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O que podemos esperar de negativo e positivo para 2023?

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O mundo não mudou muito nestes últimos dias e continua com seus problemas concentrados em três polos e focos do desalinhamento geral.  A Ásia, com a desaceleração da China em função das medidas de combate à COVID, provocando realinhamento estratégico das cadeias produtivas; a Europa, com a guerra particular de Putin desorganizando as relações políticas internacionais; e nos EUA, com o FED, seu Banco Central, reagindo ao processo inflacionário no país com repercussões mundiais inesperadas.





A China mantém sua política sanitária de tolerância zero contra a COVID-19. O governo decidiu manter sua ação de combate por bloqueio de cidades, agora com o claro objetivo de não sobrecarregar o sistema de saúde em um país de mais de um bilhão de habitantes. O problema é que a variante Omicron é mais insidiosa e conseguiu “burlar” o programa impondo mais tempo de confinamento. O resultado tem sido um impacto maior na economia, com fortes reflexos nos níveis de atividade que incorporam mais mão de obra, como construção civil, contribuindo para o desemprego, que ameaça a estabilidade social interna.

Vale lembrar que os efeitos do programa de tolerância zero apenas anteciparam vários problemas que o gigante asiático vem enfrentando em virtude dos processos de maior controle da economia e das grandes empresas. Ao atingir setores fabris mais tradicionais e substituir por alta tecnologia, o governo limita o maior fator gerador de crescimento da economia das últimas décadas, quando o país se constituiu numa espécie de entreposto do comercio global.

A China parece ter perdido o controle da parceria tradicional sino-americana, “você me dá seu produto que eu te dou meu capital”, que a fez, inteligentemente, a segunda economia do mundo e redireciona seu processo de desenvolvimento em um péssimo momento da crise sanitária que continua a castigar o país.





A invasão da Ucrânia pela Rússia produziu uma reação imediata de guerra econômica ocidental contra a hostilidade fantasiosa de Putin, saudoso do império soviético, que já se foi. As sanções do Ocidente impuseram um custo elevado à economia russa, mas o país vem se adaptando a elas, ainda que a um nível mais baixo e paralisante.  As opções, agora, ao reforçar essas sanções, é gerar o contra-ataque russo, partindo para quebrar contratos de petróleo e gás, o que pode prejudicar os países da Europa mais dependentes desses produtos. Por outro lado, o aumento de auxílio a Ucrânia em armamentos busca ampliar o isolamento do governo Putin.

Para os países em desenvolvimento já são observados problemas graves em alimentos e fertilizantes, gerando consequências sociais terríveis, em especial no mundo subdesenvolvido, que sente a fome ameaçar a vida dos mais pobres.

Nos EUA, embora não se possa falar de recessão, há cada vez mais clareza sobre o componente da inflação, por conta dos estímulos fiscais e monetários. O FED continua “tímido” e ainda não fez o ajuste necessário, mas analistas e mercados parecem pouco preocupados com as consequências. No cada um por si que começa a predominar, os juros de mercado sinalizam que os agentes econômicos estão se antecipando com um ajuste mais significativo, colocando de sobreaviso a sociedade para o aperto geral que se anuncia.





Em tal confusão de parâmetros e desarmonia, duas forças antagônicas se manifestam no mercado das commodities, tão importantes para países como o Brasil. Se por um lado a invasão russa joga o preço para cima, por outro a desaceleração global puxa o preço para baixo. O processo de substituição dos níveis e da qualidade do consumo por parte da população já é um fenômeno mundial e pode produzir uma desaceleração atingindo a economia como um todo.

A inflação alta no Brasil arma a bomba fiscal quando gera um superavit “ilusório”, aumenta a arrecadação artificialmente, suficiente para liberar o governo para gastar mais com eleitores, deixando para o ano que vem o panorama fiscal cobrar seu preço.

Todavia, há uma contradição que pode nos favorecer e suspender a perda do interesse estratégico pela América Latina por parte do grande capital. Em virtude do rearranjo das cadeias globais do comercio mundial, temos tudo para ser receptor de FDI, Investimento Direto Estrangeiro, monopolizado nas últimas décadas pela Ásia, especialmente China, conforme livro de Henrique Delgado, O Papel do FDI, Mudança Econômica por meio da Integração Econômica Internacional:  o caso Brasil e China.

O ano de 2023 vem aí como um enigma. Se teremos um ano de provimento e prosperidade ou se o mundo continuará sua luta exagerada e sem juízo por distinção e prerrogativa. (Com Henrique Delgado)

PAULO DELGADO, Sociólogo
contato@paulodelgado.com.br