Jornal Estado de Minas

RETOMADA

Economia brasileira tem espaço para crescer em 2023

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem insistido, nos últimos dias, que o Brasil é o país que, na comparação mundial, saiu na frente no combate à inflação ao elevar juros em mais de 10 pontos percentuais desde meados do ano passado. Essa reação “antecipada” à crise inflacionária é o que nos teria dado, agora, a chance de também avançar na direção da retomada da economia, como aparenta dar sinais o mercado de emprego no Brasil. São, de fato, boas notícias nesse findar da gestão do presidente Bolsonaro.



O cenário interno está menos carregado de ameaças ao cidadão comum, que amargou, desde 2020, a violência da COVID-19 agravada por desemprego em massa e fechamento de milhares de negócios. O governo tem tomado várias medidas em sequência para estimular o ambiente econômico – mais linhas de crédito, antecipação de 13º, redução de tributos sobre energia e combustíveis, reduções de IPI e, sobretudo, ampliação significativa de pagamentos assistenciais, como o Auxílio Brasil. O impacto cumulativo dessa massa adicional de recursos transferida pelo governo para o mercado tem impacto não inferior a aumentar em 10% a massa salarial total do país. O reflexo é sentido no consumo e na melhoria parcial das avaliações de opinião pública sobre a aprovação ao governo.


 
A inflação deu uma trégua no Brasil, permitindo ao Banco Central não aumentar os juros além do já gravoso patamar de 13,75%. Nos EUA, essa briga contra a inflação está apenas começando, com recentes altas de juros, tanto lá como na Europa e noutros países emergentes. Nesse sentido, o Brasil largou na frente e, sem surpresa, de modo muito mais agressivo, pois colocou o patamar de juros numa altura nem cogitada por outros bancos centrais. Somos os campeões de juros altos há muito tempo. É de se esperar, portanto, que a economia brasileira, embora debilitada por altos custos financeiros e pobreza disseminada, venha a abrir espaço para uma retomada mais vigorosa de empregos e negócios no próximo ano. Como já assinalei nesta coluna antes, nunca foi tão fácil, como agora, consertar o rumo do Brasil em sua gestão econômica.
 
Há notáveis semelhanças entre a situação atual e aquela por que passamos na virada de 2002 para 2003. A passagem de 2022 para 2023 está com a mesma cara de 20 anos atrás. E, com algumas mudanças, os personagens políticos se repetem. Em 2002, chegamos ao fim do ano com taxa de juros também elevadíssima (26%) e desemprego muito alto, o real desvalorizado frente ao dólar e o receio do que a mudança de rumo na política (de FHC para Lula) poderia trazer mais turbulência à economia já combalida. O ano atual, 2022, se parece bastante com as condições do distante 2002.



A equipe econômica de então se desdobrou para domar os efeitos de uma crise externa – após anos de bonança – e obrigou o país a tomar remédios amargos. Os resultados demoraram a aparecer e o candidato da situação, o competente José Serra, perdeu para Lula, que assumiu em janeiro de 2003. O cenário de hoje não é muito distante do de então. Havia, na época, outros nomes de valor na disputa, como Ciro Gomes, de novo se apresentando no pleito dos próximos dias.
 
O que aconteceu a partir do início de 2003 pode voltar a ocorrer na economia de 2023 em di- ante. O Brasil tem crescido muito abaixo do seu potencial. E hoje, diferentemente de 20 anos atrás, o Banco Central tem reservas volumosas e muito mais conhecimento para lidar com a inflação. No plano das finanças estaduais, a vantagem de hoje sobre 2002 é escandalosa: diria que a totalidade dos estados brasileiros só precisa de um acerto financeiro para iniciar uma era de grande prosperidade. Há espaço para investimentos enormes em infraestrutura e o Brasil de hoje tem uma matriz energética de dar inveja por seu grau de diversificação e potencial de avanço em segmentos “verdes”. E, tal como duas décadas passadas, as coisas boas e alvissareiras continuam escondidas debaixo de um entulho de crendices, invencionices e chatices do horário político mais vazio e patético da televisão mundial.
 
Não importa, por isso, que o Brasil saia na frente. A questão continua sendo como CHEGAR na frente. Não basta largar bem se a gente não conhece direito qual o caminho a percorrer em seguida. Nossa sorte é que, mais uma vez, o futuro próximo se apresenta favorável para o Brasil. O grande desafio segue sendo o de encontrar lideranças que regurgitem menos e aproveitem mais o potencial da hora presente. Uma boa votação para todos.

*Paulo Rabello é economista e escritor. Quer comentar ou republicar? rabellodecastro@gmail.com