Jornal Estado de Minas

DESAFIO MUNDIAL

'A educação perdeu a guerra de propaganda pelo seu valor'

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Todos os meses caem dividendos em minha conta que cobrem todas as despesas. O que importa é o lucro, não a vida dos outros. É o sucesso com dinheiro que explica o progresso, não a instrução coletiva. Para decodificar o conceito de bom negócio é preciso coragem de espírito. Instrução sem cultura e instituições inaptas não conseguirão ressignificar a Educação para atuar no mundo moderno.



Travando uma batalha apática e desorientada contra a astúcia das telecomunicações, a Educação perdeu a guerra de propaganda pelo seu valor. Dever do Estado, futuro e ameaça não fazer ninguém estudar. De primeira dama da sociedade industrial escolarizada, a Educação está virando a rejeitada da sociedade tecnológica pasteurizada. É muito difícil viver a vida estudando o tempo todo. Mas é pior não estudar, ou estudar contra si mesmo, usando mal as oportunidades da sociedade pós-industrial.

O mundo ligado da era digital produz solidão e melancolia, luto sem perda, alegria sem felicidade, abundância sem saciedade. Não é Educação estimular o extravagante, o alpinista. Se a riqueza mundial está crescendo é sem sentido lutar por trabalho alienado, acusar alguém de desqualificado por não se fazer obediente à opressão das startups. Quem amedronta o jovem com a falta de emprego não quer conquista-lo para a ideia de que estudar é a melhor forma de não precisar se matar de trabalhar.

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Se o crescimento moderno diminui o emprego é a Educação que vai impedir a inatividade e o desespero. Desde que a Escola ensine a usar criativamente o tempo livre, lutar pela harmonia do mundo e não se transformar em escola de guerra econômica prisioneira da automação. É a quantidade de inteligência que cria a quantidade de trabalho. É o espírito que traz paz e prosperidade.



A genialidade hoje não depende de inteligência, serenidade, formação sistemática ou da eternidade dos clássicos. É a modernidade robô, de fachada, o automatismo idiotizante, a embasbacada religião celular com seu totem manual, uma caixa receptora/transmissora de ondas de comunicação por células não biológicas, que padronizou a personalidade, transformando a vontade em confinamento, o desejo em ânsia ostentatória.

A soberania opressiva da cultura do mundo eletrônico não aceita o fato de que na mente de um jovem em formação acontece coisa mais importante do que na realidade. Pegando a Educação desprevenida o chip entrou na vida das pessoas como cavalaria, infantaria e artilharia usando a tríade narcisismo-ambição-comodidade, (arma de todas as armas) para comando e controle da mente humana.

Sua dinâmica de ação é sempre o conflito ser/não ser, para atrair o obstinado por novidade, explorar a vulnerabilidade do usuário, maximizar a influência da marca.

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A Educação não se deu conta que o celular, este sacerdote-pastor-guru, o mais assanhado e irresponsável filho do casal computador-internet, é que imprime suas particularidades na fisionomia estampada na alma das crianças e jovens cobaias. E ainda sem perceber o ardil da escalada autônoma da tecnologia para escravizar gerações, a pedagogia tomou de amores pela psicologia, para diagnosticar como desajustados os sensíveis, tímidos, incomodados, espiritualizados, reflexivos que andam mais devagar e não querem ser navegadores digitais.



A influência tirânica e preguiçosa da tecnologia tem sido um desastre na educação da atual geração. Matou o interesse pela história da cultura e o desprezo pelo processo gradativo do progresso humano. A Educação está à mercê de duelos dissimulados de conduta, disfarces de paixão, considerando normal rejeitar o que quer o coração e agir contra os sentimentos. Aderir à onda é a forma que estudantes perdidos se ajustam para serem aceitos entre colegas.

A escola não deve ser sucursal da bolsa de valores, fazendo a estimativa do ativo que é cada estudante para o mercado “mundo”. Emoções e características da personalidade são psicologizadas visando a modelação de sentimentos. E assim passou a ser natural conviver com a imaginação imperfeita dos plágios, a originalidade movida por vaidade e exibicionismo, a vivacidade mecânica, a perda do ouvido do estudante que não lê mais em voz alta e só é seguro quando imita o que viu em alguma tela.

A humanidade sofre quando a Educação não é a parte principal da fase inicial da vida das pessoas. E perde o rumo querendo fazer da educação o que não é, remédio que resolve tudo. A Educação como mito é um desastre: o de mais quantidade nos países ricos e o de má qualidade nos emergentes e pobres. 

(Com Henrique Delgado)