São oito países espalhados em uma faixa de terra relativamente estreita conectando a América do Sul e a América do Norte. Começando no Parque Nacional de Darién ao sul e indo até o istmo de Tehuantepec ao norte, a América Central é um microcosmo dos desafios e oportunidades das forças do mundo globalizado manifestadas no hemisfério ocidental.
Dentre esses oito países que a compõem, desconta-se dois por razões geográficas e históricas. Um é o caso do México, em que tecnicamente apenas seu extremo sul – a parte ao sul do istmo de Tehuantepec, onde ficam os estados de Chiapas, Tabasco entre outros – está na América Central.
A maior parte do México está na América do Norte, com quem está ligado umbilicalmente desde o NAFTA, agora chamado USMCA. Se os EUA servem em diversos sentidos como norte para os mexicanos, boa parte dos estados dos EUA têm enorme influência mexicana.
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O núcleo da América Central está situado em seis países: Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, El Salvador e Guatemala. Os dois primeiros, mais ao sul, são os mais bem incorporados na globalização, e os de maior renda per capita.
Enquanto o Panamá é um dos principais polos logísticos do comércio mundial, a Costa Rica é a que melhor se posiciona, na região, para usufruir dos fluxos econômicos internacionais de um modo que seja sustentável e contribua para a qualidade de vida local.
O país é especializado em frutas tropicais – especialmente muita banana –, mas também está bem envolvido em cadeias globais de valor de produtos complexos e atrai turistas e aposentados.
Enquanto o Panamá é um dos principais polos logísticos do comércio mundial, a Costa Rica é a que melhor se posiciona, na região, para usufruir dos fluxos econômicos internacionais de um modo que seja sustentável e contribua para a qualidade de vida local.
O país é especializado em frutas tropicais – especialmente muita banana –, mas também está bem envolvido em cadeias globais de valor de produtos complexos e atrai turistas e aposentados.
Ao norte dali, Nicarágua, Honduras, El Salvador, e Guatemala são mais conflituosos. São países que sofrem mais do que se beneficiam com as forças do mundo globalizado. A Nicarágua segue sua novela de governo por um grupo que abandonou a história emancipatória para impedir o surgimento da democracia.
A FSLN derrubou uma família que governava o país como se fosse sua fazenda, mas Daniel Ortega é caudilho familiar e também não acredita em democracia. Assim, a Nicarágua dos Somozas aos Ortegas segue pobre e sem direitos humanos.
A FSLN derrubou uma família que governava o país como se fosse sua fazenda, mas Daniel Ortega é caudilho familiar e também não acredita em democracia. Assim, a Nicarágua dos Somozas aos Ortegas segue pobre e sem direitos humanos.
Apesar das brigas com os EUA, o comércio internacional da Nicarágua depende totalmente dos 60% de suas exportações para os EUA. É a maior proporção de dependência dentre esses seis países. Por outro lado, os EUA desde o ano passado não têm mais nenhuma posição de investimento direto na Nicarágua.
Se os EUA querem mesmo liderar a resistência contra o autoritarismo no mundo, precisam reformular a forma questionável com que lidam com a América Central. Inclusive com a consequente projeção que é feita para a América do Sul. Com essa ponte triste entre Nicarágua e Venezuela ligando os maus hábitos da ação e da reação.
Se os EUA querem mesmo liderar a resistência contra o autoritarismo no mundo, precisam reformular a forma questionável com que lidam com a América Central. Inclusive com a consequente projeção que é feita para a América do Sul. Com essa ponte triste entre Nicarágua e Venezuela ligando os maus hábitos da ação e da reação.
Logo acima da Nicarágua, o chamado triângulo norte composto por Honduras, El Salvador, e Guatemala segue sendo nações expulsoras de pessoas, ejetadas dali por conta da alta criminalidade e da falta de oportunidade econômica decente. Um desperdício de potencial indizível e impagável, já que a Guatemala por si só – de longe a que tem a maior população da região – tem uma das culturas mais ricas e diversas do mundo. Mas de tão maltratada, segue mais parada do que podia.
Navegando entre a fanfarronice e a hiperconectividade com todos os modismos atuais, o jovem presidente-marqueteiro de El Salvador usou a pandemia do coronavírus para benefício próprio. É caso típico dos que ainda estão na fase de se dar bem.
Daqui a uns dias vai acontecer a eleição de Honduras com chances reais de troca de grupo no poder depois de 12 anos. O país segue governado de maneira confusa. Também outro país muito dependente, com acima de 50% de exportações para os EUA. Segurando a fraude, voltaria daqui a uns dias a esposa de Zelaya, aquele apeado por um golpe rocambolesco em 2009.
O qual foi sucedido por uma agremiação que começou flertando com ideias libertárias de um badalado e bem-intencionado economista – Paul Romer, um prêmio Nobel de economia filho de um ex-governador do Colorado – e terminou como um estado narcotraficante.
O qual foi sucedido por uma agremiação que começou flertando com ideias libertárias de um badalado e bem-intencionado economista – Paul Romer, um prêmio Nobel de economia filho de um ex-governador do Colorado – e terminou como um estado narcotraficante.
A América Central é um microcosmo dos desafios e oportunidades das forças do mundo globalizado manifestadas no hemisfério ocidental. Ali tem de tudo e todas as faces dos EUA. Da angelical à criminosa. Inclusive a que demonstra que se os EUA têm orgulho de ter quintal, são péssimos em paisagismo e pior ainda na escolha de jardineiros. (Com Henrique Delgado)
* Caros leitores: a coluna, entra de férias em dezembro, volta em 9 de janeiro. Boas Festas para todos.
PAULO DELGADO é Sociólogo.
contato@paulodelgado.com.br