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Estado de Minas CRESCIMENTO ECONôMICO

Sem amarras, o agronegócio avança e sustenta a própria Constituição

Fim das políticas negativas de intervenção, aliado ao choque produtivo da pesquisa prática, revelou um Brasil agrícola e interiorano em que poucos acreditavam


postado em 13/12/2019 04:00 / atualizado em 13/12/2019 07:51

Plantação de soja, um dos grãos que representa a força das lavouras brasileiras(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press - 5/5/05 )
Plantação de soja, um dos grãos que representa a força das lavouras brasileiras (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press - 5/5/05 )

Acaba de ser lançado o livro Política agrícola no Brasil, de Ivan Wedekin e vários colaboradores. É uma obra de primorosa clareza. Dá ao leitor – mesmo se não entendido em temas do agronegócio – um verdadeiro passeio guiado pelos meandros da agricultura de hoje para tomar pé de como chegamos até o ponto onde estamos.

O principal recado do livro vai agradar a quem acredita na força do empreendedorismo e dos incentivos de mercado. Fica clara a noção de que liberar é preferível a intervir. Que fomentar é superior a coibir. Que delegar é melhor do que concentrar e assoberbar. No período de alto intervencionismo do governo sobre os mercados agrícolas, o Brasil era importador de comida e só exportava commodities de tradição centenária, como café, açúcar e algodão.

Quando o país parou de recorrer a intervenções, confiscos e tabelamentos, que coincide com o Plano Real e, a seguir, com a liberação do câmbio, a agricultura até mudou de nome: virou “agribusiness”, agronegócio, e mercados mais livres e competitivos empurraram novos cultivos e criações para o centro da ação no campo, bastando lembrar soja, milho, arroz, frutas, suco de laranja, além de toda a cadeia de produção de proteínas animais, frango, carnes bovina e suína, ovos etc.

Óbvio que o milagre do salto agropecuário não foi só por liberalização de mercados. Houve um empurrão, ou vários e fortes, da política agrícola ao longo do tempo. Lembro a mais relevante: pesquisa para adaptar variedades de clima da Europa e EUA aos trópicos e ao bioma do cerrado. Uma verdadeira TROPICULTURA foi criada, não só por variedades novas e adaptadas, mas por formas inéditas de plantio, cultivo e colheita. Basta lembrar o plantio direto sem gradear o solo, evitando a erosão provocada por chuvas torrenciais.

A produção de grãos multiplicou-se por 5, enquanto a área plantada com grãos não chegou a dobrar. Nesta safra 2019, serão colhidos quase 250 milhões de toneladas de grãos. Em soja, passamos a ser o número um do mundo, mas somos o número dois ou três em vários outros produtos.

E sem perder a majestade na produção do rei café. Mistério desvendado: o fim do suplício das políticas negativas de intervenção, aliado ao choque produtivo da pesquisa prática que virou tecnologia tropicalista, revelou um Brasil agrícola e interiorano em que poucos acreditavam.

A liberação do câmbio em 1999 completou a obra de oxigenação dos mercados. Não ocorreu o pisoteamento da oferta interna pela suposta preferência por exportar. As duas agriculturas geraram mais renda e prosperaram juntas. Mas não sem algum viés. O campo continua com vitórias concentradas em cerca de 1 milhão de estabelecimentos rurais modernos e profissionalizados. Mas outros 4 milhões ainda carecem de muita informação, insumos modernos e apoio creditício. Muitos são meros assentados ou posseiros. A desigualdade no campo é gritante, mas não precisava ser desse jeito.

O recado do livro de Wedekin é claro. O futuro exigirá: 1) menos desigualdade, 2) mais sustentabilidade, 3) mais e melhor logística, 4) muito mais pesquisa aplicada (agricultura de precisão) e, por fim, 5) mais diplomacia brasileira via agronegócio.

Palavra final: a agricultura vibrante deu ao Brasil as folgadas reservas em dólar que impedem a transmissão das bobagens da política nacional para dentro do sistema interno de preços. Ou seja, sem querer, o sucesso do agronegócio virou guardião maior da estabilidade institucional e da Constituição de 88. Curioso não?

*O economista Paulo Rabello de Castro escreve quinzenalmente  às sextas-feiras
 

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