Vamos lembrar alguns desses fatores: 1) o orçamento fiscal muito apertado para 2023; 2) o “atraso” em reajustes de combustíveis e outras tarifas; 3) a piora do cenário externo, convulsionado pela escalada do conflito na Ucrânia; 4) a alta dos juros externos e ameaça de recessão em escala mundial; 5) a desorganização de várias cadeias de suprimento industrial. Somem-se a esses, como problemas crônicos - e graves - da nossa realidade brasileira, o excesso de endividamento das famílias, a insegurança alimentar de milhões de pessoas, o caos silencioso na saúde pública e os impasses na infraestrutura do País.
Ao encarar essa pauta-bomba de problemas, mesmo um presidente desmiolado ou deslumbrado terá seu momento de circunspecção e moderação. Os desafios são grandes demais para bravatas de candidato recém-eleito.
Essa estabilidade institucional não é vantagem desprezível num país com extenso currículo de desordem financeira no passado. Para ajudar na tarefa, o próximo presidente vai ter que se concentrar em revisar o lado do orçamento fiscal e propor uma nova fórmula para melhorar a execução dos investimentos dentro do teto geral de gastos.
Na campanha, as promessas feitas excederam as possibilidades da arrecadação efetiva. Algumas dessas promessas serão sacrificadas. Isso exigirá que o presidente sente na mesa com os governadores dos Estados, todos de olho no objetivo comum de não arruinar suas biografias políticas com uma gestão pálida e de poucos investimentos.
São 27 candidatos a prosseguir em suas carreiras políticas, inclusive de olho numa futura chance presidencial. Tudo conspira a favor de uma espécie de novo pacto federativo que, de algum modo, mesmo oblíquo, já começou a ser costurado quando se passou a decisão de alinhar o ICMS dos combustíveis, energia e comunicações para o nível-padrão da maioria das demais incidências.
É a chance que o próximo presidente terá de avançar numa proposta de reforma tributária que simplifique e organize melhor a repartição das receitas entre os três níveis de poder (federal, estadual e municipal) além de rever os custos trabalhistas.
É a revisão da planilha de cálculo das dívidas estaduais, hoje oneradas por cláusulas leoninas impostas aos entes federados desde o período FHC. Tal revisão – que faz todo sentido – deve ser atrelada a um plano de aceleração de investimentos (PAI) aplicável a todos os Estados, capaz de deflagrar uma onda positiva de investimentos em áreas de grande demanda social, com o saneamento, resíduos sólidos, ambiente, energias renováveis e logística.
Lembremos que, enquanto o mandatário reflete sobre como conduzir esse desafio no plano doméstico, o cenário irá piorando no plano externo. Portanto, esse cidadão presidente não terá tempo a perder, muito menos ficar inventando modas. Quem quer que seja o ungido pelas urnas, é o cenário dessas múltiplas demandas que ditará a vida do presidente e de sua equipe. Nunca o inverso.