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O Brasil de Pedro e João, há 200 anos, a Jair e Luiz, nas eleições

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Brasil, Portugal e Inglaterra têm tido intensa relação diplomática e comercial nos últimos dois séculos e tal. Quando partiu a frota portuguesa de Lisboa rumo ao Brasil, em fuga pelo ataque iminente das tropas de Napoleão, foi a Marinha britânica que escudou parte da travessia do regente Dom João e sua corte. Com a partida dos nobres portugueses para o Rio de Janeiro, em 1807, começavam os capítulos da saga que nos levaria, apenas quinze anos depois, à proclamação da independência do Brasil.  As cortes de Lisboa logo perceberam que o tamanho político do jovem Brasil já não cabia no balaio das ordenações lusitanas.





Ao tentarem o retorno de Pedro a Lisboa, os parlamentares portugueses insuflaram o fogo nacionalista que crepitava debaixo da cordialidade natural dos brasileiros. O resto bem se sabe: Pedro não partiu; ficou e proclamou a independência, com o empurrão de uma princesa austríaca, Dona Leopoldina, que assinara o decreto da separação do Brasil cinco dias antes do 7 de setembro de 1822.

Tudo se passou muito rápido desde então. E também muito devagar, dependendo de como se interpretem os fatos desses 200 anos de autodeterminação política. Rápido foi o crescimento econômico do Brasil até 1979, como foi também muito eficiente nossa diplomacia com os vizinhos. Alcançamos ampla expansão territorial e humana. A Nação brasileira soube conservar sua integridade política, contra várias tentativas de fragmentação, que teria nos deixado numa condição de arquipélago de países de mediana potência, como o resto das Américas do Sul e Central.

Contudo, o Brasil tem sido vagaroso em avançar no plano das liberdades. Demorou demais a abolir a escravatura, que José Bonifácio já tentara inserir como decisão da primeira assembleia constituinte em 1823. E o aís demorou a avançar no plano educacional e industrial, pela demora na criação de universidades e centros científicos e artísticos.



´Foi preciso uma Semana de Arte Moderna, em 1922, para despertar nos brasileiros a noção de “livre manifestação”, algo que buscamos como identidade nacional até hoje, seja na música, na arquitetura ou no futebol. O avanço tem sido penoso e lento quando se fala em educar, cuidar da saúde e garantir a segurança do povo. Mais difícil ainda tem sido a tarefa de organizar a economia, que não se estrutura para dar ao povo acesso fácil às riquezas produzidas por todos, mas só apropriadas por poucos.

Qual o balanço desses primeiros 200 anos? Certamente extraordinário, de tão positivo que foi, nos primeiros cem anos de aprendizado do país como nação livre. Da monarquia, ainda vigente na Inglaterra, evoluímos ao conceito de República, ávidos por alcançar mais liberdades e participação política, mormente pelas “maiorias ocultas”, como as mulheres, os negros, os imigrantes. De 1922, do primeiro centenário, até os dias de hoje, o Brasil realizou uma trajetória estranha, em corcova. Primeiro, acelerou sua expansão econômica e social por cerca de 60 anos até 1979.

Em seguida, inclinou-se e murchou, envergado por intensa confusão de identidade, nos últimos 40 anos. Para quem tem vivido esse tempo de decadência de propósitos no seu prazo individual de vida, um enorme desperdício aconteceu desde então. Brasileiros em penca sonham recomeçar suas vidas noutro lugar. Portugal? Inglaterra? Parecem hoje boas opções para quem já não enxerga que “o Brasil tem jeito”.



A fórmula da reconquista do sonho da independência não é tão complicada. A autodeterminação dos brasileiros tem que ser praticada desde a escolha de seus representantes. O formalismo eleitoral dos TREs e TSE, a sofisticação das urnas eletrônicas, todo esse aparato moderno contrasta com o arcaísmo dos partidos e de suas propagandas eleitorais, a falta de representatividade real numa democracia de fachada. Isso precisa mudar pois já demora demais. Como precisa mudar a relação colonial do Estado com seus “súditos”, alcançados por tributos múltiplos e exorbitantes, como são odiosos os milhares de mecanismos de “perdão tributário” criados pelos poderosos para manter o sistema de tolerâncias e corrupções recíprocas que estabilizam o sistema político e legitimam a expropriação financeira da maioria.

Nada há de mais contra-cultural e anti-evolutivo do que a disputa travada pelos principais candidatos a presidente para ver qual deles promete mais auxílios e vantagens a uma população excluída do seu direito essencial - o da gestão eficiente dos recursos públicos - que dispensaria qualquer outra promessa ou favor de mandatários facciosos.

A novela está longe de terminar para nosso coletivo Brasil. Muito podemos avançar – e bem rápido – nesse início do novo centenário, se pudermos aprovar um texto constitucional revisado, que coloque nossa Carta em linha com um padrão federativo, eleitoral, tributário e administrativo compatível com a estatura dos propósitos dos fundadores desta Nação. A Inglaterra de Elizabeth II, com sua compostura e amor ao trabalho, teria algo a nos ensinar sobre como evoluir nos anos à frente.