No início de março de 2020, poucos dias antes de ser decretado o isolamento devido ao Covid 19, minha mãe fez uma cirurgia cardíaca para troca da válvula aórtica. Na época ela tinha 91 anos e relatei aqui que foi uma decisão dela e que se dependesse de mim e de meus irmãos a cirurgia não teria acontecido. Tínhamos tantos receios!
Para nossa alegria deu tudo tão certo. A recuperação dela surpreendeu até a equipe médica que a assistiu. Quatro dias depois do procedimento a flagramos lavando pequenas peças de roupa no tanque. Essa é minha mãe, afinal, como ela disse, as roupas estavam sujas. E quem gosta de roupa suja?
Semana passada lá foi ela de novo pro bloco cirúrgico. Desta vez para implantar um marca-passo, pois o coração “preguiçoso” várias vezes, durante o dia e a noite, estava batendo 25 vezes por minuto. O ideal seria 60 batimentos por minuto. Desta vez nenhum de nós, seus filhos, fez objeção. Anestesia local, coisa de duas horas no máximo.
Do mesmo jeito que despedi dela na entrada do bloco daí a pouco dei o oi na entrada do CTI, para onde ela foi encaminhada por precaução. Fez questão de me contar que nem sedada foi, ficou consciente o tempo todo dando pitaco na conversa do cirurgião e que só lamentava não ter visto o marca-passo. Em três meses ela completa 95 anos.
Ultimamente estava usando uma bengala, pois tinha medo de cair quando o coração estava muito lento. Pouco precisa de ajuda, ou melhor, costuma pedir as coisas na mão quando está com preguiça de fazer por conta própria. Eu brinco dizendo que ela tem necessidades seletivas, ou seja, depende mais do humor do que da capacidade ou falta dela. Afinal nessa idade ela pode tudo (que ela não me leia, pois certamente vai se aproveitar dessa deixa).
Semanas atrás assisti uma série documental da Netflix sobre pessoas que chegam perto dos cem anos com saúde e bem estar. Onde vivemos, o que fazemos, como nos alimentamos, a forma como preenchemos nossos dias e nossas mentes são atitudes que facilitarão nossa longevidade. De tudo acho que ter sabedoria é o maior segredo. Valorizar o que nos beneficia em detrimento do que nos deixa orgulhosos e vaidosos pode ser um ótimo começo.