Para muitos estudiosos da geopolítica e de seus efeitos sobre a economia mundial, as mudanças que deverão ocorrer nos próximos anos poderão começar antes do esperado. Não mais depois de 2025, mas a partir do ano que vem.
Desde já, é preciso realçar que os primeiros capítulos das mudanças estruturais que estariam a caminho tratam de uma ampla reestruturação financeira internacional. Depois dela, virá um novo cenário comercial.
Desde já, é preciso realçar que os primeiros capítulos das mudanças estruturais que estariam a caminho tratam de uma ampla reestruturação financeira internacional. Depois dela, virá um novo cenário comercial.
As pessoas menos acostumadas ao assunto poderão ser induzidas a achar que essas mudanças terão sido provocadas pela pandemia da COVID-19.
Na verdade, elas já vinham amadurecendo desde a crise financeira mundial de 2008, quando a maioria dos países viu seus governos entulharem os mercados de dinheiro, gerando um endividamento até hoje sem solução. O que o novo coronavírus fez foi acelerar o processo de reestruturação geral.
Na verdade, elas já vinham amadurecendo desde a crise financeira mundial de 2008, quando a maioria dos países viu seus governos entulharem os mercados de dinheiro, gerando um endividamento até hoje sem solução. O que o novo coronavírus fez foi acelerar o processo de reestruturação geral.
Esse não será o primeiro ciclo de mudanças estruturais da economia mundial. No século passado, marcado por várias crises e duas guerras mundiais, também ocorreram situações que colocaram o capitalismo em risco e exigiram medidas drásticas.
Valem ser lembrados os acordos de Breton Woods logo depois da 2ª Guerra e o fim da paridade dólar-ouro em 1971. Os primeiros geraram esperanças, e o segundo, abalos.
Valem ser lembrados os acordos de Breton Woods logo depois da 2ª Guerra e o fim da paridade dólar-ouro em 1971. Os primeiros geraram esperanças, e o segundo, abalos.
Hoje, já se prevê o fim da pandemia com o avanço das vacinas, mas é ainda impossível antever o quanto serão antecipadas as mudanças na economia mundial, quão profundas elas serão e como elas nos afetarão.
Certo mesmo é que quase toda crise mundial afeta mais gravemente os países em situação de desarranjo fiscal, como é o caso do Brasil.
Certo mesmo é que quase toda crise mundial afeta mais gravemente os países em situação de desarranjo fiscal, como é o caso do Brasil.
Portanto, mais do que nunca o Brasil precisa retomar o esforço de recuperação do equilíbrio fiscal, trabalho que foi interrompido pelos gastos excepcionais com a pandemia. A perspectiva de pressões externas antecipadas para 2021 torna isso uma prioridade absoluta.
ROMBO MAIOR
E o pior é que, em razão desses gastos excepcionais, o rombo nas contas públicas ficou mais largo e mais fundo. Na semana passada, o Ministério da Economia divulgou o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do governo federal relativo ao quinto bimestre.
O documento inclui uma projeção para o fim do exercício, dado muito aguardado pelos analistas do mercado financeiro. O déficit primário (não inclui juros da dívida) do governo central deverá chegar a R$ 844,6 bilhões em 31 dezembro.
O documento inclui uma projeção para o fim do exercício, dado muito aguardado pelos analistas do mercado financeiro. O déficit primário (não inclui juros da dívida) do governo central deverá chegar a R$ 844,6 bilhões em 31 dezembro.
Houve até uma boa redução de R$16,4 bilhões em relação ao rombo previsto no relatório anterior, graças a uma melhora na arrecadação de tributos e uma leve queda nas despesas obrigatórias. Mas, mesmo assim, trata-se de um dos maiores déficits primários da história recente do país, equivalente a mais da metade (57,7%) de toda receita prevista de R$ 1,463 trilhão para todo o exercício.
Ou seja, dentro de 37 dias, o governo vai fechar 2020 com um déficit sete vezes maior do que o de R$ 124,1 bilhões do início do ano e que já era considerado um grande desafio.
Portanto, mesmo que nada ruim ocorra no ano que vem, a tarefa será árdua. Por mais rápida que venha a ser a recuperação da economia ao longo de 2021, não parece razoável esperar um crescimento explosivo das receitas tributárias.
Portanto, mesmo que nada ruim ocorra no ano que vem, a tarefa será árdua. Por mais rápida que venha a ser a recuperação da economia ao longo de 2021, não parece razoável esperar um crescimento explosivo das receitas tributárias.
O que pode e precisa ser feito é retomar a agenda de reformas, de concessões e de privatizações que está parada no Congresso.
Projetos que vão na direção de diminuir o custo do Estado, manter o teto de gastos, estimular o investimento privado na economia e gerar dinheiro rápido e direto no caixa do Tesouro estão na mesma geladeira das reformas tributária e do pacto federativo.
Projetos que vão na direção de diminuir o custo do Estado, manter o teto de gastos, estimular o investimento privado na economia e gerar dinheiro rápido e direto no caixa do Tesouro estão na mesma geladeira das reformas tributária e do pacto federativo.
SABOTAGEM
Culpar a pandemia pela falta de avanço nas reformas é ocultar o tamanho e a persistência da sabotagem que têm sofrido no Congresso as iniciativas do Executivo.
Não há como negar que a economia brasileira nunca esteve tão algemada pela política como atualmente. Para se ter uma ideia do impacto dessa agenda, apenas a reforma previdenciária já rendeu economia de R$ 8,5 bilhões em seu primeiro ano, superando todas as expectativas, que não iam além de R$ 3,5 bilhões.
Não há como negar que a economia brasileira nunca esteve tão algemada pela política como atualmente. Para se ter uma ideia do impacto dessa agenda, apenas a reforma previdenciária já rendeu economia de R$ 8,5 bilhões em seu primeiro ano, superando todas as expectativas, que não iam além de R$ 3,5 bilhões.
Até agora, só foi possível fazer poucos leilões longe das amarras impostas por políticos menos interessados no país do que em emparedar o governo.
Mas os que foram realizados demonstraram a disposição de investidores nacionais e estrangeiros de participar da ampliação e modernização de nossa infraestrutura de transportes, incluindo ferrovias e cabotagem.
Mas os que foram realizados demonstraram a disposição de investidores nacionais e estrangeiros de participar da ampliação e modernização de nossa infraestrutura de transportes, incluindo ferrovias e cabotagem.
É hora, então, de encarar o mundo político com realismo. Há neles bolsões de boa vontade, gente disposta ao diálogo construtivo e transparente, parlamentares que em nada têm se beneficiado do engavetamento de projetos, mal que só prejudica o país.
São muitos os parlamentares que nada têm a ver com as recentes práticas proteladoras da cúpula do Legislativo. Eles podem e devem ser chamados ao protagonismo. É hora de deixar a política com os políticos de boa vontade e que podem ajudar o Brasil a se livrar das amarras do atraso, antes que seja tarde demais.