aviamentos, máquinas e roupas para doar e lotamos tanto a carroceria quanto o banco traseiro de nossa camionete L200 de forma que não cabia mais nada. “Você não tem medo de, no meio do caminho quando precisarem deixar o carro estacionado na rua, ao voltar não encontrar nada?”, chegaram a me perguntar. Prefiro tentar, porque escolho fazer em vez de criar monstros capazes de me imobilizar.
Cobrimos tudo com uma lona de plástico preta que rapidamente ganhou uma grossa camada de poeira. Enfim, após doze dias de estrada, cachoeiras, trilhas e aventuras chegamos, tudo e todos intactos, cheios de boas energias ao projeto Retratos de Esperança, apoiado pela Fraternidade Sem Fronteiras.
Descarregamos a “mercadoria”, conhecemos a comunidade, conversamos com quem demonstrou interesse em aprender a costurar e nos comprometemos a retornar logo que possível para passar ao menos dez dias em imersão total.
Nada melhor do que ver com os próprios olhos o que iniciativas como a do jovem fotografo baiano Bismarck Araujo são capazes de gerar. Em 2015, sensibilizado com a precariedade da vida de famílias que viviam do e no lixão de Canudos (BA), ele deu início ao projeto que há cerca de dois anos chegou também a Jacobina. Seja através da venda de fotografias, campanhas e apadrinhamento, o Retratos de Esperança tem transformado vidas através da construção de moradias dignas, educação e geração de renda. E poder contribuir para que engrenagens como esta se mantenham em constante e crescente movimento não tem preço.