De um lado forças de emancipação empurram o mundo para formas mais abertas de coexistência, mas nem sempre se organizam para predominar. Por outro lado, grupos organizados se especializaram em classificar pessoas para se beneficiar, controlar e lucrar com um mundo mais fechado e hierarquizado em termos de poder.
Apesar do foco do livro se dar no preconceito e nos vários equívocos de tratamento que são oriundos dos estigmas em torno dos transtornos mentais, ele é na verdade uma história mais ampla sobre como a reverência exagerada à conformidade faz com que pessoas sofram com estigmas. Sem perceber os segredos dentro dessa “normalidade” muita gente se desespera. Muitas vezes as pessoas sofrem não de doenças, mas de sofrimentos causados pelo peso que se dá a elas.
Infelizmente as coisas funcionam assim: quando o paciente marca a consulta ele costuma ter uma doença (illness, em inglês); quando sai do consultório ele já está com outra doença(disease). E a doença definida pelo médico costuma ser pior do que a doença do paciente.
Só que sintomas variam de acordo com diferentes culturas e sociedades. Argumenta ele que “classificações científicas podem às vezes impedir nossos esforços de nos definir por nós mesmos,” e cita como exemplo um caso estudado em São Paulo em que quando a linguagem do DSM é utilizada com pacientes colocando a enfermidade da pessoa na linguagem de doença, eles perdem a habilidade de expressar compreensões mais positivas sobre suas próprias condições.
Evidente que a vontade de restabelecer hierarquia e poder é grande, mas vai na contramão de forças emancipatórias mais fortes que empurram o mundo para formas mais abertas de coexistência.